segunda-feira, 15 de março de 2021

Morreu feliz para sempre

 

No instante em que a pessoa recebe o diagnóstico de uma doença terminal, ela começa a morrer. Se você pensa assim, talvez contando a história de Miguel, possa lhe mostrar que é possível acontecer exatamente o contrário, nascer neste momento fatídico e passar a viver o melhor e o pior de si. Não é preciso mais representar um personagem, não há mais tempo e importância para isso. A proximidade da morte abre espaço para um estado de humanidade jamais antes experimentado.

Ao realizar seu check-up de rotina anual, Miguel descobriu um exame alterado. Parecia estar com a saúde perfeita, mas aquele número estampado no papel do laboratório contradizia sua energia e higidez. Os médicos lhe deram seis meses de vida. Não se revoltou, não pensou que o exame estava errado, não achou que estava sendo punido, não se considerou azarado, não se culpou, aceitou a possibilidade iminente de morte, evitou negar os prognósticos médicos e, ao invés de morrer, passou a viver um luto antecipado.

Vou explicar. Foi descrito em 1944 um fenômeno que acontecia com esposas de soldados que iam para a guerra. Saber que talvez eles não voltassem, acionava um sentimento de perda e todas as consequências emocionais decorrentes. Batizaram esta situação de luto antecipatório.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Sua casa é um lar?

 

 

Imagine um lugar onde não exista o perigo de contaminação com o coronavirus. Todos podem se tocar, abraçar, beijar, sem medo de adoecer. Seria bom, não é? Seria ótimo. Melhor ainda se todas as pessoas fossem saudáveis, nada de doenças. Este deve ser o sonho de consumo atual de toda humanidade.

Pois é, ficaria melhor ainda se, além disso, as pessoas não precisassem se envolver com política, governo, mandos, desmandos, arbitrariedades, fake news, impostos. Talvez não se envolver não seja a expressão mais adequada, as pessoas não precisariam tomar conhecimento daquilo que acontece fora de suas casas, simplesmente alienar-se-iam dos atos governamentais e tocariam suas vidas.

Já que sonhar não custa, imaginemos também comida, bebida, música, diversão, piscina, academia de ginástica, festas. Tudo do bom e do melhor. Em tese, estes seriam os ingredientes para uma vida feliz. O que mais poderia estar faltando? Telefone celular e internet podem facilitar ou atrapalhar, aproximar ou afastar, então, por via das dúvidas, seriam retirados de circulação. Nesses casos, menos pode ser mais.