No instante em que a pessoa recebe o diagnóstico de uma doença
terminal, ela começa a morrer. Se você pensa assim, talvez contando a história
de Miguel, possa lhe mostrar que é possível acontecer exatamente o contrário,
nascer neste momento fatídico e passar a viver o melhor e o pior de si. Não é
preciso mais representar um personagem, não há mais tempo e importância para
isso. A proximidade da morte abre espaço para um estado de humanidade jamais
antes experimentado.
Ao realizar seu check-up de rotina anual, Miguel descobriu um
exame alterado. Parecia estar com a saúde perfeita, mas aquele número estampado
no papel do laboratório contradizia sua energia e higidez. Os médicos lhe deram
seis meses de vida. Não se revoltou, não pensou que o exame estava errado, não
achou que estava sendo punido, não se considerou azarado, não se culpou, aceitou
a possibilidade iminente de morte, evitou negar os prognósticos médicos e, ao
invés de morrer, passou a viver um luto antecipado.
Vou explicar. Foi descrito em 1944 um fenômeno que acontecia com esposas de soldados que iam para a guerra. Saber que talvez eles não voltassem, acionava um sentimento de perda e todas as consequências emocionais decorrentes. Batizaram esta situação de luto antecipatório.