Alguns anos atrás, discutíamos entre
amigos, em tom de brincadeira, quem era mais importante para a sociedade, o
médico ou o desembargador. Argumentei que o desembargador teria poderes para
dar ordens de prender ou soltar alguém da prisão, no entanto, não possuía a
autoridade médica para solicitar que uma pessoa se despisse para ser examinada.
Ordenar era muito diferente de solicitar.
E daí? Comentou o magistrado, não
é isto que torna um profissional mais importante que o outro, eu sou chamado de
excelência e você não. Além disso, continuou ele, ambos somos funcionários
públicos, concursados na mesma época, não obstante, meu salário é três vezes
maior que o seu. Deve haver alguma razão para isto. Imediatamente repliquei: razão
não! arbitrariedade, injustiça, iniquidade, isto sim é o motivo de tamanha
desigualdade. E digo mais, injuriava-o animado, as chances de você precisar de
meus serviços são infinitamente maiores que as minhas de precisar dos seus, um
dia você vai aprender a valorizar os médicos.
Segui com minha tese dizendo a
ele que quando estivesse dentro de um avião em pleno vôo e a aeromoça
solicitasse a presença de um médico a bordo, que ele levantasse a mão dizendo
ser desembargador e se oferecesse para ajudá-la. Ou então, quando estivesse no
saguão do tribunal, ou durante uma audiência e alguém apresentasse uma parada
cardíaca ou uma crise convulsiva, que o mesmo tirasse sua toga impecável e
realizasse uma respiração boca a boca ou uma desfibrilação cardíaca.