sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Qualidade de vida nunca é perfeita

Férias, verão, sol e mar. Um mês inteirinho na praia. Descanso mais do que merecido para João e Maria, depois de onze meses de trabalho duro, estressante, com inicio às oito da manhã e sem hora pra terminar. Serão trinta dias destinados exclusivamente para relaxar e recuperar energias. O relógio vai ser esquecido no fundo de alguma gaveta e o único compromisso será curtir as férias e voltar ao trabalho com a pele cor de chocolate.

O casal bem que tentou escapar da rotina, mas não tem jeito, ela pegou carona e se estabeleceu na sombra do guarda-sol, pois João e Maria queriam mesmo é se bronzear. Trinta minutos de frente, outros tantos de costas, uma cervejinha pra refrescar, frescobol, outra cervejinha, peixinho frito com gordura trans, mergulho, outra sessão de bronzeamento regada a cerveja, camarão à milanesa, queijo coalho, batatinha frita e pra encerrar picolé de frutas. Cinco horas da tarde, o vento ficou mais forte, é hora de voltar para casa e descansar.

No chuveiro, aquela conferida básica na marca do biquíni pra ver se o dia ensolarado rendeu um tom a mais no bronzeado, depois deitar na rede, no sofá ou na cama e dormir o sono dos justos.Programa para a noite: jantar e balada. No outro dia, repetem-se os parágrafos anteriores com variações apenas na caipirinha, milho verde, castanha de caju, champagne e outras iguarias que vão sendo incorporadas ao veraneio inesquecível.

Qualidade de vida?

Carlos também está de férias. Acorda às 7 horas, yogurte com cereais, filtro solar 50 e sai pra correr durante 90 minutos na beira da praia. Alongamento e exercícios abdominais pós corrida e antes das 10 já está em casa lendo um livro. Meio dia almoça sozinho. Salada, peixe grelhado e suco de laranja preparados por ele mesmo, pois não confia na higiene dos restaurantes, leva uma vida regrada e quase não tem amigos. Navega em sites de relacionamento até o entardecer e sai mais uma vez para uma longa caminhada . Televisão à noite e dormir cedo, pois no outro dia o parágrafo se repete sem alterações alimentares e com novos exercícios. Saúde física perfeita, corpo escultural.

Qualidade de vida?

Gilberto é um trabalhador rural. Pobre, não tem dinheiro para sair de férias. Ao voltar para casa no final do dia senta com a mulher e os filhos no banco de madeira embaixo da árvore e comem juntos uma melancia. Gilberto pega a viola e começa a cantar. Os vizinhos escutam e logo se aproximam trazendo os filhos, chimarrão e a farinha para o jantar. Crianças correndo de um lado para o outro, passarinhos reforçando o canto do violeiro e o carreteiro sem carne esquentando no fogão a lenha. Quando o cansaço bater, todos vão dormir. Não tem cama para todos, que dormem juntos e abraçados.. Amanhã o parágrafo se repete, se não faltar comida.

Qualidade de vida?

Fernando e Sandra são um casal de milionários. Nunca se preocuparam com trabalho nem com dinheiro. Conhecem o mundo inteiro, freqüentam os melhores restaurantes, aparecem nas colunas sociais e não deitam juntos na mesma cama há mais de uma década..

Qualidade de vida?

Nossos personagens, fictícios ou nem tanto, representam uma pequena parcela do cotidiano. Pessoas esclarecidas, inteligentes e esforçadas, cada um com seus problemas, frustrações, prazeres, alegrias e também com a alienação que cada qual escolheu conviver.

Quem somos nós para julgar ou criticar o estilo de vida de João, Maria, Fernando, Sandra, Gilberto ou quem quer que seja?

Existe coisa melhor do que se alienar e sair de si e dos problemas por um tempo? Alguns consideram uma benção conseguir ficar dormindo, dançando, cantando, meditando, correndo, comendo, viajando... esquecidos de si e dos que os rodeiam.

Alienados somos todos nós. Uns se dedicam ao trabalho, outros aos filhos, estudos, moda, política e cada um faz questão de dizer que sua alienação é melhor que a dos outros.

Cada um tem o direito de escolher a alienação que melhor lhe convém. Alienação não é o pior crime realizado por um indivíduo. O verdadeiro grande crime cometido pelo ser humano é saber que é preciso retornar, ou pelo menos variar de alienação, mas ele não o faz. Alienação é um perder-se de si. Qualidade de vida é encontrar-se novamente.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

S @ b e d o r i @

Estamos na era da informação. Ao menos é o que dizem. Em termos práticos, o que isto significa? Temos a possibilidade de saber tudo sobre tudo e sobre todos. O homem sempre quis estar no controle e para isto precisava de informações. O máximo possível. Quanto mais dados, mais poder. . Melhor ainda se estes dados fossem obtidos de forma automática e instantânea. Isto se tornou possível graças ao desenvolvimento de uma ciência, a informática, que estuda o processamento automático da informação através dos computadores.

Na sequência surgiu a internet, um aglomerado mundial de computadores interligados em rede, que permite o acesso às informações e a transferência de dados, transformando-se rapidamente em uma ferramenta de busca. Basta você digitar uma ou mais palavras chave, e em alguns segundos terá a sua disposição um infinito de informações. A internet virou um hábito e praticamente acabou com as fronteiras físicas.

Na verdade, estamos mesmo é na era do acesso à informação. Qualquer indivíduo minimamente alfabetizado, pagando cinco reais pode locar um computador por 30 minutos, navegar por todos os continentes e buscar informações. A informação está ali disponível, aliás, sempre esteve; nós é que não sabíamos como acessá-la. Agora conseguimos. Desenvolvemos as ferramentas, mas ainda não sabemos direito o que fazer com elas...


Acontece que “dados”, referências e até mesmo informações isoladas não tem valor e não dão poder a ninguém. O somatório das informações adquiridas gera o conhecimento, que vai servir de base para aquilo que chamamos de cultura. E o conhecimento está sendo acumulado via livros, computadores e aulas teóricas, sem que as pessoas sequer compreendam ou tenham vivenciado uma experiência prática.

Informações são buscadas, lidas instantaneamente, arquivadas em pastas específicas e eventualmente utilizadas sem critério algum. Relacionamentos virtuais estão se tornando mais excitantes que a vida real. Surge agora uma geração de indivíduos super cultos em assuntos específicos, viciados na internet, aprisionados a um computador e com dificuldades de sair para a rua. A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo, uma vez possuído (Confúcio).


Falta-nos ainda o mais importante: Sabedoria. Para adquirir conhecimento é preciso estudo, mas para adquirir sabedoria é preciso algo mais. Como disse Marcel Proust “a sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode poupar ou fazer por nós”. Navegar na internet é preciso, mas viver também é preciso. Sabedoria nem sempre é raciocinar. Sabedoria é simplificar ao invés de acumular. Sabedoria é sentir, ponderar, ousar, respeitar, amar. Sabedoria é viver sem complicar.
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