Seria o primeiro dia dos pais em que ele não estaria conosco.
Falecera em setembro passado e sua
ausência física ainda era bastante presente. Estava desconfortável com a
aproximação da data, pois sabia que recordações e lágrimas fariam parte deste
“dia festivo”, e não me sentia animado para comemorar nada, sequer um simples
almoço em família.
Preciso voltar um pouco no tempo. Logo após ele ter nos
deixado, escrevi um artigo dizendo que pais não morrem, ficam invisíveis. Passado
quase um ano, refleti melhor e hoje, penso que pais, mesmo vivos, são
invisíveis na maioria do tempo. Filhos se comportam (ou descomportam) pela vida
afora, seguindo experiências e exemplos observados presencialmente com seus
pais. No entanto, mesmo longe da prole, o que se constitui quase a totalidade
do tempo, pais ainda continuam
introjetados nos filhos, que anseiam a aprovação de suas condutas por parte de seus
progenitores.
É como se os pais estivessem invisíveis observando-os a todo
momento. O menino gazeia aula na escola, mas tem receio que o pai descubra; a
garota volta tarde da balada e entra em casa na ponta dos pés para não ser
percebida; o jovem fuma um baseado e depois escova os dentes para não ser
descoberto; o casal separa e tem receio de contar para os pais. Não querem
desapontá-los. Enfim, pais estão invisíveis no imaginário, no consciente, no
superego, na transgressão, na culpa, na alegria e na tristeza dos filhos.