quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Começo, meio e fim

Quando entrei na escola pensava que escrever era fácil. Tudo o que precisava era começar o texto com letra maiúscula e terminar com um ponto final. No meio colocava as idéias. Mais tarde aprendi que para tirar uma boa nota em redação, esta precisava ter começo, meio e fim. Não sei como, mas este conceito de que as coisas precisam ter um inicio e um encerramento bem definidos têm acompanhado e confundido a vida de muita gente. 

Aos 14 anos de idade fui oficialmente pedida em namoro por um menino. Era uma noite de verão e depois do jantar, enquanto jogava conversa fora com os amigos, o Dudu me chamou num canto e fez o pedido de namoro. Quando voltei pra casa, na hora de dormir, já havia trocado de "status". Ainda não existia o Facebook para que pudesse postar e anunciar para o mundo, mas de um momento pra outro, minha vida mudara, como se estivesse publicamente tomando posse de um cargo e iniciando naquele dia e naquela hora a nova relação. Uma separação muito clara entre o antes e o depois do pedido.”

Enamorar-se de uma pessoa é um processo que vai acontecendo aos poucos.  Com o tempo e o convívio, vão surgindo a intimidade, a admiração e o casal, dia após dia, vai se reconhecendo como amigos, confidentes, amantes, cúmplices. Roupas e discos começam a se misturar, precisam urgentemente contar uma coisa para o outro, já não querem mais dormir separados. Tornar-se namorado ou namorada também deveria ser assim, sem um marco inicial, um pedido formal, um ritual divisor de águas. Espontaneamente descobrir-se envolvido, a ponto de sentir que as duas vidas estão andando juntas e que a parceria está formada.

Beginning, middle and end

                                                     

When I started school I used to think writing was easy. All you had to do was start the essay with capital letter and finish with a full stop, adding the ideas in the middle. Later I learned for getting good grades on my essays they had to have a beginning, middle and an end. I do not know how, but this concept that things need to have a beginning and a well defined ending have followed the lives of many people.


“When I was 14 a boy asked me to go steady. It was a summer night and after dinner, while I was shooting the breeze with some friends, Dudu called me to the side and asked me. Later, when I went back home, at sleeping time, I had changed my “status”. There was no Facebook to post and announce the world, but from a moment to the other my life had changed, as if I had officially taken office and started, in that day and time, a new relationship. There was a clear change between before and after the proposal.


Falling in love with someone is a slow process. Intimacy and admiration grow with time and day after day the couple starts seeing each other as friends, lovers, accomplices. Clothing  and CDs begin to mix up. The couple has an urge to tell things to each other urgently and do not want to sleep alone anymore. Becoming a boyfriend or girlfriend should also be like this, with no milestones, formal proposals or watershed rituals. To find yourself so involved to the point you both feel your lives are intertwined and a loving partnership was made.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Balanço e Interpretação

                               

Não sei se todos sabem, mas a internet é uma ferramenta que além de passar informações para quem está navegando, também fornece dados para quem posta as matérias. Posso saber quantos leitores frequentaram meu site, quais páginas visitaram, artigos mais lidos, mecanismo de acesso ao site, país de origem da busca, horários de maior visita...A privacidade é respeitada, não sei através de qual computador estão acontecendo as buscas, nem as identidades dos visitantes.

Final de ano, tempo para refletir, avaliar resultados, fui olhar as estatísticas.  Algumas descobertas foram interessantes, outras um mistério. Por exemplo, o artigo imensamente mais lido chama-se “Fruir ou Fluir, você decide”. Muito mais que qualquer outro. Não sei a explicação para este fenômeno. Na maioria das vezes, um artigo é lido porque seu titulo chama a atenção e atrai o leitor: “O melhor beijo do mundo” ou “Como encontrar o verdadeiro amor” ou “Alma gêmea”.  Não é o caso do “Fruir”.  Talvez alguns leitores tenham gostado tanto que o utilizem como mantra e releiam com freqüência...

De qualquer forma, os cinco mais visitados são: 1) Fruir ou Fluir, você decide 2) A carta de amor não escrita 3) A verdadeira nudez  4) Como acabar com a concorrência  5) Como calcular a sua idade – segunda edição.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sintomas

Depois de escrever “Sinais”, fui desafiado a continuar no assunto e falar agora sobre os “Sintomas” do amor. Ainda não sou especialista no assunto, mas posso dizer que me dedico, e como sou movido a desafios, vou tentar.

Pensei inicialmente em fazer uma divisão didática, semelhante ao que se faz com as patologias em medicina: sintomas leves, medianos e graves de amor. Não deu certo. Amor não é uma doença; paixão talvez seja uma espécie de confusão delirante com exaltação maníaca e por isto acumule tantos sintomas.  Quando se trata de amor, este tipo de classificação não funciona. Não dá prá amar um pouquinho ou só de leve ou querer achar um rótulo para classificar.  É um amor pobre aquele que se pode medir- Shakespeare. Ou se ama ou não se ama. Lembram do recado do amor? “Não aceitem menos que isto.” 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sinais

Durante a cerimônia de casamento do filho de um amigo, tive uma visão. Não têm nada a ver com religiosidade. Enxerguei o amor. Mais do que isto, ele falou comigo. Chorei o tempo todo e quando lembro da cena, ainda choro. Contei o fato para alguns amigos que pensaram em me internar, mas como dizem que em todo amor sempre há um pouco de loucura, estou aqui para contar o fato.

O amor não se mostrou nas palavras do padre, no altar, nas alianças. O amor estava nos olhares, nos toques, no aconchego,  na cumplicidade daqueles jovens noivos. Ela tremia, olhava para ele, que interrompia o protocolo para segurar sua mão com delicadeza e beijá-la. Ele falava com voz embargada, inundado pelas lágrimas que ela vertia e manchavam a maquiagem. Parecia que a cada momento, um saía de dentro de si para entrar no outro. Quando ela verbalizou seu amor, olhando por dentro da retina dele, não precisaria ter falado, o amor estava ali estampado, ao vivo, a cores e com toda sua força.

O casamento aconteceu à beira mar e a energia daquele lugar, somada ao som das ondas serviram de cenário para minha conversa com o amor. Acreditem ou não, tenho bem claras as palavras que escutei: “Não aceite menos que isto, é assim, desta forma, que funciona o amor. Guarde estes olhares dos noivos em sua memória, qualquer coisa diferente disto, não é amor.”

sábado, 24 de novembro de 2012

Preço da consulta médica

Prezado Cliente:

Talvez você não esteja satisfeito com a qualidade de meu trabalho como médico. Admito também não estar gostando da maneira como venho realizando as consultas,  e este é o motivo desta correspondência. Talvez juntos, possamos encontrar uma solução para este problema.

Em virtude da baixa remuneração oferecida aos médicos pelos planos de saúde (consulta entre 30 e 60 reais), preciso atender um número excessivo de pacientes para dar conta de despesas tais como aluguel, secretária, telefone, livros, congressos, anuidades de conselhos regionais, impostos...

Isto ocasiona um tempo médio de atendimento por paciente de 20 minutos, insuficiente para uma consulta de qualidade, por mais experiente que o médico seja. Estas consultas expressas geram insegurança, tanto do paciente quanto minha, pois torna-se impossível  examinar e dar as orientações necessárias lutando contra o relógio. Além disto, se você quiser marcar consulta comigo, a agenda estará sempre lotada. Provavelmente terei horário para lhe atender dentro de dois ou três meses. Sinto-me frustrado com este sistema de atendimento.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Entrevista

Existe um programa de TV e internet chamado "Cueca Virada", onde  a entrevistadora Tati Sulepa  entrevista homens com o intuito de saber qual o outro lado destes, isto é, além da medicina, o que mais Ildo Meyer gosta de fazer na vida. Daí o nome "cueca virada". Entrei na brincadeira e fizemos o programa. Quarenta e cinco minutos de gravação, mas liberados pela censura apenas doze. Se quiserem ter uma idéia é só clicar no linck abaixo. Boa diversão.

 http://cuecavirada.com/programas/dr-ildo-meyer/

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Antes de morrer, viva!


Atenção! Este artigo pode ser lido por pessoas de todas as idades, mas dependendo da faixa etária, despertará interesses diversos e quem sabe até, antagônicos. Jovens não têm idéia e nem imaginam como será sua velhice, muito menos a morte. Já os velhos, mais sábios e experientes, convivem com a proximidade da morte mais realisticamente. Embora possa parecer paradoxal, este artigo é dedicado a todos aqueles que não querem envelhecer. Jovens, meia-idade e idosos, leiam enquanto é tempo.

Um dos grandes sonhos da humanidade é a descoberta da fonte da juventude. Fortunas e vidas foram e continuam sendo gastas nesta procura. Milhões de pessoas foram enganadas com promessas de retardar, parar ou reverter o envelhecimento e a ilusão da vida eterna.

Nas bases científicas atuais, imortalidade ainda é uma impossibilidade. Mesmo  eliminando todas as causas de morte relacionadas ao envelhecimento que aparecem nos atestados de óbito, ainda assim ocorreriam acidentes, homicídios, suicídios e os processos biológicos de envelhecimento continuariam realizando suas funções.

domingo, 30 de setembro de 2012

Expressividade 1,2,3

 
Expressividade é o quanto cada pessoa revela dela mesma e quanto guarda para si. Quanto fica retido e quanto flui em direção ao outro. É uma característica individual  na relação consigo mesmo e depois em direção ao outro.

Não pode ser quantificada com exatidão. Algumas pessoas são completamente fechadas, não conseguindo liberar nada. Outras se abrem por inteiro, deixando passar de forma bruta tudo aquilo que vivenciam. A maioria filtra o que pode sair e o que deve ficar. Não existe certo nem errado, entretanto tanto a falta como o excesso podem causar dificuldades

                                             UM 

Às vezes não consigo entender nem expressar direito o que estou sentindo no exato momento em que as coisas estão acontecendo. Fico com aquilo apertando ou alisando minha alma durante um tempo, para depois então aflorar e ficar escancarado. Não sei se isto é bom ou ruim. A vantagem desta demora é que quando finalmente o sentimento mostra a cara, já vem amadurecido. A desvantagem é que pode chegar atrasado e perder a hora.

domingo, 16 de setembro de 2012

Se beber, não dirija. Também não faça declarações.

Trinta e cin
Trinta e cinco mil pessoas por ano perdem a vida em decorrência de acidentes de trânsito no Brasil. Preste atenção: 35 mil!!! Quase cem pessoas por dia!!! Estes números são alarmantes e a tendência é de crescimento. Segundo o Ministério da Saúde, metade destas mortes está relacionada ao uso de álcool por motoristas.

O álcool é um forte depressor do Sistema Nervoso Central. Inicialmente quem bebe perde a inibição e sente-se mais corajoso, mas com a progressão da ingestão, passa a ter reflexos mais lentos, perde a noção de distância e torna-se sonolento, sendo uma vítima e um agressor potencial ao volante.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Estamos Juntos?

Haicai é uma forma extremamente pequena de poesia, surgida no Japão durante o século XVI, que valoriza a concisão e objetividade. A idéia é transcender a limitação imposta pela linguagem usual e pensamento científico-linear e transmitir a percepção da essência de um local, momento, drama em apenas 17 silabas. Tudo precisa estar refletido em poucas palavras.

Em seu livro “Shogun”, James Clavell descreve esta forma de expressão como uma parte do ritual onde o guerreiro samurai escreve um Haicai antes de cometer o suicídio.
Exemplo: “Barco de papel naufraga na torrente chuva de verão” ou “Estas pimentas! Acrescentai-lhes asas e serão libélulas”.

Se já é difícil descrever o significado de uma existência, imagine agora fazer isto em apenas 17 silabas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O que te impede de beijar assim?

A idéia de escrever um texto contando como foi meu aprendizado do “melhor beijo do mundo” e deixar a revelação da técnica em suspense, tinha a intenção explícita de estimular a fantasia dos leitores, porém a proposta era ainda maior. Gostaria também que refletissem acerca de quem, como, quando e porque estão beijando ou deixando de dar e receber este presente.
Não existe a fórmula do beijo perfeito ou descrição da melhor forma de beijar, a qualidade está muito mais na cabeça dos parceiros que dentro das bocas. Sentimento e emoção são os ingredientes, sem isto o beijo torna-se morno, insosso, indiferente, vazio. O gosto do beijo vai melhorando na exata medida da entrega dos amantes e da veracidade do sentimento.
O segredo que minha amiga ensinou para tornar cada beijo único e inesquecível é beijar sempre como se fosse a última vez. A derradeira despedida. Vivenciar o instante com toda a intensidade, sentir que precisa preservar o momento, segurar o outro com a língua, envolver e ser envolvido, beijar já sentindo a falta e, finalmente, transformar aquele beijo apaixonado em um beijo sagrado. Um beijo inteiro. Um beijo infinito.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O melhor beijo do mundo

A conversa corria solta no botequim quando uma amiga contou de um tio muito experiente em baladas noturnas e especialista em beijos. Havia lhe ensinado o melhor beijo do mundo e agora, também ela desfrutava deste segredo. Beijava com tamanha desenvoltura, que o prazer transmitido  retornava imediatamente em seu favor, criando um clima de satisfação mútua inesquecível.
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“Como beijar” não é o tipo de conversa que homens costumam ter enquanto bebem, e, por conta disto, o assunto não progrediu. Achamos que ela estava se exibindo ou até mesmo, oferecendo seus préstimos. O fato de uma conversa não ir adiante não significa que o recado não tenha sido dado, pelo contrário, a curiosidade permaneceu agendada em meu cérebro.  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Adeus Pimbo, a-Deus

Sou do tempo antigo. Quando decidi casar, pedi a mão da noiva ao Pimbo, meu futuro sogro.  Ele  concedeu, com uma única ressalva: - faça minha filha muito feliz. Quando nos divorciamos,  mais uma vez o procurei e tivemos outra conversa formal. Expliquei que havíamos tentado várias alternativas, mas não conseguíamos mais ser felizes juntos. Seu pedido  perdera a validade. Ele me abraçou, disse que gostava de mim como um filho, lamentava demais, porém precisava respeitar nossa decisão. O casamento terminou, a amizade permaneceu.

Agora ele está morrendo. Estado vegetativo em um leito hospitalar, com os dias contados. Fomos nos despedir, eu e meu filho. Chegamos à noite. Estávamos a sós com ele no quarto, apenas uma atendente de enfermagem semi-dormindo no sofá ao lado.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

5 minutos de coragem




Quantas vezes na vida é preciso ter coragem? Alguns dizem que para sobreviver neste mundo competitivo é preciso matar um leão por dia, portanto, toda a coragem será pouca. Minha visão é diferente, não mais que 5 minutos de coragem na vida são suficientes. Vou tentar explicar.

A vida é perigosa.  Frente ao perigo a mente humana calcula riscos, utiliza a lógica, pesa os prós e contras e como um negociante astuto decide se vai enfrentar ou recuar diante da situação imposta. Saltar de pára-quedas, escalar um vulcão, praticar esqui aquático podem machucar quem pratica. É natural que alguns fiquem receosos e não queiram enfrentar estes desafios. Não tem nada a ver com covardia ou coragem, é apenas o cérebro se protegendo ou divertindo. Nem todos gostam de adrenalina demais circulando pelo corpo.
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Acontece que nem sempre se dispõe de tempo suficiente para raciocinar. Quando somos pegos desprevenidos, o instinto de sobrevivência fala mais alto, assume o comando e determina a adequação de enfrentar ou fugir do perigo. Entrar em luta corporal com um assaltante ou saltar de um prédio em chamas necessariamente não envolvem coragem, por vezes os protagonistas relatam que agiram sem pensar e nem lembram direito como aconteceu. Foi tudo muito rápido, instintivo, reptiliano...

sábado, 2 de junho de 2012

Enquanto se espera, tudo pode acontecer


Nem tudo na vida pode acontecer exatamente como planejamos e no momento que desejamos. Algumas situações exigem esperar. Esperar o nascimento de um filho, a diplomação na faculdade, a recuperação de uma doença, a fruta amadurecer, o sinal de trânsito abrir, a fila do banco andar, o pagamento no final do mês, a raiva ceder, o perdão transcender, o amor aparecer...

Nem todas as esperas são iguais e nem todos esperam da mesma forma. Algumas esperas podem ser programadas e não causam tanto incômodo, porém quando eventualmente surge algo fora da rotina ou planejamento, alguns conseguem lidar com a situação tranquilamente, enquanto outros são mais impacientes, se estressam, sofrem demasiadamente e chegam até a perder o controle emocional.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fruir ou Fluir? Você decide.

Você sabe a diferença entre as palavras fluir e fruir? Fluir tem significado de escorrer, escoar, correr em estado liquido. Fruir é totalmente diferente, significa ter prazer, desfrutar, gozar, usufruir.

O champagne escorrendo pela garrafa está fluindo, o casal bebendo está fruindo.  Maratonistas, concertistas, bailarinos, amantes, poetas, cirurgiões, quando mergulhados em suas atividades, geralmente estão fruindo, ou seja, desligam-se dos problemas mundanos e são capazes de esquecer até mesmo de comer ou dormir, tamanho o prazer que desenvolvem. O processo de fruição não acontece somente com pessoas dotadas de talentos especiais. Enquanto consertamos o rádio quebrado, atendemos um cliente, lemos um livro, voltados verdadeiramente para a tarefa, estamos fruindo.

Se fruir é tão prazeroso, por que não continuamos neste estado indefinidamente? O que existe de melhor para fazer? Ficar fruindo por muito tempo faz mal? Pelo contrário, fruir desenvolve um estado de bem estar, euforia, regozijo, criatividade que leva as pessoas a esquecerem do tempo e das agruras da vida.

sábado, 28 de abril de 2012

Por que confiar?


Faz tempo que tenho vontade de escrever sobre confiança. Alguns bloqueios e muitas dúvidas seguraram meu ímpeto de colocar no papel o que pensava. Precisei conversar com pessoas, testar níveis de confiança, fazer pesquisa de campo até decidir  compartilhar minhas idéias.

Para uns, confiança é um ato de fé e dispensa raciocínio; para outros, confiança não é inata e precisa ser conquistada. Seja como for, confiança é algo a ser dado ou emprestado a alguém como crédito ao bom comportamento. Funciona como um presente que é ofertado em determinado momento da relação e sinaliza uma expectativa de que esta pessoa ou entidade está orientada para decidir nossos interesses tão ou melhor que nós mesmos faríamos se estivéssemos em seu lugar. Resumindo, confiança é a previsibilidade de valores comportamentais em qualquer situação, até mesmo diante do imponderável.  Cabe uma indagação: é possível prever o comportamento do outro?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A verdadeira nudez

Alguns leitores perguntam como acontecem tantas coisas em minha vida, como tenho tantas histórias para contar. Na verdade só consigo captar e contar uma parte muito pequena do que está acontecendo, o resto passa despercebido. Mesmo assim, esforço-me para tentar não ser um simples assistente ou personagem do enredo que me cerca.

Pequenas rotinas, comportamentos robotizados, teses definitivas causam-me espanto. Costumo querer saber por que, como, onde, quando se originaram regras, conceitos, relacionamentos, religiões, paradigmas. Acredito em vias alternativas e fico atento  ao lado B dos acontecimentos, aquilo que não é percebido se não houver sensibilidade, curiosidade,  treinamento e vontade de olhar em outras direções.  É por estes caminhos que surgem novas histórias e por onde podemos atuar pró - ativamente por um mundo melhor.

Um famoso mestre zen budista havia sido convidado para uma festa. Conforme sua forma de viver, compareceu vestindo sua modesta roupa, gasta pelo tempo e mal cuidada. O anfitrião, não o reconhecendo, expulsou-o dali. O mestre voltou para casa, trocou de roupa, vestiu um manto bordado com pedrarias e retornou para a festa. Desta vez foi recebido com toda a pompa e conduzido a um local especial reservado para autoridades. Lá chegando, tirou seu manto e colocou-o cuidadosamente na cadeira. “Não tenho dúvidas de que esperavam pelo meu manto, já que não me deixaram entrar  pela porta na primeira vez que vim”. Virou as costas e foi embora.
 

sábado, 31 de março de 2012

Melhor calar

Poderia dizer mil coisas, mas resolvi calar...Melhor assim. Em algumas situações o silêncio expressa sentimentos que palavras nunca vão conseguir traduzir. Também estou calando para não brigar e magoar quem mais precisaria me ouvir e calar-se. Alguém precisava tomar a iniciativa de interromper o diálogo antes que virasse uma batalha interminável. Optei por utilizar a voz do silêncio.
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Nem tudo  precisa ser dito com palavras. Nem todas as perguntas necessitam uma resposta. Nem sempre a solução dos problemas aparece quando se abre a boca.  Existem coisas que melhor se dizem calando, pois o silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Parece ficção científica, mas não é. Infelizmente.

Dizem que médicos não são bons administradores. Sabem tratar de pacientes e doenças, mas quando precisam negociar honorários, tabelas, vencimentos, pacotes hospitalares deixam muito a desejar. Existem exceções, mas em regra, médicos preocupam-se muito mais com a saúde dos pacientes do que com os custos para mantê-la. O risco deste comportamento é que a gestão da saúde, se não for muito bem controlada, pode ser deficitária. A profissionalização da administração, com o intuito de viabilizar o sistema, foi uma exigência quase que formal, porém esbarrou em um problema de sensibilidade.

Produtos podem ser gerenciados de maneira fria e matemática, pacientes não. Médicos não conseguem e não podem trabalhar sem envolvimento emocional, compaixão pelo sofrimento e obstinação pela cura.  Imagine como seria se algumas manobras comerciais realizadas por empresários e absorvidas passivamente pelos consumidores, fossem utilizadas também a nível médico-paciente.

Precisei comprar um refrigerador novo. Fui a uma loja, escolhi o modelo e no momento de efetivar a compra, o vendedor ofereceu uma extensão da garantia do produto contra defeitos de fabricação. Por um pequeno valor a ser adicionado, ao invés de um ano de garantia, a loja me ofereceria mais 12 meses de tranqüilidade e segurança.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Conto de fadas moderno

Quando éramos crianças, adorávamos dormir escutando contos de fadas. Os finais eram sempre felizes, mas os começos muito tristes. Com freqüência existia um padrasto ou madrasta má, alguém que se perdia, estava muito doente, era espancado, seqüestrado, engolido. O enredo das histórias envolvia crueldade e injustiça, para no final surgir o amor e os mocinhos viverem felizes para sempre. Nossos pais não sabiam, mas é claro que estas histórias de amor romântico contadas ao pé da cama, mais tarde trariam conseqüências.

Crescemos, acabou a fantasia, caímos na realidade. Nosso mundo está cheio de injustiça, maldade, mentira, inveja, egoísmo, doenças, sofrimento. Nos contos de fadas sempre havia um herói para reverter a situação e encerrar o livro com um final feliz. E na vida real, onde estão estes heróis?

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Alma gêmea, difícil de explicar, fácil de sentir

Sabe aquela situação onde você quebra o braço, precisa engessar e então começa a reparar um monte de gente com braços machucados como o seu? Ou quando quer comprar uma bolsa e de repente começam a desfilar na sua frente pessoas com marcas, cores e modelos diferentes? Parece que ficamos mais ligados e nossos sentidos começam a funcionar como um radar, detectando em qualquer lugar aquilo que estamos procurando.

Depois do episódio do cão que me acompanhou na corrida de rua e partiu por falta de despojamento meu em adotá-lo, passei a ficar mais atento.  Olho para os lados na esperança de encontrar novamente minha alma gêmea corredora. Talvez esta atenção  esteja exercendo algum poder de atração.

Depois de uma semana correndo e procurando sem sucesso o cão, uma adolescente começou a me seguir na rua, exatamente como ele fizera.  Feliz e sorridente como uma criança brincando, seus passos ao meu lado eram leves e soltos.  Percebendo que ela não teria fôlego para me acompanhar, diminui o ritmo e expliquei que tinha treinamento aeróbico e por isto minha velocidade era maior.  Não convencida com o argumento, a menina levantou a blusa e mostrou sua barriga dizendo que estava em forma e iria correr comigo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alma Gêmea

Parecia um dia como outro qualquer, mas não foi. Modificou minha vida. Acordei às oito horas, tomei café e sai para praticar a rotineira corrida matinal. Já havia percorrido uma boa distância quando percebi alguém se aproximando. Olhei para trás e vi um cão correndo para me alcançar.

Era um boxer branco, magro, sem coleira e com algumas marcas no pelo. Não identifiquei se eram feridas cicatrizadas, micoses ou simplesmente marcas de nascença. Não importa. O cão começou a me acompanhar.  Não deu um latido, sequer olhou para mim. Simplesmente quis correr ao meu lado.

Achei engraçado e imaginei que logo adiante ele iria cansar e me abandonar. Não foi o que aconteceu. Depois de cinco minutos juntos, percebi que estávamos em perfeita sintonia. Quando eu aumentava a velocidade, ele correspondia. Quando parava em algum sinal de trânsito, o cão ficava ao meu lado.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A carta de amor não escrita


Bom dia  Sr. Ildo,

Desde que assisti a sua palestra em Salvador, passei a ler seu site. Gosto do seu jeito de  encarar a vida e também do seu jeito de escrever. Estou com um problema e gostaria de pedir sua ajuda.

Minha noiva foi fazer uma pós graduação em São Paulo e vai ficar por lá seis meses. Gostaria de escrever uma carta apaixonada, mostrando todo meu amor e saudade, mas não sou bom em escrever. Será que o senhor poderia me quebrar este galho e escrever uma carta de amor para ela? Diga quanto o senhor cobra...