Quando assistimos pela primeira vez na televisão, finalzinho de fevereiro de 2020, era tudo muito estranho, quase inacreditável. Pessoas morrendo nas ruas, hospitais lotados, cidade de Wuhan sitiada, ninguém entrava nem saía, todos usando máscaras, proibidos de sair de casa. Médicos apavorados não sabiam o que estava acontecendo. Parecia um filme de ficção científica. Mas isso estava acontecendo na China, lá no fim do mundo, do outro lado do planeta, jamais iria nos atingir. Até mesmo porque a cidade ficou em isolamento, marginalizada, apartada do resto da humanidade. Pra falar a verdade, nem sabíamos se aquilo estava mesmo acontecendo.
Não demorou muito e o drama se espalhou pela Europa. Só que ingenuamente acreditamos que nunca chegaria por aqui. O vírus não atravessaria um oceano e não resistiria ao calor tropical. Lá era inverno, neve, frio; aqui estávamos na quentura do verão, o vírus se afogaria no mar ou derreteria antes de nos atacar. Passaram-se algumas semanas, Espanha e Itália repetindo o drama chinês, foi a hora da Organização Mundial de Saúde decretar que estávamos frente a uma pandemia. Alguns de nós nunca havíamos escutado esta palavra, mas parecia algo sério que incluía todos os continentes e todos nós.