18 de janeiro de 2020, sábado, 20 horas.
O casal Silvia (47) e Marcos (52) se prepara para ir ao cinema e depois comer uma pizza num restaurante recém-inaugurado. Os filhos André (25) e Laura (21) estão passando o final de semana com amigos na praia. O filme foi ótimo, o jantar maravilhoso, degustaram um ótimo vinho, estão felizes, alegres, apaixonados, deitam na cama e fazem amor sem preocupação com a hora de acordar no outro dia.
12 de dezembro de 2020, sábado, 20 horas, nove meses de pandemia.
Devido ao isolamento social imposto pelo coronavirus, casal e filhos se obrigaram a ficar em casa. Juntos assistem filmes, jogam cartas, montam quebra-cabeças, cozinham, lavam louça, conversam. Tempo é o que não falta para se divertirem na convivência familiar. Olhando assim de longe, podemos ter a impressão de que apesar de todos os problemas trazidos pelo isolamento social, nem tudo é ruim, há uma luz compensatória no fim do túnel. Pais e filhos podem ficar mais tempo juntos, conviver e estreitar seus laços de afetividade.
Só que não. Silvia e Marcos não tem relação sexual há quatro meses e vinte e um dias. Os motivos podem ser os mais variados, mas o que importa aqui é o fato de que agora, apesar de estarem muito mais tempo juntos, deixaram de fazer sexo e pior, nem conversam sobre o assunto. Simplesmente ignoraram, foram deixando esfriar, fazendo de conta que estava tudo bem. Deitam-se na cama, cada um vira para seu lado, desejam boa noite, apagam a luz e dormem (ou fingem que dormem). Nenhum dos dois se queixa, parece que estão conformados com a castidade, cansados de tudo, sobrevivendo, esperando a vacina chegar.