domingo, 31 de agosto de 2008

CONFISSÕES DO AUTOR

Sabe-se que viver de Direitos Autorais neste país é quase uma utopia. Existe uma lenda urbana contando que escritores sonham em entrar para a Academia Brasileira de Letras pois, ao tornarem-se imortais, escaparão do perigo de “morrer de fome”. Por que tantas pessoas se lançam em aventuras literárias? Talvez o motivo seja semelhante ao que faz garotas bonitas tentarem ser modelos nas passarelas ou meninos acordarem de madrugada e treinarem todo o dia para serem atletas: esperança de chegar ao topo de uma pirâmide altamente competitiva e então ganhar uma fortuna. A realidade mostra que a maioria não consegue e se perde pelo caminho...

Outra razão para se escrever um livro é a crença no velho ditado de que para ser um homem realizado “é preciso ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore”. Seriam estas atitudes o caminho para a imortalidade ou uma demonstração de sentido na vida?

Pensando bem, motivos para escrever deve haver tantos quantos habitantes existam na terra. Gostaria de contar os meus. “Parabéns a Você” não foi o primeiro livro, mas foi minha estréia como autor individual.

Tenho um processo de criação muito egoísta. Escrevo porque é a melhor maneira que encontrei de colocar ordem em meus pensamentos. Escuto pessoas, pesquiso fontes, reflito, escrevo, apago, repenso, e no final das contas, quando consigo transformar pensamentos em palavras escritas, é que me dou por satisfeito. Assim vou tentando entender a vida e o mundo.

A alegria e o prazer de conseguir elaborar uma tese sobre algo que não me era muito claro são tão grandes, que não merecem ficar restritos a minha pessoa. Quero dividir. Quem sabe estas teses possam servir de fonte para que outros façam suas buscas. Por que não?

Assim nascem os artigos. Representam momentos de lucidez, sabedoria, desabafo e até mesmo confusão e loucura. São partes do autor. Com “Parabéns a Você” foi diferente; comecei escrevendo um artigo, me entusiasmei e quando terminei já eram mais de 100 páginas. O livro é como se fosse uma fatia maior. Talvez porque as palavras disponham de um espaço maior, por um capitulo se encaixar no outro, pelo tempo que demanda até ser finalizado, por toda a burocracia que envolve a publicação, o livro consiga espelhar mais intimamente o autor.
Embora o processo criativo e os objetivos sejam os mesmos, quando lanço um artigo tenho a sensação de estar conversando com um amigo, e ainda não sei direito por quê, o livro me passou a sensação de um comprometimento maior. Conseguem perceber, esta dúvida já está me estimulando a pesquisar, conversar e quem sabe, escrever mais um artigo...

O fato é que o livro saiu, está nas livrarias, na internet, e como representa minhas angústias, meus compromissos, é como se estivesse entregando ao público um pedaço meu, bem maior do que estou acostumado a oferecer. Isto acabou gerando certa ansiedade e também uma profunda dor muscular nas costas.

Recebi comentários que desfilaram desde a escolha do título, passando pela capa, cor da capa, dedicatória, tipo de letra, foto da orelha, bibliografia, preço, prefácio até chegar no âmago do conteúdo. Fiquei muito agradecido a todas as colaborações, aprendi bastante, e espero aprender muito mais com outras contribuições que possam surgir estimuladas por este artigo.
Não escrevi o livro pensando na imortalidade, nem para fazer fortuna, tampouco tenho a pretensão de mudar o mundo, passar a imagem de intelectual ou me candidatar a algum cargo. É bem verdade que expus minha face na vitrine ou na prateleira da livraria com todos os riscos que isto possa acarretar, e sei bem porque fiz isto. A emoção de receber o relato de uma situação constrangedora vivenciada por um leitor desconhecido, na qual durante a narrativa conta que lembrou do que leu no livro, e isto fez com que apesar da pressão que estava sofrendo, tivesse forças para fazer o que sabia ser a atitude correta, não tem preço. Mesmo que o livro tivesse somente este único leitor, para mim já seria motivo suficiente para continuar na aventura lúdica de escrever.
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Muitos passos em falso são dados ficando-se parado





Depois que os seres humanos conseguiram ficar eretos e andar sobre duas pernas, o mundo passou a ser visto de outra forma. No inicio, em sinal de respeito, os homens curvavam-se somente para os Deuses, que os protegiam. Mais tarde passaram a se curvar também para tiranos, que se julgando semi-deuses, impunham o respeito e a veneração pela força.

O tempo foi passando e novas alterações posturais surgiram. Músculos, ossos, articulações tiveram que se adaptar à evolução do intelecto. Os homens inventaram a cadeira e então sentaram. Depois veio a roda e passaram a andar sentados. Confortavelmente em uma poltrona, hoje pode-se voar, conversar via internet e até mesmo governar. O homem busca constantemente seu bem estar e uma melhor qualidade de vida.

O habitat humano, sendo essencialmente social, vai exigir relacionamentos, que podem variar da completa rigidez à total flexibilidade. Endurecidos ou flácidos também ficam os músculos, quando reagem à determinadas exigências sociais.

Nossos ancestrais foram forçados a se curvar para tiranos anti-éticos. Hoje, nossa coluna curva-se ao ver desigualdade, corrupção, impunidade, injustiça. Curva-se mais ainda com resignação, impotência, alienação. O corpo vai absorvendo as pressões sociais, os músculos vão retraindo e surgem as escolioses, deformidades, artroses e dores na coluna.

Postura e ética tem tudo a ver. Ética é uma postura de vida que pode moldar a postura corporal, mas em contra-partida, a postura fisica também pode sugerir a visão de mundo de um indivíduo. Rígida em princípios e valores e flexível na forma de analisar e sentir o outro, a ética pode ser metafóricamente comparada a um músculo.

Quando um princípio ético é forçado a ser relaxado, corpo e mente são afetados e passam a gastar mais energia. A pele, que é a nossa primeira roupagem e barreira para o exterior fica tensa, os músculos se contraem e a harmonia postural se desequilibra.

Da mesma forma, quando uma relação se torna rigida, seja com o próprio indivíduo em primeiro plano ou mais adiante com os outros, o sistema imunológico afrouxa as defesas do organismo, facilitando o surgimento de doenças.

Ética relaxada, músculos contraídos. Relacionamento rígido, imunidade frouxa. Crônica ou agudamente, ocorre uma transferência de atitudes ou da falta delas para dentro do organismo e a partir daí, músculos se contraem ou relaxam, hormônios são liberados ou reprimidos. Vale lembrar que o coração também é um músculo. Curvar-se para as exigências sociais, sentir dor, contrair doenças vale a pena? É válido utilizar, mesmo que inconscientemente o corpo como escudo ou reflexo do sofrimento da alma?

Um corpo encouraçado, inflexível, sem oxigênio circulante, não deixa o cérebro pensar, estabelecendo então um ciclo vicioso. O conforto fisico também afeta a capacidade de analisar, sentir, julgar e de ser ético.

Cada ser humano é único em seu corpo e forma de pensar e agir. Não existe corpo nem postura perfeitas. O caminho e o modo de andar são escolhas individuais, porém muitos passos em falso são dados ficando-se parado.

Artigo escrito com colaboração de Luciana Fioravanti - fisioterapeuta, morfoanalista
Leia mais no site : http://www.ildomeyer.com.br/
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