terça-feira, 17 de novembro de 2020

As bolsas e a vida


Suponha que algum laboratório multinacional oferecesse uma pílula revolucionária que lhe daria trinta anos de vida extra, excelentes condições de saúde e nenhum efeito colateral. Você aceitaria imediatamente ou precisaria de algum tempo para refletir sobre este bônus de eternidade? Por que escolheram justamente você para ganhar este presente?  Seus familiares também teriam este direito? Exigiriam algo em troca? O que você faria com estes trinta anos adicionais?

Já que estamos em plena pandemia, temendo a contaminação, a doença e a morte, quem sabe seja o momento adequado para algumas considerações sobre a vida e seu término, afinal, a ameaça de morte pode ser uma boa conselheira, mostrando o contraste com a vida e o que realmente importa para cada um de nós. Quem sabe o medo da morte prove, por fim, ser até  pior que a própria morte. Morrer não é difícil, viver é que é difícil, e tudo o que sabemos até hoje sobre a morte é o que percebemos nos outros, já que não pode ser experimentado em nós mesmos.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Esperando o Covid partir


Estou escrevendo estas linhas preso no isolamento profilático/terapêutico do Coronavirus. Não está sendo fácil ficar trancado entre quatro paredes, sem contato físico social e, pior de tudo, sem saber o que vai acontecer comigo nos próximos dias. Acho que já passei por todas as fases psicológicas deste adoecer recluso. Tomara que sim, pois já estou quase chegando no meu limite de autocontrole. Vou tentar contar minha experiência, assim me sinto útil e, ao mesmo tempo,  exercito um pouco meu cérebro já cansado desta novela estressante  e malquista.

A primeira fase foi a de auto diagnóstico, mas também poderia ser chamada de hipocondríaca.  Comecei a sentir uma tosse. Leve, seca, e nem muito frequente. Logo imaginei que poderia ter me contaminado e fui investigar outros sintomas. Cheirava tudo à minha volta para ver se ainda possuía olfato. Desconfiei que não estava mais sentindo o mesmo gosto pela comida. Suspeitei que estivesse com falta de ar durante a noite. Também comecei a antever que logo iniciaria a febre, acompanhada de dores pelo corpo. Termômetro ao lado da cama, conferia a temperatura de hora em hora.  De concreto mesmo, só uma tosse seca muito insignificante, o que me levou para a segunda fase: negação.

Aquilo não poderia ser uma contaminação, afinal estava me cuidando, tomava todas as precauções, não podia estar acontecendo comigo. Deveria ser um simples resfriado ou garganta seca devida ao calor ou ar condicionado. Ignorei o sintoma e segui com a vida como se nada estivesse acontecendo, evitando pensar na tosse. No entanto, passei para a terceira etapa, a dúvida.