terça-feira, 28 de agosto de 2007

Filosofia Clinica e Medicina

Quando uma pessoa apresenta determinado sintoma (dor abdominal, tontura, enxaqueca, febre, etc), geralmente é submetida a uma investigação composta de história clínica, exame físico e, quando necessário, exames laboratoriais. Em determinadas situações, nada de concreto é encontrado, a não ser a queixa do paciente. Prossegue-se então na busca de alguma patologia, passando-se a uma nova etapa: realização de exames mais sofisticados(ressonância magnética, cintilografia, endoscopia, cateterismo cardíaco, etc).
Duas situações podem se apresentar após investigações exaustivas: encontra-se a causa da sintomatologia apresentada e parte-se para o tratamento, ou os exames continuam dentro da normalidade ou levemente alterados sem apresentarem relação direta com as queixas do paciente.O que fazer nestas situações? Alguns médicos partem para uma nova bateria de exames ainda mais sofisticados, outros passam a tratar paliativamente o sintoma e, em determinadas ocasiões, o paciente cansado de tantos exames, procura outro médico ou até mesmo abandona o processo de investigação e tratamento, resignando-se a conviver com seu problema/queixa. Do ponto de vista estritamente físico, o diagnóstico deste paciente é de normalidade, assim sendo, eventualmente encaminha-se o mesmo para um tratamento psicológico, com suspeita de somatização.
A evolução da medicina, através da ampliação do conhecimento e do avanço tecnológico, permitiu que fossem captadas imagens do interior do corpo humano com facilidade e nitidez nunca dantes imaginadas. Assim, uma ressonância magnética cerebral, aliada a um eletroencefalograma e, quem sabe, um exame de liquor, podem dar muito mais acuidade e segurança a um diagnóstico do que a coleta da história clínica e testes neurológicos realizados pelo médico em seu consultório.
A situação que se coloca aos médicos de nossa sociedade tecnológica é a cobrança de diagnósticos com rapidez e precisão, atendimento de muitos pacientes em uma jornada de trabalho para garantia de sua sobrevivência e comprovação documentada do atendimento, visando proteção contra possíveis ações judiciais por erro médico. Muito embora seja enfatizado inúmeras vezes na formação de um médico que a história clinica e o exame físico são soberanos aos exames laboratoriais complementares, submetido a estas pressões, às vezes fica mais fácil ao médico, realizar um rápido exame clínico e solicitar de imediato os exames complementares, talvez descuidando um pouco ou até mesmo comprometendo a relação médico-paciente em troca de uma agilidade, segurança e precisão tecnológicas.
De qualquer maneira, vemos que o diagnóstico de saúde física geralmente é firmado quando um paciente assintomático, após a realização da história clínica e exame físico, não apresenta padrões alterados da normalidade nos exames realizados. Mesmo com a evolução da medicina, que deixou de ser apenas curativa para se preocupar também em prevenir doenças, os exames clínicos e laboratoriais é que determinarão se o paciente encontra-se saudável ou com doença.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, já definiu o que é saúde: “Estado de total bem estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou enfermidade”. Por esta definição, três entre quatro pessoas estariam “doentes”, ou não gozariam de saúde.A medicina, nos seus primórdios, provavelmente não tinha condições de reconhecer e tratar os transtornos mentais. Os pacientes desajustados socialmente, popularmente conhecidos como “loucos”, eram trancafiados em locais que mais tarde passaram a se chamar sanatórios, isolando-os do convívio social e familiar. Mais tarde, surgiu a especialidade que se dedicaria ao estudo e tratamento dos problemas da mente: a psiquiatria, que, sendo um ramo da medicina, passou a ter uma nomenclatura específica para cada desordem ou transtorno mental apresentado pelo paciente. Estas entidades estão catalogadas no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition (DSM-IV), publicado pela American Psychiatric Association em 1994 e revisado em 2000.Em psiquiatria, se eventualmente um paciente não for enquadrado em nenhuma categoria da DSM-IV, talvez receba o rótulo de normalidade mental e social. Segundo a OMS, este título atinge 25% das pessoas.
Estariam os 75% restantes das pessoas com desajustes mentais e sociais? Quais os exames para a detecção de bem estar mental e social? O que fazer?A experiência de consultório tem demonstrado aos médicos das mais variadas especialidades, principalmente na área de ginecologia e obstetrícia, que um grande número de pacientes vai ao consultório por um determinado sintoma, mas termina falando e se queixando de seus relacionamentos e problemas conjugais, obrigando muitas vezes os médicos a atuarem em uma área para a qual não foram treinados especificamente.Médicos que trabalham em Unidades de Tratamento Intensivo atendem pacientes em estado grave, muitas vezes comatosos que aparentemente não se comunicam, outras vezes à beira da morte. Estes médicos relatam suas dificuldades em amparar toda uma gama de familiares e amigos, que podem precisar de apoio nestas horas, pelas mais variadas razões (indisponibilidade de tempo, treinamento insuficiente na área de relações humanas, dificuldades de relacionamento inerentes ao próprio médico, etc.).Outros médicos relatam suas experiências ao comunicar um diagnóstico de câncer.
Alguns pacientes desabam, outros negam, questionam, agridem, têm sua visão obscurecida, outro grupo toma atitudes positivas, apela para a fé, esperança, etc. Cada paciente vai reagir psicologicamente a sua maneira, que pode ser prevista através de um acompanhamento especializado prévio à comunicação do diagnóstico, atenuando ou até mesmo estimulando as reações emocionais que se apresentem.
Nestas e em outras situações é que a filosofia clínica pode ser útil à Medicina e à população em geral. Partindo do princípio que o trabalho de um filósofo clinico é promover o bem estar, auxiliando cada indivíduo a entender, ou pelo menos conviver com seus dilemas existenciais, servindo como um amigo que estará ao seu lado na jornada que se apresenta como difícil, e quem sabe sofrida, já temos um caminho.Não necessariamente um caminho de cura, nem de diagnósticos. Saúde não é apenas um diagnóstico, mas uma postura de bem viver. Não é o corpo que está doente, mas todo o ser.
A preocupação maior no tratamento não é eliminar a doença e sim dar condições ao paciente de expressar suas dores e conviver com seus males existenciais da melhor forma possível.Com o auxilio de procedimentos clínicos, tais como tradução, retroação, atalho, percepção, roteirizar, informação dirigida, busca, direcionamento ao desfecho, às emoções, etc, planejados para cada situação em particular, o filósofo clinico pode auxiliar um paciente com diagnóstico de tumor cerebral e sua família a enfrentar a doença e suportar o sofrimento, fazer uma pessoa entender o motivo de suas enxaquecas e cansaço, demonstrar à equipe médica que a sintomatologia apresentada pelo paciente pode ser um dado de semiose não verbal (assim como os sonhos podem refletir os problemas da mente, o corpo pode mostrar através dos sintomas, situações conflituosas), identificar um dado de semiose não verbal num paciente comatoso, mostrar a uma pessoa enlutada que o sofrimento com a perda não precisa ser combatido por ser algo desagradável, encorajar ou encontrar uma maneira que torne possível um paciente claustrofóbico realizar uma ressonância magnética, acompanhar um paciente que tentou o suicídio ao sofrer uma desilusão amorosa.
Quando um paciente passa a necessitar doses maiores de insulina para controlar sua diabetes, quando a pressão arterial começa a se elevar, o simples aumento na dose das medicações seria o tratamento ou apenas alivio dos sintomas? Estes desequilíbrios hormonais não poderiam ser resultados de conflitos emocionais? O tempo exíguo de uma consulta, a perda da qualidade na relação médico-paciente e o treinamento em tratar doenças físicas, fazem com que o médico, mesmo atento aos efeitos emocionais na saúde física, porém sem condições de ir mais fundo por este caminho, possa eventualmente prescrever a estes pacientes um sedativo ou um anti-depressivo como medicação complementar.
Baseados nos ensinamentos filosóficos sobre sofrimento, dor, amor, buscas, preconceitos, liberdade, religiosidade, emoções, etc, surgiu a filosofia clínica, que através de metodologia específica para entendimento da estrutura de pensamento de cada indivíduo, sem rótulos ou preconceitos limitadores, visa contornar justamente estes mal estares e até “desajustes” de vivência social que estão incorporados ao dia a dia moderno.O filósofo clínico não está autorizado a prescrever medicamentos. Sua função seria recompor no paciente a figura de sua singularidade existencial, vindo a suprir, quem sabe, a lacuna deixada pelos médicos de uma relação mais humana e direcionada aos problemas, por assim dizer, da alma. Um trabalho a ser realizado em parceria com médicos, psiquiatras, assistentes sociais e demais membros de uma equipe multidisciplinar de saúde.
A filosofia clínica surge como uma alternativa a ser somada à medicina, seja na profilaxia de várias doenças, onde o bem estar mental e social podem fazer o indivíduo perceber seu papel existencial e sua função na preservação de sua saúde e dos que o cercam, seja na compreensão por parte da equipe médica, de que o paciente, através de sua representação do mundo, de seu entendimento das coisas, é quem vai dar a medida do que é doença e saúde e do que é normal e anormal. Parafraseando Winnicott : “Ausência de doença pode ser saúde, mas não é vida”.
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domingo, 26 de agosto de 2007

VOCÊ JÁ TEVE VONTADE DE CHUTAR O BALDE?

“Ao aprender a pensar, quase me esqueci de sentir”


Durante a noite não dormiu direito, estudando e pensando as tarefas que teria por realizar no dia seguinte. Acordou cedo, tomou um café bebido e saiu para o trabalho. No caminho, um engarrafamento de trânsito, pedintes nas esquinas e falta de vagas no estacionamento. É necessária uma ligação ao celular avisando do atraso involuntário. A secretária comunica já está sendo aguardando e as pessoas estão ansiosas.
Ao descer do carro percebe que esqueceu de trazer uma pasta com documentos e também de beijar sua esposa e filhos. Não lembra se fechou ou não a porta da garagem. Inicia-se a reunião e seu pensamento está no cliente da tarde que deve assinar um contrato interessante. O telefone celular toca avisando que o cliente da tarde precisa antecipar a reunião. O colega de trabalho pede uma ajuda em seus relatórios. Prometeu ao filho busca-lo na escola e leva-lo ao futebol.
As cenas acima podem até parecer uma novela, e poderiam se estender infinitamente, mas sabe quem é o personagem principal desta história? VOCÊ!
As situações procuram demonstrar episódios imaginários da vida de um trabalhador na busca por qualificação profissional, bons salários, reconhecimento e uma carreira de sucesso, e, de alguma maneira, você pode ter se identificado.

Sessenta a oitenta horas de jornada semanal, plantões no final de semana, trabalho noturno, estudos, viagem para congressos, muitas noites dormidas ou mal dormidas em hotéis, hospitais. Alguma semelhança com sua rotina?
Esta rotina de trabalho sob pressão, com exigências cada vez maiores pode se estender por muitos anos e ser percebida como um enorme prazer, um verdadeiro barato: a vida moderna!
Nos últimos dez ou quinze anos, principalmente nas grandes cidades, a vida tornou-se mais rápida, agitada e perigosa. Sem que tenhamos consciência, nosso cérebro percebe riscos potenciais e põe o corpo em estado de alerta em frações de segundo. Este mecanismo de proteção filogenético (estresse) foi desenvolvido para que quando nos defrontássemos com um urso enorme ou um assaltante na esquina , tivéssemos forças para enfrenta-los ou fugir, porém, este “estado de alerta” esta funcionando da mesma maneira quando o chefe, o colega, o governo, o trânsito, a família nos colocam sob pressão.
A supra-renal libera hormônios, o coração acelera, a pressão arterial sobe, as pupilas dilatam, os músculos se contraem; tudo para auxiliar o ser humano a enfrentar situações de perigo. Se o estresse perdurar por semanas, meses ou anos, esta carga hormonal em permanente atividade na corrente sanguínea deixará marcas em quase todos os órgãos do corpo humano. Há tempos a ciência sabe que a liberação continuada de cortisol debilita o sistema imunológico, deixando o organismo mais sujeito a infecções. Em alguns casos, o estresse prolongado repercute apenas na psique e em outros, atinge também o físico.
Poderíamos definir estresse como uma resposta adaptativa não específica do organismo a qualquer mudança, demanda, desafio ou trauma. Esta resposta visa manter o equilíbrio, a sobrevivência.
Um quadro mais grave e que poderia ser encarado como o clímax do estresse ou o estado mais depressivo do estresse é a “Síndrome do Esgotamento Profissional”, ou burnout. Do inglês “to burn out”, que significa queima por completo, consumir-se.
Costuma ter predileção por profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas e de grande relevância para o usuário. Profissionais liberais e assalariados que iniciam suas carreiras cheios de sonhos e expectativas, empenhando-se ao máximo na busca pelo sucesso e de repente,as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço passa a parecer inútil. Atitudes e condutas negativas ou cínicas em relação aos usuários, clientes , organização e trabalho são freqüentes.
Ao mesmo tempo, desaparece o interesse por outras pessoas, os contatos sociais vão se restringindo ao mínimo necessário. Cedo ou tarde, a capacidade de desempenho começa a se reduzir. Há falta de concentração, a memória é prejudicada, e não surgem mais idéias criativas. Neste ponto, a constatação de que não se está trabalhando direito redunda em uma pressão interna ainda maior, tendo início um ciclo vicioso.

Alguns autores diferenciam o burnout do estresse pelo fato do último ser um esgotamento pessoal com interferência na vida pessoal do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho, ao passo que o burnout seria um quadro clínico resultante da má adaptação do homem ao seu trabalho caracterizado pelo esgotamento físico, psíquico e emocional com reflexos também no trabalho.

Infelizmente , os afetados são muitas vezes os últimos a perceber sua situação crítica. Em determinado momento, a partida de futebol é cancelada, a viagem é adiada. No trabalho, a dor de cabeça o impede de realizar suas tarefas e não são poucos os que fracassam por subestimar a gravidade da situação.
Mais de 15% dos pacientes com distúrbios de caráter depressivo, apresentam na realidade, a síndrome do esgotamento profissional. A síndrome do esgotamento profissional é de difícil diagnóstico, pois se manifesta por mais de cento e trinta sintomas já descritos, variando desde manifestações de gastrite, úlcera péptica, colite, cefaléia, perda de peso, alterações menstruais, aborto espontâneo, diarréia, alergias, hipertensão arterial, taquiarritmias, dores musculares, depressão do sistema auto-imune, aceleração do envelhecimento, memória afetada, distúrbios do sono, desorientação, irritabilidade, absenteísmo profissional, até manifestações tais como aumento do consumo de café, álcool e drogas, depressão e tentativa de suicídio.
Ninguém se esgota da noite para o dia. Ao contrário, as baterias falham tão devagar que nem sequer registram as sutis alterações. As pressões enfrentadas diariamente são como gotas de água enchendo um copo.
Aquela cefaléia, as tonturas no final de semana, azia eventualmente, os lapsos de memória, são encarados superficialmente ou como por efeitos de vapores exalados, da má alimentação, etc. O relacionamento desgastado com colegas, a falta de ânimo para programações com a família e amigos são traduzidos por excesso de trabalho, que será compensado com umas férias mais adiante.
Em um determinado momento, ocorre uma reviravolta, o copo transborda. O sistema colapsa. O sentimento de que por mais elevado que seja o seu desempenho profissional, não será reconhecido a contento, resulta numa crise de insatisfação, e , todos os princípios e qualidades pessoais que levaram as pessoas adiante durante tantos anos, de repente se voltam contra elas, não lhes permitindo mais sair da roda viva do estresse.

Quanto antes se procura ajuda especializada melhor, pois o tempo influi no prognóstico do tratamento, que é demorado e trabalhoso. É preciso aprender que existem outras fontes de satisfação capazes de nutrir a auto-estima. Deve-se tentar recuperar a vida sob outros pontos de apoio.
Um investimento na formação e capacitação profissional, estabelecendo prioridades, valores e metas, com uma visão realista da situação profissional e limitações pessoais torna-se essencial, porém deve-se estar alerta para perceber indicações que passarão a surgir neste novo caminho. Ações direcionadas no sentido da prevenção do excesso de horas extras, melhora das condições físicas e sociais de trabalho, participação em programas de combate ao estresse também fazem parte da estratégia individual de tratamento.
Atenção especial deve ser dada à saúde. Dois terços das doenças do sistema cardiovascular e quatro quintos das patologias cancerígenas podem ser prevenidas. Dieta adequada, atividade física, higiene, vacinas, horas de repouso e de sono, entretenimento, tempo dedicado aos amigos e família não podem ser relegados a um segundo plano.. Não fumar, uso de cinto de segurança no automóvel, visitas à médicos e dentistas podem fazer a diferença para uma vida mais longa e saudável.
O pedido de auxílio quando necessário, nos vários assuntos pessoais e profissionais, através de uma comunicação aberta, faz com que sejam compartilhados pensamentos e sentimentos. Somente sendo mais flexível, de corpo e alma, consegue-se lidar bem com o novo; seja um novo paradigma, um novo membro na equipe ou uma novidade tecnológica.
Celulares, internet, pagers, mantém as pessoas conectadas e acessíveis 24 horas por dia e, desta maneira, terminaram com a linha divisória entre trabalho, casa e férias.
Novos passatempos, encontros com amigos, música, natureza, dança, esportes com preferência para os competitivos que mobilizam forças internas, tomada de decisões e riscos, podem funcionar como um laboratório para uma adaptação a uma nova realidade.

O ideal seria a prevenção pela informação. Se soubermos nos proteger das conseqüências, adotaremos o mais cedo possível uma postura que dê à saúde e ao bem estar psíquico no mínimo, a mesma importância atribuída à ascensão na carreira profissional.

Algumas reflexões se impõem: Aonde você quer chegar?
Quais são seus valores genuínos?
Qualificação profissional, bons salários, reconhecimento e uma carreira de sucesso?
“O verdadeiro sucesso é medido por aquilo que se tem de renunciar para obtê-lo”.
Você está renunciando à família, amigos, lazer, estudos, amor próprio em troca de quais valores?
A vida pode mudar num instante. O futuro pode ser alterado num piscar de olhos. Nenhum trabalho, por mais gratificante que seja, compensa perder umas férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família.
A vida vai passando rapidamente. Quando se vê já é sexta-feira, já é Natal, já estamos em outro ano. Mas ao invés de viver, sobrevivemos, porque não sabemos fazer outra coisa. Perdemos dias, às vezes anos. Nos calamos quando deveríamos falar. Falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio. Reclamamos do que não temos ou achamos que não temos o suficiente. Cobramos dos outros, da vida, de nós mesmos. Costumamos comparar nossas vidas com as daqueles que possuem mais que a gente.
Estamos nos consumindo.
Até um determinado ponto, o sucesso depende de você. Depois, depende de como você lida com ele.
Pense bem nos seus valores verdadeiros, e, se for necessário, recomece de uma maneira diferente enquanto é tempo.
Acredite em você, dê uma nova chance a si mesmo.
Fique pronto para a vida.
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sábado, 18 de agosto de 2007

Me falta uma mulher, me sobram seis tequilas...

"Me falta uma mulher, me sobram seis tequilas;
me falta um coração, me sobram cinco estrelas,
de hotéis de ocasião...", estes versos do cantor espanhol Joaquin Sabina nos remetem a carências que são substituidas ou trocadas por alternativas amenizadoras da dor e sofrimento. A midia trabalha muito com estas substituições. Quando um consumidor sai a procura de um determinado produto ou serviço, seu objetivo é o suprimento da carência em foco. Se a necessidade é um pneu novo, um relógio, uma caneta, a solução é fácil. O problema começa a surgir quando se descobre que nem todas as carências podem ser repostas e nem todos os consumidores conseguem identificar claramente suas carências.
Sabendo destas dificuldades, os profissionais do marketing criaram uma espécie de "coringa". Conceitos associados a produtos e serviços, que aumentariam o espectro dos mesmos, criando a possibilidade de se encaixarem de alguma maneira, no desejo consciente ou não do consumidor. A função original de um automóvel é ser um meio de transporte. Um consumidor com necessidade de um meio de locomoção vai a uma concessionária testar diversos modelos e escolhe o que mais lhe agradar dentro de seus critérios. Se for inserido a determinado automóvel o conceito de segurança, preservação ambiental, design, conforto, juventude, liberdade, poder, potência, economia,etc, a chance de sensibilizar determinada carência ou estilo de vida do cliente torna-se maior. Em determinadas circunstâncias , a carência de um consumidor pode ser sua insegurança e falta de poder no trabalho e na familia, e o que é comprado em substituição ou na esperança de adquirir estas carências é um automóvel com estes conceitos.
Cigarros e bebidas vendem conceitos de vida social, alegria, felicidade, férias, comemorações. Se o que está faltando ao cantor é uma mulher que lhe trazia alegria e felicidade, seis tequilas podem substituí-la? Hospedagem com mordomias em hotéis cinco estrelas, compras no shopping, substituem corações machucados? Cremes de beleza vão trazer de volta a juventude? Até mesmo os marketeiros sabem que estas trocas não são a solução das carências, mas o que se vê na prática, são pessoas carentes, pressionadas pela sociedade por uma vida feliz, ansiosas por alcançarem respostas sem muitas vezes saberem o que estão procurando, e que acabam se atirando em quase tudo que possa parecer uma nova chance de suprimento de necessidades, que muitas vezes nem suas são. E assim produtos e serviços, apoiados por uma midia poderosa, continuam vendendo a cada dia uma nova esperança a população carente.
A busca e a identificação das reais necessidades de um indivíduo quase nunca é realizada. O processo de introjeção é trabalhoso e dispende tempo e dinheiro. Provávelmente, o coringa oferecido pela mídia acenará com soluções a curto prazo, mais palpáveis e menos sacrificantes. E mais uma vez, como tantas outras anteriores, imbuidos de uma nova esperança, experimenta-se mais um coringa. Talvez por isto, Joaquin Sabina termine seus versos cantando "Me falta uma verdade, me sobram cem desculpas...".
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QUALIDADE X QUANTIDADE

Teóricamente parece simples a diferença entre qualidade e quantidade. Mas quando se fala em qualidade de vida, muita gente confunde com quantidade. Quantidade de vida, de coisas, de viagens, de amigos...
Pode-se estar viajando ao redor do mundo num cruzeiro fantástico, cercado de pessoas, ao lado de um(a) companheiro(a) belissimo(a), fazendo refeições saudáveis, caminhando todas as manhãs, tomando banhos de piscina, sem qualidade de vida alguma.
Um aparelho telefônico celular com câmera fotográfica, filmadora, rádio, internet, calculadora, despertador, etc, tem uma quantidade enorme de funções, mas será que consegue ter a mesma qualidade e os recursos de um aparelho (filmadora, por exemplo) isoladamente?
Quantidade não é a mesma coisa que qualidade. Um não exclui o outro necessáriamente, mas eventualmente...
Porém, quando nos perguntam sobre qualidade de vida, o pensamento que nos vem de imediato é: saúde, lazer, alimentação saudável, exercícios físicos, viagens...Será que não estamos colocando, à semelhança do aparelho celular, muitas funções nesta qualidade de vida?
O que é saúde? Segundo a Organização Mundial de Saúde, é o estado de total bem estar fisico, mental e social e não sómente a ausência de doença ou enfermidade. Por esta definição, tres entre quatro pessoas estão doentes. Passamos a buscar uma qualidade de vida que nem sabemos direito o que é, mas que imaginamos como deveria ser, pois alguns artistas e milionários ostentam esta aparência em revistas, televisão, etc. E partimos na busca desta qualidade/quantidade de vida. E perdemos qualidade de vida ao tentar alcançá-la, e nos estressamos ao tentar baixar nosso estresse, e ficamos infelizes de tanto buscar a felicidade.
Antes de pensar em qualidade de vida, talvez seja interessante pensar primeiro em valores. O que realmente é importante para você? familia, saúde, estudos, lazer, alimentação, amores, trabalho, sonhos, viagens, dinheiro, amigos, imóveis, poder, sucesso... A partir destes valores, pode-se então, individualmente criar um padrão de qualidade de vida que sirva para você, e sómente para você.
Alguns valores são universais: dieta saudável, ausência de vícios, sono e exercícios regulares, pois comprovadamente diminuem a incidência de doenças fisicas e retardam o envelhecimento.
Um padrão individual de qualidade de vida pode ser ler um livro, passear com os netos, dormir após o almoço e jogar damas com os amigos. Outro padrão pode ser correr na praia, dar aulas na faculdade, dançar à noite. Outro pode ser cozinhar, lavar a louça e reunir a familia para o jantar.
Não custa tentarmos uma analogia com a aviação. Existem padrões de segurança e qualidade minimos , os quais são universais e obrigatórios. Para uns, além da segurança obrigatória regulamentada, qualidade em aviação deve incluir ausência de filas nos aeroportos, vôos sem atraso, lanches saborosos, comissários de bordo atenciosos, filmes como passatempo durante o vôo. Para outros, qualidade em aviação significa treinamento e descanso adequado da tripulação, aeronaves sempre revisadas com padrão ouro, pistas de pouso e decolagem com dimensões e condições seguras, controladores de vôo sem excesso de trabalho, etc . Novamente aqui, um não exclui o outro, e quantidade necessáriamente não exclui qualidade e nem pode ser considerada sinônimo.
Baseado em meus valores, o aparelho celular está a meu serviço, e não o contrário. Assim sendo, atendo-o quando achar necessário e for possivel. Não é preciso agir como um robô e cada vez que ouvir o toque, imediatamente atender. Desligo o celular quando não estou de plantão médico. As funções de meu aparelho são ligar e desligar, e , como acessório, apenas uma lanterna, que já me salvou de muitas escuridões. Outros acreditam que o telefone celular lhes permite ter uma qualidade de vida melhor, justamente por poderem ser localizados e estar em contato permanente com o mundo. São valores.E estes valores é quem vão definir o que é qualidade de vida para você.
Mas esta é a parte mais fácil, o difícil é assumir e realizar a mudança no sentido de atingir a "sua" qualidade de vida. Difícil, mas não impossível.
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