quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Tudo novo ou tudo de novo?

 

Quando a gente menos esperava, dezembro chegou. Foi-se embora mais um ano, passou rápido não é? Agora temos um ano a menos de vida. Envelhecemos ou crescemos no ano que passou?

A mídia e o marketing nos induzem a crer que dezembro é o mês de preparação que antecede o recomeço, então fazemos promessas, focamos em festas, compras, comemorações.

Não é estranho? Passamos quase todos os dias do ano viciados na rotina, consumindo nosso precioso tempo pagando contas, fazendo telefonemas, procurando lugar para estacionar, esperando em filas, assistindo filmes não muito interessantes no sofá, tudo isso na espera da troca dos algarismos do final do ano pra então renovarmos nossa esperança em um mundo melhor e uma mudança em nossas vidas.

Ano novo, fazer tudo novo ou tudo de novo?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Meus pássaros não cabem mais em suas gaiolas


“Meus pássaros não cabem mais em suas gaiolas”, assim foi a mensagem enviada por João à Maria terminando um relacionamento de cinco anos. Uma metáfora curta sem maiores explicações ou sentimentos. Depois disso, ela foi bloqueada nos aplicativos para evitar qualquer tipo de aproximação.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

AMOR OU DELINQUÊNCIA?


Romperam um namoro de quatro anos, cada um dizendo que não agüentava mais, que o término seria uma libertação para ambos e que a culpa não era de nenhum dos dois. Nada de ofensas, cobranças, reclamações ou lágrimas. Educadamente deram-se um último abraço e reciprocamente desejaram-se boa sorte.

Passados dois meses da separação, João resolveu atormentar Maria enviando-lhe uma mensagem, a primeira e única desde o último encontro.

“Sonhei contigo esta noite Maria. Estavas te preparando para o primeiro encontro depois que nos separamos. Era com o primo de tua amiga Juliana, ela jurava que vocês combinavam e insistiu na apresentação. Estavas agoniada, não sabias que roupa usar, andavas de um lado para outro. Eu estava sentado no sofá da sala te observando, mas não conseguias me ver.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Lágrimas de crocodilo

 

Não é preciso haver bombas, tiros, facadas, derramamento de sangue para matar alguém. Já me mataram várias vezes, mas ninguém soube, pois não havia sangue, apenas lágrimas.

Cada lágrima ensinou-me uma verdade. Com muita dor, desolamento e sofrimento, observo os últimos acontecimentos no Oriente Médio com litros de lágrimas nos olhos. E a dor não é causada pelas lágrimas. Não são as lágrimas que doem, o que dói, aflige e corrói a alma são os motivos que as fazem cair.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Como marcar território

 

O que é “marcar território”? São mensagens diretas ou subliminares mostrando o comprometimento, empenho e até certo domínio sobre  determinado ambiente ou pessoa.

Cada vez mais as pessoas estão inventando novas técnicas e se tornando mais ousadas em utilizá-las. Vou mostrar algumas, mas a intenção não é de ensino e aprendizado, descrevo apenas como ilustração para o que virá na sequência.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Navegar é preciso, amar não é preciso

 

Quando cursava a Faculdade de Medicina, era comum sentir os sintomas das doenças que estava estudando nos livros e me assustar pensando estar contraindo a enfermidade. Tão logo aprendia que o enfarto do coração podia apresentar como primeiro sinal um formigamento no braço esquerdo, qualquer coceira que se apresentasse no membro, já poderia ser o inicio do fim.

Assim, fui sendo acometido fictícia e gradualmente de hepatite, diabetes, gangrena, apendicite, hérnia, úlcera, praticamente quase todas as páginas dos livros de patologia, com exceção das moléstias das disciplinas de ginecologia e obstetrícia. Somatização clássica.  Na medida em que fui adquirindo mais conhecimento, os sintomas desapareceram sem tratamento algum. A sapiência e a prática foram os remédios milagrosos.

domingo, 13 de agosto de 2023

Encontro

 

O contrário de perder é encontrar. Quando alguém se perde no mato precisa encontrar a saída. Se perder a carteira, é bom fazer uma reza pra encontrar. Quando se está perdido em um pensamento, um problema, uma adversidade ou uma agrura qualquer, procura-se encontrar a solução para resolver a aflição. Quando você marca um encontro com alguém, esta procurando uma saída, um desenlace ou simplesmente pretende ficar frente a frente, se deparar e ver no que vai dar?

domingo, 18 de junho de 2023

Pessoas & Cidades


Como se conhece uma cidade? Existem vários métodos. Alguns turistas preferem aquelas excursões onde visitam cinco países em dez dias. Entram em um ônibus confortável com ar refrigerado, guia local, cafezinho a bordo e fazem um city tour de três horas. Tiram fotos, selfies, compram lembrancinhas nos principais pontos turísticos e postam em suas redes sociais.

Outros optam por permanecer mais tempo na cidade, visitam parques, museus, restaurantes, conversam com pessoas. Dependendo da duração da estadia, aprendem a se locomover de metrô ou ônibus, fazem compras em lugares mais baratos,  alimentam-se em restaurantes não turísticos, não erram tantos caminhos e até mesmo formam amizades genuínas com cidadãos locais. Começam a ter intimidade com a cidade, salvando-se do isolamento dos forasteiros.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Só por hoje e Para sempre


Era uma vez uma cidade imaginária, onde vivia um casal imaginário.    Amavam-se, eram felizes e tiveram filhos gêmeos. Dois meninos idênticos. Receberam nomes estranhos para a época. Um chamava-se “Só por hoje”, o outro “Para Sempre”. “Só por hoje” era um pouquinho mais velho, nascera minutos antes.

Tiveram uma infância relativamente normal, repleta de carinho, amor e histórias infantis. Deliciavam-se escutando o conto da cigarra e da formiga, pedindo para a mãe repetir até cansar.

Trata-se de uma fábula comparando a postura dos dois animais em relação ao futuro. Durante o verão, a cigarra queria aproveitar a vida e passava os dias cantando, enquanto a formiga trabalhava sem parar, reunindo alimentos para sobreviver no inverno. Quando chegam os dias de frio e chuva, a cigarra esfomeada não tem o que comer e recorre à formiga para partilhar comida.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Expectativas causam lágrimas

 

Não me importa sua idade, seu peso, sua formação acadêmica, sua beleza, sua profissão.

Não preciso de sua conta bancária, seus títulos, sua cultura, sua casa, seu carro.

Não quero saber de seu passado, suas ex-namoradas, suas viagens,  suas confusões.

Não precisa me contar sobre sua saúde, seu relacionamento com os pais, irmãos e filhos.

terça-feira, 25 de abril de 2023

Idioma dos olhos

Aprendi com uma fotógrafa que para demonstrar felicidade em uma foto não é preciso sorrir com a boca, são os olhos que transmitem o estado de humor. Quantas vezes você já viu aquilo que chamamos de “sorriso amarelo”? Boca sorrindo e olhos chorando, denunciando o estado de espírito em sofrimento.  Quando uma pessoa está bem, seus olhos transmitem essa energia positiva que se projeta direto na foto. Não há como enganar.

Aprendi com meu neto Bernardo, que agora completou um ano de idade, que a boca também não é necessária para ser entendido, os olhos conseguem dizer quase tudo.

Quando brinco com ele e faço uma bolha de sabão, na tentativa de agarrá-la com as mãos, invariavelmente estoura. Ele me encara e seus olhos perguntam “onde foi parar a bola”? Ainda não tem capacidade de raciocínio para entender a fragilidade de uma bolha de sabão, o que ele quer mesmo saber é onde se meteu a tal bola que estava bem à sua frente, diante dos olhos.

terça-feira, 21 de março de 2023

Deslocamento longo

Deslocamento longo pode ser considerado sinônimo de saudade ou lembrança? Pergunta de um aluno durante aula sobre submodos no curso regular de formação em Filosofia Clínica.

Em princípio não, responde o professor, mas em filosofia tudo pode questionado, então vamos à discussão.

Deslocamento longo é um submodo utilizado em determinados contextos após avaliação da Estrutura de Pensamento do partilhante  e sob critérios bem definidos, saudade é um sentimento e lembrança é algo que fica registrado na memória como resultado de experiências vividas.  

Chamamos de deslocamento a habilidade de nos transportar, seja no tempo ou no espaço. Existem dois tipos de deslocamento, curto e longo.

Deslocamento curto acontece quando voltamos nossa atenção para algo que está ao alcance de nossos sentidos. Escutar o barulho dos carros na rua, sentir o cheiro da grama molhada pela chuva. A atenção fica voltada para fora do indivíduo e o alvo tem propriedades sensoriais que se conectam através dos sentidos.

Deslocamento longo já é diferente, pois transporta a mente humana para algo que está fora do alcance dos sentidos, entrando no âmbito das abstrações internas. Pode-se tanto retornar ao passado como projetar o futuro, possibilitando ao homem ir além dos limites de seu corpo físico. Quanto menos conectado às sensações, maiores as possibilidades de abstrações.

No sentido das abstrações, a saudade apresenta semelhança com deslocamento longo. Tanto pode ser um amor, um lugar ou um momento do passado que nos machuca no presente, como pode ter o efeito de uma felicidade retardada. Uma ausência que insiste em ficar ao nosso lado. Em alguns casos a saudade é tão grande que já nem é mais sentimento, a pessoa é a própria saudade, que aperta e não solta mais.

Vive para encontrar os olhos da pessoa amada em cada improvável esquina, ou retornar a algum endereço que nem mais existe. Quando a saudade bate, tanto pode doer como confortar, pois é um modo eficaz de enxergar o quanto se foi feliz no passado, funcionando como uma dívida pelas bênçãos e amor recebidos e sendo paga em longas prestações.

Nesta altura da explicação, mais uma vez o aluno interrompe o mestre argumentando que é possível haver lembranças boas ou ruins do passado, assim como pode-se utilizar deslocamento longo abstraindo e transportando pessoas no tempo e no espaço para situações agradáveis ou desagradáveis, no entanto com a saudade existia uma ambivalência.

Bom e ruim ao mesmo tempo, causando confusão, imprecisão e obscuridade na abstração. Sorrisos e lágrimas concomitantes, pois mesmo amores e situações maravilhosas do passado podem machucar e ser dolorosos por sua falta no presente. A impossibilidade da volta não é um impedimento para o desejo, mesmo que frustro.

Embora sabendo que não se deve universalizar, o aluno termina sua explanação com duas perguntas. Saudade sempre é um sentimento ambivalente de algo bom que não vai embora mesmo que sua presença sensorial não seja possível? Pode-se ter saudade de algo ruim?

O tempo corre depressa quando a conversa é boa. Já estava quase no final da aula, a discussão estava animada, provavelmente ainda seria longa. O professor olhou para seu relógio e encerrou a aula como se estivesse em uma consulta terapêutica. Recomendou uma literatura, solicitou que exercitassem deslocamentos longos nos próximos dias e combinou que na semana seguinte prosseguiriam. Antes de terminar deixou duas citações como inspiração:

Saudade é quando a memória tem ciúmes da vida.

Crime perfeito é matar a saudade.

Artigo publicado na Revista da Casa da Filosofia Clinica, Edição outono/março 2023

 


quarta-feira, 1 de março de 2023

Velho, eu?

Velho, não.

Entardecido, talvez

Antigo, sim

 

Me tornei antigo

Porque a vida,

Tantas vezes, se demorou.

E eu a esperei

Como um rio aguarda a cheia

Mia Couto

 

Envelhecer faz parte da vida, é um processo de mudança pelo qual todos os seres passam. Vemos o envelhecimento em quase tudo ao nosso redor. Cães e gatos em nossas casas, pássaros no céu, peixes no mar, árvores nas florestas, conhecidos em asilos e nós mesmos em frente ao espelho do banheiro. Esta pessoa que enxergo no espelho, de cara lavada e sem nenhuma maquiagem é a pessoa com quem me deito todas as noites. E gosto dela cada vez mais.

Alguns levam a idade demasiado a sério e utilizam as rugas e os cabelos grisalhos como esconderijo para se paralisarem em suas memórias e queixas. Comigo não é assim, ainda sou um menino que já viveu setenta anos ou mais.

O numero que aparece no documento de identidade reflete a idade do corpo, não da alma. Nem do conhecimento, sequer dos sonhos, tampouco das emoções ou dos afetos. O corpo parte na frente da alma em termos de envelhecimento. Alma não envelhece, não se restringe a tempo ou números. Permanece com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. Alma é atemporal.

A idade é engraçada, tira-nos por fora o que nos dá por dentro. Vamos mudando a pele e gradativamente perdendo massa muscular, estatura, lábios e cabelos. No entanto ficamos muito mais sensíveis interiormente.

Então acordamos pela manha, olhamos a imagem no espelho e nos espantamos, não acreditamos que aquelas almas-criança com brilhos nos olhos, que dormiram sonhando com a beleza dos reinos encantados são os corpos envelhecidos que agora estão a nossa frente encarando-nos. Aqueles velhos não somos nós, alguma coisa está errada. Um paradoxo da vida.

Restam-nos duas escolhas: aceitar a realidade e se adaptar ou reformar o corpo para que se pareça com aquilo que a alma sente. A maioria das pessoas escolhe a última opção. Comigo não foi diferente, mas a vida me mostrou que ela segue acontecendo nos detalhes, nos desvios e nas alterações de rota que podem nos surpreender.

A mesma sociedade que busca a longevidade gera o horror ao envelhecimento. Assustei-me quando surgiram os primeiros fios de cabelo branco, era um sinal evidente de velhice. Estava enganado. Comecei a envelhecer mesmo só no momento em que me preocupei em escondê-los. Rejuvenesci quando relaxei e deixei os grisalhos crescerem natural e desalinhadamente por cima das orelhas.

Pensava que depois de ficar viúvo, a vida não seria mais a mesma e jamais seria feliz de novo. Sobrevivia de saudade, sofrimento e recordações. Por fora já havia desistido, mas por dentro ainda havia uma desculpa para recomeçar. Um dia Juliana surgiu e me devolveu o amor e a juventude. Dizem que o homem tem a idade da mulher que está a seu lado. E vice versa. Segundas chances são reais.

Achava que ser avô seria o atestado incontestável de velhice. Com o nascimento do primeiro neto, ganhei um novo motivo para sorrir e me emocionar. Posso até dizer que nasci de novo e voltei a infância em viagem de primeira classe. Brincamos quase todos os dias na pracinha do bairro e me renovo a cada castelo que construímos na areia.

Achava-me muito velho para mexer nestas coisas de computador e internet. Meus olhos não davam conta daquelas letras tão pequenas. Ao envelhecer a visão piora, porém podemos enxergar mais longe. Um par de óculos novos resolveu o problema. Atualmente tenho amigos de todas as idades em quase todas as mídias sociais e me atrevo a postar meus escritos sem receio de ser chamado de velho gagá.

Hoje sei que não é um número que vai dizer se sou velho ou novo demais. É minha mente quem decide a idade que tenho. O envelhecimento da alma depende do consentimento de quem a possui. Não conto mais a idade em anos, contabilizo momentos, faço valer cada segundo. A eternidade é feita de agoras e é tão relativa que às vezes dura o tempo de um abraço, o que vale é a intensidade do instante. Viver é saltar no escuro do não saber. Não quero viver sem arrependimentos, prefiro escolher o arrependimento certo.

O sonho da humanidade sempre foi a imortalidade. Em seu poema épico Odisséia, Homero narra as aventuras do herói Ulisses tentando voltar para casa após dez anos lutando na Guerra de Tróia. Quando seu barco naufraga, só ele sobrevive. Foi parar na ilha de Ogigia e lá encontrou a bela ninfa Calipso, que o seduziu oferecendo dois presentes para que ficasse com ela para sempre: imortalidade e eterna juventude. Quem de nós resistiria em aceitar uma oferta dessa ordem?

Temos medo de morrer porque temos medo de não ter vivido suficientemente. Ulisses se encantou com a idéia de vencer a morte e sem muito pensar, aceitou a proposta. Depois de um tempo, passou a chorar dia após dia junto ao mar. Sonhava em regressar para sua casa, não esquecia sua pátria, sua fiel esposa Penélope, seu filho Telêmaco.  Queria estar de novo com seus amigos, sua família, sua terra. Depois de sete anos preso e amargurado, foi libertado e conseguiu retornar, trocando a eterna juventude pela volta ao lar.

Estamos conseguindo reformar nossos corpos por dentro e por fora. A tecnologia e a medicina possibilitaram retardar o envelhecimento. A expectativa de vida aumenta a cada ano. Num futuro não muito distante, seremos fisicamente saudáveis até os cento e vinte anos. Ou talvez mais. Caberá então a nós, buscarmos o que Ulisses escolheu fazer em sua Odisséia: achar um sentido para a vida que ainda temos pela frente e sermos gratos e felizes.

Um bom cirurgião pode sumir com as incômodas rugas, mas não consegue resgatar o brilho de um olhar perdido na solidão da velhice. Um dia seremos apenas fotos, mas enquanto esse dia não chega, desejo levar  uma vida que me dê saudades e uma velhice que me permita sentir cada uma delas. Quero deixar saudades e não heranças. Nem flor, nem semente, agora quero ser terra fértil que cria, destrói, reconstrói, ensina e engrandece. Meu futuro ainda precisa muito de mim.

Envelhecer é um processo extraordinário onde cada um tem a própria chance de, sem pressa, ir ao encontro daquilo que antes fugia e, quem sabe, se tornar a pessoa que sempre deveria ter sido. Tudo que curamos em nós, protege nossos descendentes.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A verdade nunca mata


Conheci Pedro no hospital. Internou-se com uma forte dor nas costas. Era um homem com seus cinquenta anos de idade, casado, aparentemente sadio. Bem sucedido profissionalmente, praticava esportes, tinha vida regrada e não fazia uso de medicamento algum. Aquela dor não parecia estar relacionada com  mau jeito ou traumatismo. Havia algo de estranho.

Prescrevi alguns analgésicos que aliviaram seu sofrimento, mas era preciso investigar a origem da dor. Depois de alguns exames o diagnóstico parecia ser de um câncer no pâncreas com metástases para a coluna. O prognóstico dessa doença é muito ruim, meses de vida. Era preciso que tanto ele como a família fossem informados.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Existe um depois após o fim


Luisa e Carlos já namoravam há três anos e aparentemente se davam muito bem. Eventualmente discutiam a relação, mas sempre em alto nível, jamais se ofenderam, alteraram a voz ou agrediram-se mutuamente.

Certo dia, Carlos, num ato falho (psicanalistas dizem que não existe), chamou Luisa pelo nome da ex, Ana. A circunstância não vem ao caso, o fato é que não há como passar despercebido ou ignorar. Luisa fez uma cara de espanto, deu um sorriso amarelado, falou uma bobagem qualquer e, ato contínuo, acendeu uma luz vermelha piscante em sua mente.

O que significava aquela mensagem? Seria um ato falho, um deslize, um engano, o primeiro sinal da doença de Alzheimer, uma mensagem subliminar? A luz vermelha piscava cada vez mais forte em busca de respostas.