Luisa e Carlos já
namoravam há três anos e aparentemente se davam muito bem. Eventualmente
discutiam a relação, mas sempre em alto nível, jamais se ofenderam, alteraram a
voz ou agrediram-se mutuamente.
Certo dia, Carlos, num ato
falho (psicanalistas dizem que não existe), chamou Luisa pelo nome da ex, Ana.
A circunstância não vem ao caso, o fato é que não há como passar despercebido
ou ignorar. Luisa fez uma cara de espanto, deu um sorriso amarelado, falou uma
bobagem qualquer e, ato contínuo, acendeu uma luz vermelha piscante em sua
mente.
O que significava aquela mensagem? Seria um ato falho, um deslize, um engano, o primeiro sinal da doença de Alzheimer, uma mensagem subliminar? A luz vermelha piscava cada vez mais forte em busca de respostas.
Quem sabe Carlos a chamou
pelo nome da ex porque já estava considerando a relação tão estável quanto seu
casamento anterior. Não, este era um pensamento muito infantil. Talvez Carlos
estivesse pensando em reatar com a ex. Poderia também tê-la chamado pelo nome
da outra porque estava chateado por algum motivo qualquer e quis machucá-la
trocando seu nome. As hipóteses eram infinitas. Como saber o que se passava
naquele instante na cabeça de Carlos?
O caminho mais fácil seria
perguntar, mas como já dizia o psicanalista Jacques Lacan, podemos saber o que
dizemos, mas nunca o que o outro escutou. Neste caso, talvez nem Carlos soubesse
o que ou por que trocou os nomes. Luisa chegou a pensar em sugerir que ele
fizesse terapia, mas recuou. Teve então uma idéia inusitada, um tanto
mirabolante, mas era o que lhe restava naquela situação de desassossego e
insegurança.
Resolveu brincar com a
situação e comunicar ao marido que iria telefonar para Ana, a ex, contando o
episódio. Por que ela faria isso? Qual sua intenção? Não tenho a menor idéia,
mas Luisa possuía a crença de que quase ninguém acaba ficando com a pessoa que
mais amou na vida, apesar de quase todos fingirem que sim.
Decidiu tirar a situação a
limpo e saber o que Carlos e Ana ainda sentiam um pelo outro. A estratégia era
ainda mais sofisticada. Comentaria num tom bem casual e ingênuo que gostou do
ato falho, aquilo lhe excitava. Inclusive pediu a Carlos que a chamasse esporadicamente
pelo nome de Ana.
Como vai terminar esta
confusão? Quer mesmo saber o final? Este é o problema, finais são relativos,
jamais absolutos. As coisas só terminam quando acabam, só que em termos de
relacionamento, elas nunca acabam quando achamos que já terminaram. Existe um
depois após o final.
O fim não é aquilo que
planejamos, o fim é sempre uma surpresa, o que faz com que nunca estejamos cem
por cento preparados para ele. Não controlamos esse momento que marca nossas
vidas. Fim é término, mas também pode ser caminho, continuação, alivio,
arrependimento, depressão, esperança.
Enfim, são tantas as
possibilidades de final, há tantos fins, que não seria justo terminar essa
história com apenas um único e limitante final.
Assim é a vida. Assim são
as pessoas. Isso somos nós. Gente.
Fim.
Bravo!
ResponderExcluirIsso já aconteceu comigo, porém meu próprio constrangimento me puniu. Jamais consegui saber ou qualificar tal ato, pois uma vez virando a esquina de minha vida, poucas vezes teriam me visualizado novamente... A vida se ocupa com novos caminhos. Sou uma página virada na vida de alguém. Cada um poderá ser o que quiser, mas algumas pessoas invadem a privacidade de seus antigos relacionamentos, Observo com estranheza estes acontecimentos.
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