segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Mensagem de Fim de Ano

Tenho mantido uma espécie de tradição anual de, nesta época, enviar aos que quero bem, uma mensagem de otimismo para que a entrada do ano que se aproxima, e todo o ano enfim, possam ser aproveitados ao máximo.Sento no computador e fico horas pensando a melhor maneira de, a cada ano, dar uma nova injeção de esperança aos amigos. Pensei, pensei, e este ano decidi fazer algo diferente. Li um poema de Victor Hugo (escritor e poeta francês, autor de Los Misérables entre outros tantos) e cheguei à conclusão de que não conseguiria expressar nem desejar nada melhor do que os versos por ele escritos.Vejam só minha modéstia, eu querendo me comparar ao grande Vitor Hugo!Então, humildemente, pela primeira vez, insiro algo não escrito por mim, e repasso o poema, desejando exatamente o mesmo que o poeta escreveu há 150 anos.Aproveitem! Um abraço bem apertado e um ótimo 2008!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Consulta Pré-operatória e Filosofia Clinica




Adaptação de palestra realizada no IX Encontro Nacional
de Filosofia Clinica – São Paulo – Univ. São Camilo - 2007


A medicina no Brasil ainda é muito mais curativa do que preventiva. Pacientes costumam procurar o médico quando estão doentes e não quando estão saudáveis visando prevenir alguma moléstia. A saúde para alguns, é considerada um valor, mas para a grande maioria, só é lembrada no momento em que foi perdida.



Partindo desta premissa, pode-se sugerir que as pessoas procuram os médicos não por desejo e sim por necessidade. A necessidade da cura é o que leva um paciente a procurar ajuda na medicina curativa, classificando assim, teoricamente, a medicina em uma categoria de serviços não desejados e sim, necessários. Quem se submete a uma cirurgia, o faz por necessidade e não por um simples desejo. Poderíamos citar como exceção, cirurgias estéticas, porém mesmo nestas situações, o paciente submete-se à cirurgia por sentir que este procedimento é necessário para seu embelezamento, pois pode estar se sentindo “feio”, e quem sabe, em sua visão de mundo, até mesmo doente.


A partir da necessidade e da indicação de uma cirurgia, pacientes são encaminhados para uma consulta pré-anestésica alguns dias antes da cirurgia, visando avaliar o paciente, planejar a técnica anestésica e fornecer explicações e instruções pertinentes. Em alguns casos, esta consulta prévia não pode ser realizada, acontecendo o contato entre paciente e anestesiologista momentos antes da cirurgia.


Tendo concluído a pós graduação em Filosofia Clinica, passei a fazer uso do aprendizado em minha prática anestésica, e gostaria de compartilhar esta experiência, e, quem sabe, de alguma forma, contribuir para uma melhoria na percepção dos anestesiologistas, a respeito da visão de mundo do paciente no contexto de uma cirurgia iminente.


Anestesiologistas são médicos especialistas, trabalhando em ambientes de alta precisão tecnológica, onde pequenas falhas podem ser fatais, e por isto, precisam estar atentos aos mínimos detalhes e em estado de vigilância constante do paciente. A preocupação com as alterações emocionais decorrentes de todo o processo operatório, bem como o treinamento para lidar com estas situações, não são enfatizadas, ou pelo menos, são colocadas em um plano secundário durante os três anos de formação na especialidade.


Desta maneira, no momento da consulta pré-anestésica, vai acontecer uma interação entre um paciente teoricamente ansioso, fragilizado que tem como Assunto Imediato a realização de uma cirurgia não desejada, com um médico anestesiologista focado para o lado técnico anestésico-clinico, e, provavelmente, com deficiências para tratar dos aspectos psicológicos contextualizados nesta situação.


O que esperar desta consulta?


O desafio emoldurado é uma consulta de quarenta e cinco minutos onde além da avaliação médica propriamente dita, seja desenvolvida uma interação positiva entre anestesiologista e paciente, sejam visualisados os conflitos existenciais relativos ao contexto cirúrgico e, se possível, a utilização de submodos (procedimentos clínicos utilizados em filosofia clinica) adequados para auxilia-lo em caso de necessidade.


Durante a anestesia propriamente dita, o paciente estará inconsciente ou provavelmente sedado. A consulta pré-anestésica, momento em que o paciente encontra-se desperto, é a oportunidade de se demonstrar respeito, atenção, empatia com o sofrimento alheio e disponibilidade para auxiliar num momento de vulnerabilidade e dependência.


Algum gracejo por parte do paciente ou familiares não é um fato raro. “Este é o perigoso”, “Não tenho medo da cirurgia, tenho medo da anestesia”, “Não vai me deixar paralítico”, etc. O que fazer numa situação destas? Sair dando explicações? Em filosofia clinica, recomenda-se não fazer agendamento algum antes de se conhecer o paciente e a família. Assim, a conduta adequada seria a de simplesmente escutar o gracejo e deixar para respondê-lo mais adiante, se for o caso.


Após a apresentação usual, parte-se para a colheita da anamnese. De preferência com o próprio paciente, e o bom senso vai indicar se é necessária a solicitação da retirada de familiares e amigos do local. O paciente deve sentir-se confortável e à vontade para falar.


Pensei muito em como iniciar uma anamnese, de modo que pudesse deixar o paciente livre para expressar suas angústias e não simplesmente dirigir a entrevista para a área clinico-anestésica. A pergunta que me pareceu mais apropriada para iniciar o diálogo foi: “Qual é o seu problema?”


Tinha um pré-juizo formado de que a resposta óbvia seria a necessidade da realização de uma cirurgia não desejada. Para minha surpresa, este não foi o “problema” relatado pela grande maioria. Situações tais como: não tenho com quem deixar meu gatinho, não posso deixar a loja por muito tempo, não quero entrar sem roupa na sala de cirurgia, precisaria falar com meu filho que está viajando antes da cirurgia, não quero tirar minha prótese dentária, etc. predominaram como resposta.


Os medos clássicos conhecidos pelos anestesiologistas tais como acordar durante o procedimento, sentir dor, náuseas, etc. também foram relatados, porém, o problema, ou a angústia dos pacientes eram as situações do dia a dia que foram interrompidas e não a cirurgia per si.


Em algumas situações, após a pergunta inicial, o paciente iniciava uma crise de choro. O que fazer? Deixar chorar. É uma forma de esteticidade bruta, que tem uma duração limitada e por vezes se faz necessária. Atenção é o que o paciente está solicitando, e o médico deve empenhar-se no sentido de fazer o paciente perceber que seu trabalho naquele momento é escutá-lo e auxiliá-lo. A prudência recomenda aguardar que cesse a crise, quando o paciente deve recomeçar a falar.


Uma segunda pergunta pode ser necessária nesta situação: “Em que posso lhe ajudar?”, seguida de uma breve explicação da função do anestesiologista. “Vou acompanhar seu procedimento cirúrgico e ficar ao seu lado durante todo o tempo da anestesia (importante frisar isto), providenciar para que não sinta dor no período pós operatório e que possamos passar por esta situação da melhor maneira possível e obter os melhores resultados possíveis.” Notem a semelhança de propósitos deste discurso com o que propõe um filósofo clinico, um psicólogo ou um psiquiatra a seus pacientes em consultório.


Antes de estudar filosofia clinica, ainda complementava este discurso com a seguinte frase: “e que o sr(a) possa voltar para casa o mais breve possível e retomar suas atividades. Quem pode saber se é isto que o paciente deseja? Esta simples frase, colocada sem conhecer a história do paciente, pode colocar em risco todo um relacionamento médico-paciente.


Uma boa maneira de iniciar a colheita da história clinica é perguntando a respeito de cirurgias e anestesias prévias. O ideal seria deixar o paciente relatar sua experiência em cada um dos procedimentos realizados. Assim, sem grandes interferências, o paciente vai mostrando dados de sua personalidade. Observa-se a estruturação de raciocínio, as emoções, a postura, o linguajar, etc.


Alguns pacientes são muito questionadores (argumentação derivada em filosofia clinica), alguns pesam os prós e contras da cirurgia (esquema resolutivo em FC), alguns já pesquisaram tudo na internet (buscas em FC), alguns querem a descrição exata do que vai acontecer (roteirizar em FC), alguns sugerem condutas ao médico (atalhos em FC), alguns colocam tudo nas mãos do médico e não querem saber detalhes (em direção ao desfecho em FC), alguns tem idéias pré concebidas a respeito da anestesia (pré-juizos em FC), etc.


As rotulações mencionadas são meramente didáticas e muito superficiais, mas servem para dar uma idéia de como pode ser colhida a Estrutura de Pensamento de um paciente através de uma anamnese em que não se direcione nem se apresse a conversa. E a partir do reconhecimento , mesmo que superficial, de como funciona a personalidade do paciente, pode-se tentar auxilia-lo com alguns procedimentos específicos. Cabe ressaltar dois pontos importantes: a) um agendamento ou uma intervenção mal realizada pode ser tão fatal emocionalmente ao paciente quanto um descuido técnico anestésico; b) teóricamente, e na prática nem sempre, o tempo médio de uma consulta é de 45 minutos, práticamente inviabilizando o desafio de uma abordagem emocional mais profunda, mesmo que o anestesiologista possua treinamento para realizá-la.


Mas vamos adiante, e quem sabe consigamos alguma luz até o final da explanação.


Dependendo da situação, pode-se lançar mão de um procedimento clinico chamado “Reconstrução”. A partir de um único dado colhido na anamnese, procura-se descobrir dados adjacentes da história do paciente que ajudem a reconstruir a história de uma outra maneira. É preciso que o paciente seja suscetível a este tipo de reconstrução. Exemplificando: o paciente relata que na última anestesia teve uma sensação muito ruim, pois vomitou demais no pós-operatório. A reconstrução se basearia na consulta de dados adjacentes ao procedimento anestésico, onde se buscassem situações agradáveis a serem inseridas no contexto daquela anestesia. A anestesia foi uma cesareana? Com quantos Kg nasceu seu filho? Mamou logo que nasceu? Como foi o primeiro banho? Sentiu muita dor? Filmaram o procedimento? Seu companheiro assistiu o parto? A preocupação do médico seria inserir elementos positivos naquela anestesia, reconstruindo de uma maneira agradável aquela experiência. O cuidado extremo na realização deste procedimento é que uma inserção mal feita pode resultar em uma reconstrução num sentido mais desagradável ainda.


Pacientes costumam relatar medo da anestesia, e, pode ser tentada a técnica de faze-los “percepcionar” este medo. Busca-se detalhes deste medo através da montagem de uma cena onde o mesmo possa ser palpado, percepcionado. Uma cena virtual, porém de preferência tridimensional, com cheiros, luzes, etc. Ao nos aprofundarmos na questão, podemos descobrir que o medo se refere à escuridão, barulhos, tamanho da injeção, etc. De posse destes dados, pode-se então introduzir elementos que darão mais segurança ao paciente no sentido de enfrentar os medos agora percepcionados.


O paciente, uma vez hospitalizado, é afastado de seu convívio familiar, social e profissional e passa a conviver com situações novas. É neste momento que o mesmo passa a ser dependente de um profissional que possa cuidá-lo e ao mesmo tempo ser um elo de ligação entre as novas rotinas e o mundo do qual foi afastado.


Em breve, teremos computadores sofisticados, precisos e eficazes, capazes de calcular doses anestésicas de acordo com sua farmacocinética e adequando-as baseado na monitorização minimamente invasiva dos sinais vitais. Todo este avanço tecnológico e científico pode se tornar inócuo, pois estes mesmos aparelhos serão impessoais e assustadores para os pacientes. Frios, surdos e mudos. A quem caberá o papel humanizador? Quem será o elo de ligação? O anestesiologista, à enfermagem, psicólogos, filósofos clínicos? Quem fará a diferença neste processo?
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Até quando a satisfação é satisfatória?

A tendência do ser humano é desejar aquilo que não possui. Um carro novo, um doce, terminar a faculdade, alivio de uma dor, corpo esbelto, mulher do vizinho, etc. Por vezes, estes desejos até já foram satisfeitos e possuídos em algum lugar no passado, mas em outro contexto (o carro atual já foi novo há dois anos atrás, a dor de dente que tanto incomoda não existia antes, engordou 15 quilos no último ano), porém, no momento do desejo, o usual é não existir a posse.

Mesmo os desejos considerados anti-sociais e competitivos (morte de um inimigo, derrota do oponente nas eleições, vitória na competição) refletem uma situação ainda não vivenciada, não possuída na circunstância atual.

Entretanto, o fato de se desejar o que não se possui, pressupõe imaginação de uma situação futura. O ponto de partida para a previsão dos sentimentos futuros, basicamente se origina em sensações vivenciadas no presente ou no passado. Imagina-se que ao se satisfazer determinado desejo, a sensação de satisfação será de acordo com alguma experiência vivida no passado ou algo parecido com o presente, projetados para quando o desejo se realizar. E nem sempre, ou quase nunca, acontece desta maneira. Nossa bola de cristal para prever o futuro, quase sempre falha.

Quando compramos um novo par de óculos, comparamos como ficaríamos mais na moda com os óculos expostos na vitrine (futuro), do que com os óculos sem estilo que estamos usando (presente). Então compramos os novos e jogamos os velhos numa gaveta. Teoricamente deveríamos ficar satisfeitos e felizes, mas na prática nem sempre é assim. Logo começam a surgir fatos não previstos pela nossa imaginação: fizemos uma divida maior do que o planejado, alguém criticou o visual diferente, a armação do óculos é muito pesada, nossa visão ficou turva. E quando vemos, aquele desejo tão sonhado está nos dando mais incômodos do que prazeres. Como é possível sonhar tanto com algo, desejar e planejar durante tanto tempo a compra e quando alcançamos o objetivo e é chegado o momento de usufruir, não ficamos satisfeitos?

O problema é que aquele futuro imaginado não previu todas as situações. As situações imaginadas, baseadas no presente, puderam ser controladas durante o planejamento (momento presente) mas o que de fato aconteceu e não foi previsto (momento futuro), causou, neste caso específico, insatisfação com o resultado obtido.

Consideremos então o contrário: nossas previsões deram certo, ficamos satisfeitos e felizes com a compra dos óculos, ou melhor ainda, as coisas aconteceram melhor do que imaginávamos. Ficamos encantados. Mas até quando a satisfação será satisfatória?

Depois de alguns dias, já não comparamos mais os óculos novos com os velhos, e o prazer que sentimos com aquela comparação acaba se perdendo. Logo ficamos habituados aos óculos novos e então, passamos a fazer novas comparações e ter novos desejos.

Acontecendo conforme o planejado ou não, o destino final será sempre a insatisfação? Tudo é só uma questão de tempo? Será que a insatisfação é um mal a ser combatido?

Imagine se um aluno ao aprender a somar nos primeiros anos de escola se desse por satisfeito e não quisesse mais aprender as outras operações matemáticas, se os portugueses e espanhóis satisfeitos com suas terras não tivessem organizado expedições para descobrir o novo mundo, ou se ao inventar o computador o homem se desse por satisfeito. A busca do desejo é um fator determinante da evolução da espécie humana, e a insatisfação com os resultados obtidos desta busca também é uma alavanca no processo de evolução.

Devemos então buscar a satisfação ou a insatisfação? Depende. Estamos falando de fome, conhecimento, emoções, óculos novos...A busca desesperada da satisfação pode ser a causa da insatisfação. Segundo Pelet de la Lòreze, “Há mais pessoas desgraçadas pela falta do supérfluo do que pela falta do necessário.”

Por ser baseado em imaginação, e sujeito a falhas, algo planejado e projetado para o futuro, possivelmente, não será completamente satisfatório, e mesmo que seja, quando se alcança o sonho tão desejado, provávelmente já se estará num futuro, diferente daquele momento em que se teve o sonho, com outra cabeça e outras demandas, e seria no mínimo arriscado ousar tentar imaginar o grau de satisfação dos outros e de nós mesmos num tempo futuro.

Os questionamentos são muitos e as respostas não satisfazem completamente, mas resta ainda mais uma dúvida: Feliz é aquele que se satisfaz com aquilo que possui?
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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Boa Noite!

Algumas pessoas acreditam que dormir é uma perda de tempo. “Quando morrer, vou ter tempo de sobra para dormir e descansar”, é um adágio popular que reforça a idéia do desperdício de vida durante o sono. Adeptos desta teoria, costumam orgulhar-se do fato de que três ou quatro horas diárias de sono são suficientes para que recuperem suas energias.

Infelizmente, não é bem assim que as coisas funcionam. Quando o dia nasce, a luz penetra pela retina do seres humanos, estimulando seu metabolismo, e, quando o sol se põe, o metabolismo diminui. A função é manter o corpo em estado de alerta durante a claridade e em repouso na escuridão. A esta alternância entre sono e vigília, 16 horas acordado e oito horas dormindo, chama-se ritmo circadiano, do latim “Circa diem”- cerca de um dia.

Este ciclo é controlado pelo cérebro (hipotálamo) que funciona como um maestro. Numa orquestra, cada músico sabe tocar seu instrumento, conhece a partitura, mas é o maestro quem vai informar o momento exato em que cada músico deve entrar na sinfonia. Se um instrumento for tocado no momento errado, prejudicará toda a performance. Assim, a medida que o sol vai se pondo no horizonte, o hipotálamo vai diminuindo os níveis do hormônio cortisol (que mantém o corpo alerta), vai baixando a temperatura corporal e inicia a secreção de melatonina (hormônio indutor do sono), para que possamos dormir. Este é o mecanismo de funcionamento com o qual o homem foi criado para interagir na natureza.

Se ocorrer uma alteração na ordem interna de secreção hormonal, teremos uma dessincronização, com dificuldade para cairmos no sono. Luz, exercícios físicos, drogas, hormônios, podem alterar o ritmo circadiano e promover uma dessincronização.

Desde que o homem inventou a lâmpada, a noite pode artificialmente se transformar em dia, e com o surgimento de casas, janelas, óculos escuros, o dia também pode virar noite. Assim, os horários da natureza de nascer e pôr do sol, acordar e dormir, aumento e diminuição da secreção hormonal passaram a ser modificados pela evolução humana. A vida moderna se apresenta com trabalhos noturnos, festas na madrugada, academias de ginástica à noite, levando pessoas a não utilizarem seus corpos de acordo com o manual de fabricação: 16 horas acordados durante o dia e 8 horas dormindo à noite.
Qual o problema em se alterar o manual do fabricante em relação ao sono?

O funcionamento normal do Sistema Nervoso depende do ciclo sono-vigília. Durante o sono, o corpo humano funciona de maneira semelhante a um super mercado, que abre suas portas às 8:00 horas e fecha as 24:00 horas. Depois que a loja é fechada ao público, funcionários trabalham durante a noite na limpeza, manutenção, reposição de estoque, para que na manhã seguinte, os clientes encontrem a loja em condições ótimas para realizar suas compras. Durante o sono, o Sistema Nervoso Autônomo trabalha sem parar na limpeza do organismo humano, retirando radicais livres, produzindo hormônios que são liberados somente durante o sono profundo, etc. É como se ao dormirmos, entregássemos a chave de nosso corpo para um funcionário restaurar o que houvesse sido danificado durante o dia de trabalho.

Imagine-se trancado em uma sala durante oito horas, sem comer, beber, ir ao banheiro, falar, se movimentar e com um mecanismo interno de restauração e limpeza. É isto que acontece nas oito horas noturnas de sono e que está recomendado no manual do fabricante.

Além disto, somente durante o sono profundo, ocorre a secreção do hormônio do crescimento, fundamental na restauração e multiplicação celular. Noites mal dormidas, com sono superficial, não conseguem produzir o hormônio, levando a um envelhecimento precoce.

É no sono profundo (sono REM) que acontecem os sonhos. Durante os sonhos, experiências vividas recentemente são processadas e armazenadas no cérebro. A falta de sono profundo leva à problemas relacionados à déficit de memória para fatos recentes.

Por estas razões, afirma-se que uma hora de sono perdido, jamais poderá ser reposta, ao menos no que se refere à reposição celular e memória, visto que uma soneca de uma ou duas horas durante o dia, visando repor o sono perdido da noite, não chega a alcançar a profundidade necessária para secreção hormonal e sonhos.

De qualquer maneira, a soneca depois do almoço tem sua finalidade: reduzir a fadiga, que também é um efeito colateral de noites mal dormidas. Depois de 24 horas sem dormir, o sistema nervoso já está em fadiga. Testes de atenção demonstraram resultados semelhantes ao de pessoas que ingeriram três doses de whisky – 10 decigramas/litro de álcool no sangue. O nível alcoólico permitido em alguns países para dirigir veículos varia entre 6-8 decigramas/litro, o que equivale a 19 horas acordado.

Qualquer atividade realizada após dezenove horas de vigília, encontrará o organismo trabalhando dessincronizado do ritmo circadiano associado à fadiga por falta de sono. Ocorre um somatório de fatores contra-producentes: o corpo preparado para dormir, sonolento, fatigado, ineficiente, desatento e com predisposição a causar acidentes.

Conseqüências a curto prazo da dessincronização do ritmo circadiano? Algumas pessoas dormindo acordadas e outras deitadas sem conseguir dormir. Por vezes, a mesma pessoa encontra-se dormindo em pé e acordada ao deitar. Verdadeiros zumbis.

Conseqüências a médio e longo prazo? Envelhecimento precoce, déficit de memória, ansiedade, mau humor, reações emocionais exageradas frente a acontecimentos negativos.

Sabemos que produtos devem ser utilizados de acordo com as instruções contidas em seu manual de funcionamento. A natureza, em sua imensa sabedoria, proveu o funcionamento do homem com o ritmo circadiano de sono e vigília. O homem entretanto, parece ter um certo prazer em desafiar as leis da natureza, mesmo que para isto possa, conscientemente ou não, estar agredindo a si próprio e seus semelhantes.

Vale a pena perder horas de sono que jamais serão recuperadas? Depende. Se estas horas de sono forem trocadas por encontros, emoções, trabalhos, prazeres, atitudes que também se perderão para sempre se não acontecerem naquele momento, deve ser feita uma reflexão. Cada indivíduo deve pesar o valor relativo de uma noite acordada.

Antes perder uma noite de sono do que sonhar acordado ou mesmo dormindo com algo que foi perdido para sempre. Mas antes de escolher, é recomendável uma boa noite de sono para que as idéias fiquem bem claras.

Que possamos nos comportar como a “Bela Adormecida”, que dormia profundamente, mas trocou o sono pelo beijo de um príncipe. Boa noite!

Fragmento de palestra apresentada durante o 54 Congresso Brasileiro de Anestesiologia em Natal – nov/2007
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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

PARA QUE SERVEM AS EMOÇÕES?

Imagine um mundo sem emoções. Todos os seres humanos funcionando como computadores. A comunicação entre as pessoas realizada apenas pelo conteúdo da linguagem, na sua mais plena literalidade, através de um processo de perguntas e respostas. Nenhuma alteração no tom de voz, na expressão facial, na postura.

Como um casal demonstraria afeto, amor, paixão, excitação, sem a capacidade de sentir e demonstrar emoções? Como as pessoas se relacionariam sem emoções? Tente imaginar um diálogo. Talvez você não seja capaz de imaginar, pela simples razão de estar acostumado, desde o nascimento, a viver em contato com outras pessoas e a vivenciar emoções em maior ou menor grau, ficando difícil, senão quase impossível, vislumbrar um mundo sem emoções.

Desde o processo de amamentação, onde a mãe afasta o filho do mamilo e este grita, chora, esperneia, faz caretas em sinal de protesto, passando pelos ganhos e perdas da infância e adolescência, relações sexuais com parceiros, transações comerciais, etc, vemos que o ser humano vive uma inter-dependência de necessidades com seus semelhantes. Estas conexões acabam por despertar emoções, que nem sempre são agradáveis.

Algumas pessoas possuem, ou acabam por criar mecanismos protetores contra emoções. No intuito de preservarem-se de sentimentos desagradáveis, minimizam as emoções. Passam a vida como navios ao mar, que passam ao largo uns dos outros.

Vale a pena viver sem emoções? Sem emoções, o ser humano seria indiferente aos outros, teria dificuldade em armazenar memórias e provavelmente teríamos um mundo onde as decisões seriam tomadas exclusivamente pela razão.

Religiões e até mesmo alguns filósofos pregam que o homem deva se esforçar para ser mais cerebral, mais racional e menos carnal, tendo controle sobre suas emoções. O fato de alguém possuir um corpo com emoções, muitas vezes é visto como uma fraqueza. De fato, tanto a inexistência como o descontrole emocional, podem ser deletérios, muitas vezes inviabilizando um convívio social.

O paradoxo está justamente no fato de que decisões éticas baseiam-se muito mais em emoções do que na razão propriamente dita. Quando estamos frente a uma situação onde a escolha é entre o certo e o errado, a racionalização é simples. Matar ou não matar? Estudar para a prova ou colar? Decisões facilmente previsíveis, baseadas em códigos morais da sociedade que aprovam ou desaprovam determinadas condutas.

A dificuldade surge quando a escolha precisa ser feita entre duas situações potencialmente corretas. Sacrificar um animal que está sofrendo sem possibilidade de alívio ou não matar? Dar esmolas na esquina ou não? Punir um erro involuntário ou não?

Quem resolve estes dilemas? Leis, religião, filosofia, racionalização, não conseguem contemplar o universo de embates éticos que podem ser colocados frente aos indivíduos.

Quando decisões envolvem relacionamento, dependência, vulnerabilidade, as emoções podem servir como uma bússola interna, ativando lembranças e memórias de situações onde as pessoas foram alimentadas, cuidadas, amadas, abraçadas, desprezadas, ignoradas, abandonadas.

A lembrança de emoções experimentadas ao longo de uma vida, remetendo ao modo como fomos tratados e como nos sentimos, serve como uma bússola orientando decisões sobre como devemos tratar os outros. No momento em que ocorre uma inversão de papéis e um indivíduo consegue se colocar no lugar de outro, as emoções passam a ser responsáveis pelas decisões éticas entre o certo e o potencialmente também certo.

Enquanto os problemas e decisões forem relativos à situações hipotéticas e abstratas, a razão é soberana. No momento em que um ser vivo sensibilizar, afetar, emocionar outro semelhante, as emoções assumem o controle, remetendo-se a situações e valores que suportem a decisão a ser tomada e que remontam a milhões de anos de evolução da humanidade, pois em se falando de emoções, estas permanecem inalteradas em sua essência desde que o mundo é mundo.

Para que servem as emoções? Para nos diferenciar dos computadores, dar mais colorido a vida, ter um espírito mais cooperativo e principalmente, inibir atos que possam prejudicar aos outros.
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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DESCOMPORTE-SE

Em tese, comportamentos tem, intrinsecamente uma função.
Beber água (comportamento), com a função de matar a sede.
Beber cerveja (comportamento) para esquecer alguém (função).
Estudar bastante (comportamento) para passar no vestibular (função).
Vestir-se bem (comportamento) para impressionar (função).
Porém, nem sempre a relação entre comportamento e função é facilmente identificada e de simples compreensão.

Grande parte dos comportamentos são desempenhados sem raciocínio. Manifestam-se como um ato reflexo, quase que automático, não havendo um planejamento consciente e minucioso nem tempo hábil para ajustes e testes de desempenho de forma a antever que aquele comportamento irá conduzir a um objetivo específico e desejado.

Vale lembrar que comportamentos são a exteriorização da personalidade, portanto sujeitos a interferências de formação educacional, familiar, social, cultural, aliadas a fatores de ordem interna, tais como emoções, pré-juízos, sensações, os quais são acionados e combinados nas mais diversas situações, gerando comportamentos que nem sempre tem ou guardam relação direta e lógica com funções.

Algumas pessoas passam uma vida inteira se comportando de determinada maneira, enquadradas em algum raciocínio sofista, buscando cumprir funções completamente absurdas e irreais.
Assim, podemos ter comportamentos que não gerem funções, comportamentos que gerem mais de uma função, e até mesmo, funções não relacionados a comportamentos.

Compreendendo que um comportamento nem sempre remete a uma função e vice-versa, como saber se um comportamento está vinculado a uma função?

É preciso um comportamento estar relacionado a um objetivo definido?

Ingerir bebidas alcoólicas tem somente a função de esquecer algo?

Vestir-se bem deve estar relacionado somente ao fim de impressionar os outros?

Estes questionamentos levaram a uma inquietação e forçaram uma visão mais ampla do assunto: A separação entre comportamento e finalidade/objetivo/função, poderia abrir novas perspectivas.

Durante a guerra do Golfo, a rainha-mãe do Sultanato de Omã, país aliado dos Estados Unidos, adoeceu e foi transferida para tratamento em Washington (EUA). Após a alta hospitalar, com a finalidade de dar uma continuidade no tratamento, foi desenvolvido um sistema de tele-medicina. Computadores e câmeras digitais interligando hospitais de Washington e Mascate (capital de Omã), permitiram que fossem transferidas eletrônicamente informações médicas, inclusive imagens digitalizadas, colocando a paciente de maneira a ser "vista" com a frequência necessária.

O comportamento tradicional da relação médico-paciente é presencial, ou seja o paciente frente a frente com o médico. O objetivo é o diagnóstico e tratamento. Geralmente comportamento e função estão associados em uma instituição médica. Neste caso, tivemos a preservação do objetivo/função (diagnóstico e tratamento) com o comportamento assumindo um novo formato (computadores e redes de alta velocidade).

Depois deste episódio inicial do uso da tele-medicina surgiram cirurgias a distância com robôs, video-conferências, consultas a distância, preservando a finalidade da medicina, mas agora com alteração comportamental.

Desvinculando, procurando novos comportamentos para determinadas funções, surgiram grandes descobertas, que permitiram a evolução da humanidade, mas, ao mesmo tempo, provocaram grandes confusões comportamentais.

Promessas de campanha eleitoral em troca de votos, de mordomias no céu após a morte em defesa da pátria, de status após a compra de determinado produto, de beleza após determinado tratamento, podem funcionar como maquiagens para se obter determinado tipo de comportamento. Metas ilusórias ou ilusões funcionais, criadas pela própria pessoa ou por outros para justificar ou induzir determinados comportamentos, que eventualmente alienam e servem de consolo aos iludidos.

Qual a importância de desvincular comportamento e função?
Liberdade.
Liberdade para se comportar sem preocupação específica com determinada função.
Liberdade para procurar tipos alternativos de comportamento que proporcionem as mesmas ou outras funções, e acima de tudo, liberdade para identificar e corrigir comportamentos anômalos e equivocados.
Sinta-se livre para comportar-se ou, se quiser, descomporte-se.
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domingo, 7 de outubro de 2007

ALERTA: RUIDOS NA TRANSMISSÃO

Na tentativa da comunicação verbal, nem sempre o que um fala é o que o outro escuta, e o mesmo pode ocorrer na forma escrita, quando o que se apresenta pode ser lido e entendido de maneiras diferentes.

A origem desta falta de sintonia pode partir tanto de quem envia como de quem recebe a mensagem, pois uma série de interferências internas e externas estão em jogo.

Nem sempre é fácil exprimir em palavras pensamentos e emoções, ou, em outros termos, é difícil transmitir com clareza um sentimento ou uma emoção, e talvez o motivo desta dificuldade seja a própria emoção, mas isto é um outro assunto...

Se por um lado existe a dificuldade em transmitir, receber também tem suas peculiaridades. Pessoas escutam, lêem, vêem e depois interpretam a mensagem de acordo com suas visões de mundo. Distorções também podem acontecer por desatenção, expectativa e ansiedade em assimilar de imediato o conteúdo da mensagem recebida. Um velho ditado popular já dizia “cada um escuta o que quer ouvir”.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, dizia que o mundo não é mais do que “representação”, tendo de um lado o objeto constituído a partir de espaço e tempo e de outro a consciência subjetiva acerca do mundo, sem a qual este não existiria. O objeto, a coisa em si, passaria a ser representada por símbolos, idéias, valores, utilidade, de acordo com as visões de mundo de quem os estivesse utilizando.

Desacertos, brigas, mal-entendidos, quebras de contrato, divórcios podem vir a acontecer por descompasso no relacionamento, na comunicação ou em ambos. A literalidade das palavras poderia ser uma tentativa válida de sintonia na comunicação?

O ser humano é essencialmente verbal, utiliza palavras tanto para explicar como também para enganar, iludir, persuadir.

A linguagem verbal pode utilizar meios complementares, tais como gestos e expressões corporais, (“o corpo fala”), sem falar em recursos da própria palavra, trazidos pela diferentes culturas, tais como gírias, metáforas, simbologias, etc.

Experimente literalizar a explicação de um pensamento ou sentimento sem o uso de metáforas, simbologias e você terá idéia da dificuldade. Todos esses recursos utilizados podem ser eficientes para prender a atenção do receptor, mas não necessariamente ao conteúdo da mensagem. Podem inclusive, ter efeito contrário ao desejado, desviando a atenção e dificultando o processo de compreensão.

Mesmo quando do uso de uma mentira, isto nem sempre é um sinal de hipocrisia, pois às vezes acredita-se tão firmemente na versão ou visão criada, que a mentira está sendo contada inicialmente para o próprio criador e a palavra emitida já sai distorcida da realidade.

Há que se considerar que palavras nem sempre acompanham a velocidade do pensamento, e a diversidade humana representada por vivências, crenças, expectativas, bagagem cultural torna o processo de comunicação eficaz uma missão praticamente impossível. Assim, palavras, emitidas ou recebidas em plena literalidade, não seriam confiáveis e seriam incompletas em seu significado.

Talvez uma alternativa menos sujeita a falhas fosse prestar mais atenção aos atos, ao comportamento do que as palavras e promessas. Confúncio já dizia: “Atue antes de falar, e portanto fale de acordo com seus atos”.A distância entre o que as pessoas dizem e fazem muitas vezes não é percebida nem por quem fala nem por quem ouve.

Quando alguém nos dá a entender determinada situação, dizendo as palavras que queríamos ouvir, nossa reação natural é encaixar as palavras em nossa visão de mundo e acreditar no que ouvimos, muitas vezes ignorando o comportamento e funcionamento incoerente do prometido. Nossa escolha foi prestar atenção somente no que nos interessa e nos iludir com as palavras, ignorando o objeto, a situação ou a conduta de quem promete.

Sob esta ótica, a palavra seria uma forma de manipular a representação de mundo das pessoas. Uma ferramenta poderosa, que dependendo do uso, pode criar, levantar ou destruir visões de mundo. E esta ferramenta pode ser ou vem sendo utilizada por políticos, publicitários, professores, artistas, terapeutas e formadores de opinião muitas vezes de maneira irresponsável, sem medida de suas conseqüências. Uma palavra mal interpretada, uma virgula fora do lugar, uma informação recebida sem reflexão, podem destruir pessoas, relacionamentos e até mesmo países.

Passemos a um exemplo prático: ao se anunciar um shampoo como o melhor para cabelos crespos, o que significa a palavra melhor? Qual a sua dimensão? Um político ao prometer um melhor tratamento a saúde pública, um terapeuta ao dizer que assim será melhor a seu paciente, um parceiro ao prometer melhor empenho, um professor ao indicar o melhor livro, estão pensando e transmitindo o quê? E o que foi captado pelo interlocutor terá alguma relação com o que foi pensado ou dito? Tudo depende de valores, elementos essencialmente subjetivos, que podem divergir completamente na concepção dos interlocutores.

Cuidado com as palavras. Palavras são anões. Exemplos são gigantes. Um verdadeiro intelectual não é medido pelo que lê, escreve ou fala, e sim por uma vida comprometida com suas idéias.

O critério de escolha de um político, terapeuta, companheiro, produto ou serviço ao se basear em palavras, titulações ou estética pode ser falho e gerar desilusões. A observância do comportamento, comprometimento e coerência entre o falar e o fazer são condutas mais apropriadas tanto para quem fala como para quem ouve, não esquecendo de que o silêncio pode falar mais do que mil palavras.
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sábado, 29 de setembro de 2007

Marketing para o Anestesiologista




Os dois grandes ramos da Medicina sempre foram a Clinica e a Cirurgia. Quase a totalidade dos médicos dedicava-se ao estudo da técnica e clínica cirúrgica ou clinica médica, e relegavam a anestesia a um plano secundário. Enfermeiras, estudantes, religiosos eram encarregados de praticar anestesia, e o faziam de maneira muito precária. As deficiências eram múltiplas: formação anestésica inadequada, falta de medicações seguras, inexistência de monitores e aparelhos de aplicação de anestesia fidedignos. Em mãos não habilitadas, a administração de anestesia torna-se muito perigosa, e, como conseqüência, ocorreram vários acidentes; óbitos, seqüelas físicas (plegias, atelectasias, pneumonias, insuficiências renais, enfartes, etc) e psicológicas.

Evidências concretas criaram a fama de que a anestesia era perigosa, e sempre haveria o risco de alguma complicação anestésica durante o procedimento cirúrgico. Em épocas de carência de conhecimento médico e desinformação da população, tornou-se cômodo imputar qualquer infortúnio no período peri operatório como conseqüência da utilização da anestesia. Expressões tais como "Não resistiu à anestesia", eram utilizadas para explicar tanto complicações por hipotensâo devida a vasodilatação como por hemorragias intensas.

A evolução da anestesia para uma especialidade médica com formação específica, a criação de entidades associativas, o conhecimento mais aprimorado do mecanismo de ação e efeitos dos anestésicos e medicações adjuvantes, o surgimento de medicamentos mais seguros, a monitorizaçâo mais ampla e fidedigna e a aparelhagem anestésica com recursos de precisão, fizeram com que a morbi/ mortalidade da anestesia decaíssem sensivelmente. Eventualmente ainda ocorrem acidentes, e quando acontecem, geralmente a equipe médica não fornece informações imediatas e precisas, favorecendo que familiares e mídia passem a divulgar suas versões, que realimentam a fama da anestesia ser perigosa.

0 anestesiologista, ao invés de ser visto como um médico especialista que cuidará do bem estar e das funções vitais do paciente durante o peri-operatório (um guardião do sono), é muitas vezes confundido como o "vilão" do procedimento cirúrgico.

Além destes fatores relacionados à insucessos, existe um agravante. A anestesia faz parte de uma categoria de produtos e serviços não desejados. Ninguém submete-se a uma anestesia por desejo, e sim, por necessidade absoluta. Algo que não é desejado e ainda pode ser perigoso, faz com que as pessoas se afastem.

Marketing, na sua versão mais simplista, significa "dar-se" para o mercado, "mostrar-se", "oferecer-se". Em uma operação exitosa de marketing, o cliente deve ter anseios de obter o produto/serviço oferecido. Em outras palavras, o produto/serviço "vende-se" por si mesmo.

Não se deve confundir marketing com propaganda e vendas. Uma série de estratégias e ações são efetivadas dentro de um planejamento de marketing, sendo a mídia o final de um processo. As estratégias de marketing podem iniciar até mesmo antes do produto existir. Na área médica, a utilização da mídia como marketing, talvez seja a ação menos importante.

0 objetivo deste estudo é colocar o marketing (arte de fazer com que o cliente deseje determinado produto) à serviço da anestesia (produto não desejado e potencialmente perigoso).

0 marketing vem em socorro da anestesia para melhorar sua imagem, fazer com que a anestesia se "venda" melhor e aprofundar o relacionamento com a sociedade.

0 anestesiologista em seu trabalho diário é um representante da categoria e seu comportamento profissional, reflete-se na imagem da especialidade. 0 relacionamento com pacientes, familiares, cirurgiões, clínicos, enfermagem, indústria farmacêutica, direção hospitalar, planos de saúde, imprensa e colegas anestesiologistas, formará a imagem do profissional, que indiretamente espelhará o padrão da especialidade. Um profissional mal orientado pode prejudicar todo o trabalho de uma categoria.

Baseados na premissa de que atitude e comportamento determinarão a formação e propagação da imagem do profissional e da especialidade, orientações no sentido de superar as expectativas do cliente, contribuirão para reverter a imagem "negativa" da anestesia, resultado de décadas de obscuridade tanto do saber anestésico como do próprio anestesiologista que mantinha sua atividade restrita à sala de cirurgia.

A relação do anestesiologista com o paciente é pobre em quantidade, porém pode ser riquíssima em qualidade. 0 paciente, via de regra, entra em contato com o anestesiologista em virtude da necessidade de uma cirurgia. Nesta situação, iniciam-se todos os temores em relação à anestesia, frutos da bagagem de informações adquiridas ao longo de suas vivências. 0 resultado costuma ser um paciente ansioso, carente, receoso de entregar o controle de sua vida à um estranho que realizará um procedimento potencialmente perigoso.(

Exatamente neste momento (paciente no auge de sua ansiedade), é quando o anestesiologista tem a oportunidade de, entendendo a situação do paciente, relacionar-se de maneira a oferecer conforto, segurança e conhecimento, modificando a imagem de "vilão" para "protetor da saúde do paciente".

Empatia significa tratar o paciente como gostaríamos de ser tratados, e a empatia pode ser alcançada através de atitudes muito simples: chamando o paciente pelo nome, olhando nos olhos, escutando com atenção, tocando o paciente, não utilizando termos técnicos de difícil compreensão. Firmar compromissos também é importante: assegurar presença e constante vigilância ao lado do paciente durante todo o procedimento, prescrição de analgésicos, localizaçâo imediata no pós operatório, se necessário.

Adquirir a confiança do paciente é fundamental para o sucesso do tratamento, porém, confiança não se pede, conquista-se. Alguns minutos de anamnese e exame físico são suficientes, desde que o médico esteja realmente neste tempo somente focado no paciente e faça-o sentir seu interesse. A medicação pré-anestésica e a anestesia propriamente dita poderão ter suas dosagens diminuídas, dependendo do grau de confiança conquistado.

Recomendações relativas à jejum, uso ou interrupção de medicamentos, data e horário da cirurgia devem ser entregues ao paciente de maneira escrita. Folders explicativos referentes aos tipos de anestesia, importância do jejum, cuidados pré e pós operatórios, complicações, etc podem ser entregues ao paciente ao final da consulta. A assinatura do consentimento informado da realização da anestesia é um procedimento indicado.(4) Todo o material impresso é importante, na medida em que tangibiliza o serviço realizado. 0 paciente sente-se mais seguro ao sair de uma consulta com instruções escritas, ao mesmo tempo em que o nome, endereço e telefone do anestesiologista ficam registrados no material impresso.

0 consultório é o local ideal para a realização da avaliação pré anestésica, e seu uso deve ser estimulado através da criação de salas específicas com sinalização adequada dentro de hospitais, ou consultórios privados, onde rotineiramente todos os pacientes candidatos à cirurgia eletiva sejam avaliados.

0 crescimento da área de atuação do anestesiologista, sendo agora responsável pelo peri-operatório e não apenas pelo trans-operatório como no passado, trouxe um envolvimento maior com pacientes, familiares e equipe médica, favorecendo o reconhecimento e divulgação de seu trabalho.

Cuidados no pós operatório são fundamentais. As recordações que o paciente guarda da anestesia, são do período pré e pós anestésico, visto que, via de regra, durante a cirurgia o mesmo se encontra sedado ou dormindo. Prescrição de medicaçâo anti-emética, analgesia, hidratação, manutenção da homeostasia, ansiolíticos, trazem conforto e bem estar ao paciente, fazendo com que as lembranças da internação hospitalar e da anestesia possam ser agradáveis.

Acompanhamento no Centro de Recuperação e na Unidade de Internação após o procedimento, trazem a oportunidade de divulgação da especialidade através da atuação do médico e do esclarecimento de dúvidas. Nesta ocasião é importante demonstrar preocupação com a satisfação do cliente e qualidade do serviço oferecido, pois serão os determinantes da imagem formada e propagada pelo paciente.

A evolução do conhecimento científico deve ser estimulada e demonstrada. Criação de Serviços de Anestesia em hospitais, discussões de casos clínicos com a equipe cirúrgica, desenvolvimento de protocolos específicos, realização seminários e palestras de atualização e/ou revisão, estímulo à pesquisa, estágios e congressos são ações que facilitam a percepção do desenvolvimento contínuo da especialidade. 0 conhecimento médico deve ser percebido tanto por colegas de outras especialidades como pela população leiga. Programas de esclarecimento à comunidade através da imprensa, palestras, exposições, auxiliam o processo de divulgação do aprimoramento e segurança alcançados pela anestesia.(5)

Entidades associativas assumem papel fundamental demonstrando organização, liderança e representatividade junto a organizações médicas, governamentais e privadas. A participação efetiva dos anestesiologistas fortalece as Sociedades Regional e Nacional.

Excelência no atendimento, pontualidade, aprimoramento e divulgação do conhecimento científico, empatia, coleguismo, conscientizaçâo do trabalho em equipe, tangibilização, participação associativa, são atribuições diárias de um profissional.(6) 0 reconhecimento do valor e da qualidade de um médico por colegas e pela população será o sinalizador de que seu trabalho está atingindo ou mesmo superando as expectativas e contribuindo para elevar o grau de confiança em sua especialidade.
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terça-feira, 25 de setembro de 2007

NEM TUDO QUE SE ENXERGA É O QUE SE VÊ

Muitas técnicas podem ser utilizadas para se tentar mexer com cabeça das pessoas. Psiquiatras, psicólogos, filósofos clínicos seguindo seus conhecimentos utilizam-nas com finalidades terapêuticas. Mas nem sempre a manipulação do pensamento é realizada com esta finalidade.

Publicitários, por exemplo, lançam campanhas na mídia em que aparecem modelos belíssimas com carros de último tipo sempre cercadas de boas companhias e com aparência de extrema alegria e felicidade. Qual o objetivo final? Mostrar as características do automóvel? Provavelmente não. A idéia é alimentar a ansiedade do público a respeito de seus bens materiais insuficientes, sua aparência desgastada, seu desempenho sexual abaixo das expectativas, etc, porque um consumidor insatisfeito, teoricamente, é mais induzido a comprar.

De maneira semelhante, a imprensa prende nossa atenção com histórias de crimes violentos, desastres naturais, escândalos políticos, acidentes aéreos, seqüestros, realizando uma das estratégias mais antigas e até hoje eficaz, que é a promoção do medo, visando mexer com o imaginário das pessoas. Se a maioria da população é pobre, não viaja de avião, não sabe votar, qual seria o objetivo de destacar estes fatos em horário nobre na televisão e nos jornais? Qual a conseqüência de ficarmos sendo bombardeados diariamente com estas noticias? Desenvolvimento de medo, ansiedade e revolta em nossas mentes. A lista de medos que as pessoas carregam é proporcional às informações a que elas tem acesso. Descarregando diáriamente incertezas e medos na população, provavelmente acabe por se desenvolver e justificar uma ansiedade permanente, levando os consumidores a aliviar suas tensões da maneira mais fácil: comprando.

Sempre existe o outro lado. O medo pode fazer com que as pessoas deixem de comprar. Com a desordem e o caos nos aeroportos brasileiros, muitos turistas procuram outras alternativas para suas férias, deixando os aviões de lado. A cidade do Rio de Janeiro perdeu milhares de turistas em face da criminalidade. É justamente ai, que entra o papel do medo no consumo. Se uma pessoa tem medo de algo, pode lançar mão de duas alternativas: fugir ou enfrentar. Apostando que a maioria da população vai evitar o que lhe causa medo e ansiedade, os publicitários ao desejarem vender viagens terrestres, expõem a crise aérea. Ao se demonstrar o aumento da criminalidade, fica mais fácil vender planos de segurança, seguros de vida, condomínios fechados, grades para as janelas, fechaduras mais resistentes, passeios e compras em ambientes seguros como shopping centers, e turismo para regiões mais tranqüilas.

Porém de um modo geral, as pessoas ao dedicarem atenção exagerada a certas situações, descuidam-se de perigos verdadeiros e imediatos. Ao nos preocuparmos com o caos aéreo, com o deputado que recebeu propina, com o personagem do reality show, com o jogador de futebol que faltou ao treino, deixamos de ver outras coisas. Não nos preocupamos com alimentação adequada, deixamos de usar cinto de segurança, convivemos com o aquecimento global, injustiça social, e até mesmo esquecemos de nossas angústias pessoais momentaneamente. Isto pode ser chamado de alienação induzida, e pode ser muito perigoso.
O medo, a curto prazo, não produz mudanças duradouras, mas, apesar da sensação desagradável, a longo prazo pode resultar em ações protetoras. Mas para que isto aconteça, as ameaças devem ser claramente identificadas, a partir de fontes precisas e fidedignas. A instigação do medo pela mídia, governo, imprensa tem objetivo de nos manter assustados e olhando para um lado, que muitas vezes não é o lado que deveríamos olhar. Às vezes nos mostram algo para que fiquemos focados e preocupados somente com aquilo e não vejamos o resto e outras vezes nos mostram algo para que sejamos manipulados na direção contrária, induzindo-nos ao consumismo e a alienação. Nem sempre o que se enxerga é o que se vê.

Bibliografia: Livingston, G – Velho muito cedo, Sábio muito tarde – Rio de Janeiro – Editora Sextante - 2007
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quinta-feira, 6 de setembro de 2007

AUTO-ESTIMA E A SAÚDE DA MAMA

Fala-se muito em auto-estima, mas nem todos tem uma noção exata do que seja e nem de como ela funciona. São comuns expressões como “minha auto-estima está muito baixa porque engordei 10 Kg” ou “fui despedido e agora minha auto-estima está lá embaixo”. Considerar a auto-estima como uma gangorra, oscilando de acordo com as circunstâncias é semelhante a compará-la a um termômetro das emoções: se algo vai bem, ela sobe; caso contrário, desaba. Auto-estima é mais do que um termômetro emocional.
Auto-estima é basicamente um estado mental, uma avaliação positiva ou negativa que cada um tem de si. Não tem nada a ver com o que os outros falam ou pensam. É o que cada um pensa e sente a seu respeito. Se esta imagem que é criada corresponde ou não à realidade é um outro assunto, mas é esta imagem que vai ser a referência para lidar com o mundo e afetará todos os aspectos da vida. Existem mulheres, modelos profissionais, aplaudidas, reverenciadas e desejadas pelos homens, que se julgam magras e feias. Não importam os aplausos, as capas de revista ou os convites de casamento, a imagem de magra e feia é quem domina suas atitudes, apesar do aparente sucesso profissional.
O comportamento e os hábitos das pessoas são influenciados por suas auto-estimas, que podem ser baixas ou elevadas, mas não são imutáveis e podem ser reforçadas ou diminuídas, dependendo das circunstâncias.
Pessoas com auto-estima elevada sentem-se seguras, capazes de enfrentar desafios, tem boa comunicação verbal e não verbal, pensam que suas vidas fazem diferença para o mundo e para as pessoas, tem esperança no futuro. Pessoas com baixa auto-estima sentem-se cansadas, frustradas, desanimadas, inseguras, indecisas, acham-se de pouca valia, não tem boa comunicação, são desconfiadas e apresentam chance maior de contrair doenças.
Auto-estima é causa e não conseqüência. Assim, a pessoa engordou ou está indo mal profissionalmente porque sua auto-estima é baixa, e não o contrário. A baixa auto-estima é que foi a causa destes transtornos. Além disto, obesidade não tem nada a ver com baixa auto-estima; existem “gordinhas” com auto-estimas maravilhosas.
Qual a relação entre auto-estima e a saúde da mama?
Uma mulher com baixa auto-estima, sentindo-se insegura, desanimada, desconfiada, com má comunicação, achando-se de pouca valia, ao tomar banho palpa um nódulo em sua mama. Provavelmente, deixará o medo e a insegurança assumirem o controle da situação e não procurará auxílio médico, negando e escondendo o problema de si e da família. Quando a doença já tiver evoluído bastante, o tratamento conseqüentemente será mais agressivo (mastectomia total, quimioterapia, etc), e estas intervenções reforçarão na mente da pessoa seu estado depressivo e de baixa auto-estima.
Quando uma pessoa tem em mente a crença de que não merece estar bem, que nunca alcançará o sucesso ou que sua saúde não é boa, sua mente vai trabalhar para fazer cumprir esta profecia.
O comportamento típico de uma mulher com baixa auto-estima foi o que a levou a este circulo vicioso: depressão > não cuidar da saúde > evolução da doença > tratamento agressivo > depressão.
Mulheres com auto-estima reforçada prezam a vida, tem esperança no futuro, e a palpação de um nódulo em suas mamas provavelmente será encarada de maneira positiva, pois sabem de seu valor para o mundo e para as pessoas e enfrentarão mais este desafio em suas vidas com confiança e fé. Estas mulheres, além de vencerem a doença, eventualmente tornam-se voluntárias e trabalham em prol de auxiliar outras mulheres que possam necessitar de apoio, conselhos, experiência.
A doença é a mesma, a maneira de encarar e a atitude a ser tomada é que fazem toda a diferença, e a auto-estima pode ser a responsável por um ou outro comportamento. Procure manter sua auto-estima em alta e sua vida será melhor. E se quiser auxiliar o Instituto da Mama e outras mulheres, isto já será um reforço para sua auto-estima.

Resumo de palestra realizada no IV Simpósio de Educação para a Saúde da Mama, realizado em 07/12/2006 pelo IMAMA-RS
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terça-feira, 28 de agosto de 2007

Filosofia Clinica e Medicina

Quando uma pessoa apresenta determinado sintoma (dor abdominal, tontura, enxaqueca, febre, etc), geralmente é submetida a uma investigação composta de história clínica, exame físico e, quando necessário, exames laboratoriais. Em determinadas situações, nada de concreto é encontrado, a não ser a queixa do paciente. Prossegue-se então na busca de alguma patologia, passando-se a uma nova etapa: realização de exames mais sofisticados(ressonância magnética, cintilografia, endoscopia, cateterismo cardíaco, etc).
Duas situações podem se apresentar após investigações exaustivas: encontra-se a causa da sintomatologia apresentada e parte-se para o tratamento, ou os exames continuam dentro da normalidade ou levemente alterados sem apresentarem relação direta com as queixas do paciente.O que fazer nestas situações? Alguns médicos partem para uma nova bateria de exames ainda mais sofisticados, outros passam a tratar paliativamente o sintoma e, em determinadas ocasiões, o paciente cansado de tantos exames, procura outro médico ou até mesmo abandona o processo de investigação e tratamento, resignando-se a conviver com seu problema/queixa. Do ponto de vista estritamente físico, o diagnóstico deste paciente é de normalidade, assim sendo, eventualmente encaminha-se o mesmo para um tratamento psicológico, com suspeita de somatização.
A evolução da medicina, através da ampliação do conhecimento e do avanço tecnológico, permitiu que fossem captadas imagens do interior do corpo humano com facilidade e nitidez nunca dantes imaginadas. Assim, uma ressonância magnética cerebral, aliada a um eletroencefalograma e, quem sabe, um exame de liquor, podem dar muito mais acuidade e segurança a um diagnóstico do que a coleta da história clínica e testes neurológicos realizados pelo médico em seu consultório.
A situação que se coloca aos médicos de nossa sociedade tecnológica é a cobrança de diagnósticos com rapidez e precisão, atendimento de muitos pacientes em uma jornada de trabalho para garantia de sua sobrevivência e comprovação documentada do atendimento, visando proteção contra possíveis ações judiciais por erro médico. Muito embora seja enfatizado inúmeras vezes na formação de um médico que a história clinica e o exame físico são soberanos aos exames laboratoriais complementares, submetido a estas pressões, às vezes fica mais fácil ao médico, realizar um rápido exame clínico e solicitar de imediato os exames complementares, talvez descuidando um pouco ou até mesmo comprometendo a relação médico-paciente em troca de uma agilidade, segurança e precisão tecnológicas.
De qualquer maneira, vemos que o diagnóstico de saúde física geralmente é firmado quando um paciente assintomático, após a realização da história clínica e exame físico, não apresenta padrões alterados da normalidade nos exames realizados. Mesmo com a evolução da medicina, que deixou de ser apenas curativa para se preocupar também em prevenir doenças, os exames clínicos e laboratoriais é que determinarão se o paciente encontra-se saudável ou com doença.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, já definiu o que é saúde: “Estado de total bem estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou enfermidade”. Por esta definição, três entre quatro pessoas estariam “doentes”, ou não gozariam de saúde.A medicina, nos seus primórdios, provavelmente não tinha condições de reconhecer e tratar os transtornos mentais. Os pacientes desajustados socialmente, popularmente conhecidos como “loucos”, eram trancafiados em locais que mais tarde passaram a se chamar sanatórios, isolando-os do convívio social e familiar. Mais tarde, surgiu a especialidade que se dedicaria ao estudo e tratamento dos problemas da mente: a psiquiatria, que, sendo um ramo da medicina, passou a ter uma nomenclatura específica para cada desordem ou transtorno mental apresentado pelo paciente. Estas entidades estão catalogadas no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition (DSM-IV), publicado pela American Psychiatric Association em 1994 e revisado em 2000.Em psiquiatria, se eventualmente um paciente não for enquadrado em nenhuma categoria da DSM-IV, talvez receba o rótulo de normalidade mental e social. Segundo a OMS, este título atinge 25% das pessoas.
Estariam os 75% restantes das pessoas com desajustes mentais e sociais? Quais os exames para a detecção de bem estar mental e social? O que fazer?A experiência de consultório tem demonstrado aos médicos das mais variadas especialidades, principalmente na área de ginecologia e obstetrícia, que um grande número de pacientes vai ao consultório por um determinado sintoma, mas termina falando e se queixando de seus relacionamentos e problemas conjugais, obrigando muitas vezes os médicos a atuarem em uma área para a qual não foram treinados especificamente.Médicos que trabalham em Unidades de Tratamento Intensivo atendem pacientes em estado grave, muitas vezes comatosos que aparentemente não se comunicam, outras vezes à beira da morte. Estes médicos relatam suas dificuldades em amparar toda uma gama de familiares e amigos, que podem precisar de apoio nestas horas, pelas mais variadas razões (indisponibilidade de tempo, treinamento insuficiente na área de relações humanas, dificuldades de relacionamento inerentes ao próprio médico, etc.).Outros médicos relatam suas experiências ao comunicar um diagnóstico de câncer.
Alguns pacientes desabam, outros negam, questionam, agridem, têm sua visão obscurecida, outro grupo toma atitudes positivas, apela para a fé, esperança, etc. Cada paciente vai reagir psicologicamente a sua maneira, que pode ser prevista através de um acompanhamento especializado prévio à comunicação do diagnóstico, atenuando ou até mesmo estimulando as reações emocionais que se apresentem.
Nestas e em outras situações é que a filosofia clínica pode ser útil à Medicina e à população em geral. Partindo do princípio que o trabalho de um filósofo clinico é promover o bem estar, auxiliando cada indivíduo a entender, ou pelo menos conviver com seus dilemas existenciais, servindo como um amigo que estará ao seu lado na jornada que se apresenta como difícil, e quem sabe sofrida, já temos um caminho.Não necessariamente um caminho de cura, nem de diagnósticos. Saúde não é apenas um diagnóstico, mas uma postura de bem viver. Não é o corpo que está doente, mas todo o ser.
A preocupação maior no tratamento não é eliminar a doença e sim dar condições ao paciente de expressar suas dores e conviver com seus males existenciais da melhor forma possível.Com o auxilio de procedimentos clínicos, tais como tradução, retroação, atalho, percepção, roteirizar, informação dirigida, busca, direcionamento ao desfecho, às emoções, etc, planejados para cada situação em particular, o filósofo clinico pode auxiliar um paciente com diagnóstico de tumor cerebral e sua família a enfrentar a doença e suportar o sofrimento, fazer uma pessoa entender o motivo de suas enxaquecas e cansaço, demonstrar à equipe médica que a sintomatologia apresentada pelo paciente pode ser um dado de semiose não verbal (assim como os sonhos podem refletir os problemas da mente, o corpo pode mostrar através dos sintomas, situações conflituosas), identificar um dado de semiose não verbal num paciente comatoso, mostrar a uma pessoa enlutada que o sofrimento com a perda não precisa ser combatido por ser algo desagradável, encorajar ou encontrar uma maneira que torne possível um paciente claustrofóbico realizar uma ressonância magnética, acompanhar um paciente que tentou o suicídio ao sofrer uma desilusão amorosa.
Quando um paciente passa a necessitar doses maiores de insulina para controlar sua diabetes, quando a pressão arterial começa a se elevar, o simples aumento na dose das medicações seria o tratamento ou apenas alivio dos sintomas? Estes desequilíbrios hormonais não poderiam ser resultados de conflitos emocionais? O tempo exíguo de uma consulta, a perda da qualidade na relação médico-paciente e o treinamento em tratar doenças físicas, fazem com que o médico, mesmo atento aos efeitos emocionais na saúde física, porém sem condições de ir mais fundo por este caminho, possa eventualmente prescrever a estes pacientes um sedativo ou um anti-depressivo como medicação complementar.
Baseados nos ensinamentos filosóficos sobre sofrimento, dor, amor, buscas, preconceitos, liberdade, religiosidade, emoções, etc, surgiu a filosofia clínica, que através de metodologia específica para entendimento da estrutura de pensamento de cada indivíduo, sem rótulos ou preconceitos limitadores, visa contornar justamente estes mal estares e até “desajustes” de vivência social que estão incorporados ao dia a dia moderno.O filósofo clínico não está autorizado a prescrever medicamentos. Sua função seria recompor no paciente a figura de sua singularidade existencial, vindo a suprir, quem sabe, a lacuna deixada pelos médicos de uma relação mais humana e direcionada aos problemas, por assim dizer, da alma. Um trabalho a ser realizado em parceria com médicos, psiquiatras, assistentes sociais e demais membros de uma equipe multidisciplinar de saúde.
A filosofia clínica surge como uma alternativa a ser somada à medicina, seja na profilaxia de várias doenças, onde o bem estar mental e social podem fazer o indivíduo perceber seu papel existencial e sua função na preservação de sua saúde e dos que o cercam, seja na compreensão por parte da equipe médica, de que o paciente, através de sua representação do mundo, de seu entendimento das coisas, é quem vai dar a medida do que é doença e saúde e do que é normal e anormal. Parafraseando Winnicott : “Ausência de doença pode ser saúde, mas não é vida”.
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domingo, 26 de agosto de 2007

VOCÊ JÁ TEVE VONTADE DE CHUTAR O BALDE?

“Ao aprender a pensar, quase me esqueci de sentir”


Durante a noite não dormiu direito, estudando e pensando as tarefas que teria por realizar no dia seguinte. Acordou cedo, tomou um café bebido e saiu para o trabalho. No caminho, um engarrafamento de trânsito, pedintes nas esquinas e falta de vagas no estacionamento. É necessária uma ligação ao celular avisando do atraso involuntário. A secretária comunica já está sendo aguardando e as pessoas estão ansiosas.
Ao descer do carro percebe que esqueceu de trazer uma pasta com documentos e também de beijar sua esposa e filhos. Não lembra se fechou ou não a porta da garagem. Inicia-se a reunião e seu pensamento está no cliente da tarde que deve assinar um contrato interessante. O telefone celular toca avisando que o cliente da tarde precisa antecipar a reunião. O colega de trabalho pede uma ajuda em seus relatórios. Prometeu ao filho busca-lo na escola e leva-lo ao futebol.
As cenas acima podem até parecer uma novela, e poderiam se estender infinitamente, mas sabe quem é o personagem principal desta história? VOCÊ!
As situações procuram demonstrar episódios imaginários da vida de um trabalhador na busca por qualificação profissional, bons salários, reconhecimento e uma carreira de sucesso, e, de alguma maneira, você pode ter se identificado.

Sessenta a oitenta horas de jornada semanal, plantões no final de semana, trabalho noturno, estudos, viagem para congressos, muitas noites dormidas ou mal dormidas em hotéis, hospitais. Alguma semelhança com sua rotina?
Esta rotina de trabalho sob pressão, com exigências cada vez maiores pode se estender por muitos anos e ser percebida como um enorme prazer, um verdadeiro barato: a vida moderna!
Nos últimos dez ou quinze anos, principalmente nas grandes cidades, a vida tornou-se mais rápida, agitada e perigosa. Sem que tenhamos consciência, nosso cérebro percebe riscos potenciais e põe o corpo em estado de alerta em frações de segundo. Este mecanismo de proteção filogenético (estresse) foi desenvolvido para que quando nos defrontássemos com um urso enorme ou um assaltante na esquina , tivéssemos forças para enfrenta-los ou fugir, porém, este “estado de alerta” esta funcionando da mesma maneira quando o chefe, o colega, o governo, o trânsito, a família nos colocam sob pressão.
A supra-renal libera hormônios, o coração acelera, a pressão arterial sobe, as pupilas dilatam, os músculos se contraem; tudo para auxiliar o ser humano a enfrentar situações de perigo. Se o estresse perdurar por semanas, meses ou anos, esta carga hormonal em permanente atividade na corrente sanguínea deixará marcas em quase todos os órgãos do corpo humano. Há tempos a ciência sabe que a liberação continuada de cortisol debilita o sistema imunológico, deixando o organismo mais sujeito a infecções. Em alguns casos, o estresse prolongado repercute apenas na psique e em outros, atinge também o físico.
Poderíamos definir estresse como uma resposta adaptativa não específica do organismo a qualquer mudança, demanda, desafio ou trauma. Esta resposta visa manter o equilíbrio, a sobrevivência.
Um quadro mais grave e que poderia ser encarado como o clímax do estresse ou o estado mais depressivo do estresse é a “Síndrome do Esgotamento Profissional”, ou burnout. Do inglês “to burn out”, que significa queima por completo, consumir-se.
Costuma ter predileção por profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas e de grande relevância para o usuário. Profissionais liberais e assalariados que iniciam suas carreiras cheios de sonhos e expectativas, empenhando-se ao máximo na busca pelo sucesso e de repente,as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço passa a parecer inútil. Atitudes e condutas negativas ou cínicas em relação aos usuários, clientes , organização e trabalho são freqüentes.
Ao mesmo tempo, desaparece o interesse por outras pessoas, os contatos sociais vão se restringindo ao mínimo necessário. Cedo ou tarde, a capacidade de desempenho começa a se reduzir. Há falta de concentração, a memória é prejudicada, e não surgem mais idéias criativas. Neste ponto, a constatação de que não se está trabalhando direito redunda em uma pressão interna ainda maior, tendo início um ciclo vicioso.

Alguns autores diferenciam o burnout do estresse pelo fato do último ser um esgotamento pessoal com interferência na vida pessoal do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho, ao passo que o burnout seria um quadro clínico resultante da má adaptação do homem ao seu trabalho caracterizado pelo esgotamento físico, psíquico e emocional com reflexos também no trabalho.

Infelizmente , os afetados são muitas vezes os últimos a perceber sua situação crítica. Em determinado momento, a partida de futebol é cancelada, a viagem é adiada. No trabalho, a dor de cabeça o impede de realizar suas tarefas e não são poucos os que fracassam por subestimar a gravidade da situação.
Mais de 15% dos pacientes com distúrbios de caráter depressivo, apresentam na realidade, a síndrome do esgotamento profissional. A síndrome do esgotamento profissional é de difícil diagnóstico, pois se manifesta por mais de cento e trinta sintomas já descritos, variando desde manifestações de gastrite, úlcera péptica, colite, cefaléia, perda de peso, alterações menstruais, aborto espontâneo, diarréia, alergias, hipertensão arterial, taquiarritmias, dores musculares, depressão do sistema auto-imune, aceleração do envelhecimento, memória afetada, distúrbios do sono, desorientação, irritabilidade, absenteísmo profissional, até manifestações tais como aumento do consumo de café, álcool e drogas, depressão e tentativa de suicídio.
Ninguém se esgota da noite para o dia. Ao contrário, as baterias falham tão devagar que nem sequer registram as sutis alterações. As pressões enfrentadas diariamente são como gotas de água enchendo um copo.
Aquela cefaléia, as tonturas no final de semana, azia eventualmente, os lapsos de memória, são encarados superficialmente ou como por efeitos de vapores exalados, da má alimentação, etc. O relacionamento desgastado com colegas, a falta de ânimo para programações com a família e amigos são traduzidos por excesso de trabalho, que será compensado com umas férias mais adiante.
Em um determinado momento, ocorre uma reviravolta, o copo transborda. O sistema colapsa. O sentimento de que por mais elevado que seja o seu desempenho profissional, não será reconhecido a contento, resulta numa crise de insatisfação, e , todos os princípios e qualidades pessoais que levaram as pessoas adiante durante tantos anos, de repente se voltam contra elas, não lhes permitindo mais sair da roda viva do estresse.

Quanto antes se procura ajuda especializada melhor, pois o tempo influi no prognóstico do tratamento, que é demorado e trabalhoso. É preciso aprender que existem outras fontes de satisfação capazes de nutrir a auto-estima. Deve-se tentar recuperar a vida sob outros pontos de apoio.
Um investimento na formação e capacitação profissional, estabelecendo prioridades, valores e metas, com uma visão realista da situação profissional e limitações pessoais torna-se essencial, porém deve-se estar alerta para perceber indicações que passarão a surgir neste novo caminho. Ações direcionadas no sentido da prevenção do excesso de horas extras, melhora das condições físicas e sociais de trabalho, participação em programas de combate ao estresse também fazem parte da estratégia individual de tratamento.
Atenção especial deve ser dada à saúde. Dois terços das doenças do sistema cardiovascular e quatro quintos das patologias cancerígenas podem ser prevenidas. Dieta adequada, atividade física, higiene, vacinas, horas de repouso e de sono, entretenimento, tempo dedicado aos amigos e família não podem ser relegados a um segundo plano.. Não fumar, uso de cinto de segurança no automóvel, visitas à médicos e dentistas podem fazer a diferença para uma vida mais longa e saudável.
O pedido de auxílio quando necessário, nos vários assuntos pessoais e profissionais, através de uma comunicação aberta, faz com que sejam compartilhados pensamentos e sentimentos. Somente sendo mais flexível, de corpo e alma, consegue-se lidar bem com o novo; seja um novo paradigma, um novo membro na equipe ou uma novidade tecnológica.
Celulares, internet, pagers, mantém as pessoas conectadas e acessíveis 24 horas por dia e, desta maneira, terminaram com a linha divisória entre trabalho, casa e férias.
Novos passatempos, encontros com amigos, música, natureza, dança, esportes com preferência para os competitivos que mobilizam forças internas, tomada de decisões e riscos, podem funcionar como um laboratório para uma adaptação a uma nova realidade.

O ideal seria a prevenção pela informação. Se soubermos nos proteger das conseqüências, adotaremos o mais cedo possível uma postura que dê à saúde e ao bem estar psíquico no mínimo, a mesma importância atribuída à ascensão na carreira profissional.

Algumas reflexões se impõem: Aonde você quer chegar?
Quais são seus valores genuínos?
Qualificação profissional, bons salários, reconhecimento e uma carreira de sucesso?
“O verdadeiro sucesso é medido por aquilo que se tem de renunciar para obtê-lo”.
Você está renunciando à família, amigos, lazer, estudos, amor próprio em troca de quais valores?
A vida pode mudar num instante. O futuro pode ser alterado num piscar de olhos. Nenhum trabalho, por mais gratificante que seja, compensa perder umas férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família.
A vida vai passando rapidamente. Quando se vê já é sexta-feira, já é Natal, já estamos em outro ano. Mas ao invés de viver, sobrevivemos, porque não sabemos fazer outra coisa. Perdemos dias, às vezes anos. Nos calamos quando deveríamos falar. Falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio. Reclamamos do que não temos ou achamos que não temos o suficiente. Cobramos dos outros, da vida, de nós mesmos. Costumamos comparar nossas vidas com as daqueles que possuem mais que a gente.
Estamos nos consumindo.
Até um determinado ponto, o sucesso depende de você. Depois, depende de como você lida com ele.
Pense bem nos seus valores verdadeiros, e, se for necessário, recomece de uma maneira diferente enquanto é tempo.
Acredite em você, dê uma nova chance a si mesmo.
Fique pronto para a vida.
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sábado, 18 de agosto de 2007

Me falta uma mulher, me sobram seis tequilas...

"Me falta uma mulher, me sobram seis tequilas;
me falta um coração, me sobram cinco estrelas,
de hotéis de ocasião...", estes versos do cantor espanhol Joaquin Sabina nos remetem a carências que são substituidas ou trocadas por alternativas amenizadoras da dor e sofrimento. A midia trabalha muito com estas substituições. Quando um consumidor sai a procura de um determinado produto ou serviço, seu objetivo é o suprimento da carência em foco. Se a necessidade é um pneu novo, um relógio, uma caneta, a solução é fácil. O problema começa a surgir quando se descobre que nem todas as carências podem ser repostas e nem todos os consumidores conseguem identificar claramente suas carências.
Sabendo destas dificuldades, os profissionais do marketing criaram uma espécie de "coringa". Conceitos associados a produtos e serviços, que aumentariam o espectro dos mesmos, criando a possibilidade de se encaixarem de alguma maneira, no desejo consciente ou não do consumidor. A função original de um automóvel é ser um meio de transporte. Um consumidor com necessidade de um meio de locomoção vai a uma concessionária testar diversos modelos e escolhe o que mais lhe agradar dentro de seus critérios. Se for inserido a determinado automóvel o conceito de segurança, preservação ambiental, design, conforto, juventude, liberdade, poder, potência, economia,etc, a chance de sensibilizar determinada carência ou estilo de vida do cliente torna-se maior. Em determinadas circunstâncias , a carência de um consumidor pode ser sua insegurança e falta de poder no trabalho e na familia, e o que é comprado em substituição ou na esperança de adquirir estas carências é um automóvel com estes conceitos.
Cigarros e bebidas vendem conceitos de vida social, alegria, felicidade, férias, comemorações. Se o que está faltando ao cantor é uma mulher que lhe trazia alegria e felicidade, seis tequilas podem substituí-la? Hospedagem com mordomias em hotéis cinco estrelas, compras no shopping, substituem corações machucados? Cremes de beleza vão trazer de volta a juventude? Até mesmo os marketeiros sabem que estas trocas não são a solução das carências, mas o que se vê na prática, são pessoas carentes, pressionadas pela sociedade por uma vida feliz, ansiosas por alcançarem respostas sem muitas vezes saberem o que estão procurando, e que acabam se atirando em quase tudo que possa parecer uma nova chance de suprimento de necessidades, que muitas vezes nem suas são. E assim produtos e serviços, apoiados por uma midia poderosa, continuam vendendo a cada dia uma nova esperança a população carente.
A busca e a identificação das reais necessidades de um indivíduo quase nunca é realizada. O processo de introjeção é trabalhoso e dispende tempo e dinheiro. Provávelmente, o coringa oferecido pela mídia acenará com soluções a curto prazo, mais palpáveis e menos sacrificantes. E mais uma vez, como tantas outras anteriores, imbuidos de uma nova esperança, experimenta-se mais um coringa. Talvez por isto, Joaquin Sabina termine seus versos cantando "Me falta uma verdade, me sobram cem desculpas...".
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QUALIDADE X QUANTIDADE

Teóricamente parece simples a diferença entre qualidade e quantidade. Mas quando se fala em qualidade de vida, muita gente confunde com quantidade. Quantidade de vida, de coisas, de viagens, de amigos...
Pode-se estar viajando ao redor do mundo num cruzeiro fantástico, cercado de pessoas, ao lado de um(a) companheiro(a) belissimo(a), fazendo refeições saudáveis, caminhando todas as manhãs, tomando banhos de piscina, sem qualidade de vida alguma.
Um aparelho telefônico celular com câmera fotográfica, filmadora, rádio, internet, calculadora, despertador, etc, tem uma quantidade enorme de funções, mas será que consegue ter a mesma qualidade e os recursos de um aparelho (filmadora, por exemplo) isoladamente?
Quantidade não é a mesma coisa que qualidade. Um não exclui o outro necessáriamente, mas eventualmente...
Porém, quando nos perguntam sobre qualidade de vida, o pensamento que nos vem de imediato é: saúde, lazer, alimentação saudável, exercícios físicos, viagens...Será que não estamos colocando, à semelhança do aparelho celular, muitas funções nesta qualidade de vida?
O que é saúde? Segundo a Organização Mundial de Saúde, é o estado de total bem estar fisico, mental e social e não sómente a ausência de doença ou enfermidade. Por esta definição, tres entre quatro pessoas estão doentes. Passamos a buscar uma qualidade de vida que nem sabemos direito o que é, mas que imaginamos como deveria ser, pois alguns artistas e milionários ostentam esta aparência em revistas, televisão, etc. E partimos na busca desta qualidade/quantidade de vida. E perdemos qualidade de vida ao tentar alcançá-la, e nos estressamos ao tentar baixar nosso estresse, e ficamos infelizes de tanto buscar a felicidade.
Antes de pensar em qualidade de vida, talvez seja interessante pensar primeiro em valores. O que realmente é importante para você? familia, saúde, estudos, lazer, alimentação, amores, trabalho, sonhos, viagens, dinheiro, amigos, imóveis, poder, sucesso... A partir destes valores, pode-se então, individualmente criar um padrão de qualidade de vida que sirva para você, e sómente para você.
Alguns valores são universais: dieta saudável, ausência de vícios, sono e exercícios regulares, pois comprovadamente diminuem a incidência de doenças fisicas e retardam o envelhecimento.
Um padrão individual de qualidade de vida pode ser ler um livro, passear com os netos, dormir após o almoço e jogar damas com os amigos. Outro padrão pode ser correr na praia, dar aulas na faculdade, dançar à noite. Outro pode ser cozinhar, lavar a louça e reunir a familia para o jantar.
Não custa tentarmos uma analogia com a aviação. Existem padrões de segurança e qualidade minimos , os quais são universais e obrigatórios. Para uns, além da segurança obrigatória regulamentada, qualidade em aviação deve incluir ausência de filas nos aeroportos, vôos sem atraso, lanches saborosos, comissários de bordo atenciosos, filmes como passatempo durante o vôo. Para outros, qualidade em aviação significa treinamento e descanso adequado da tripulação, aeronaves sempre revisadas com padrão ouro, pistas de pouso e decolagem com dimensões e condições seguras, controladores de vôo sem excesso de trabalho, etc . Novamente aqui, um não exclui o outro, e quantidade necessáriamente não exclui qualidade e nem pode ser considerada sinônimo.
Baseado em meus valores, o aparelho celular está a meu serviço, e não o contrário. Assim sendo, atendo-o quando achar necessário e for possivel. Não é preciso agir como um robô e cada vez que ouvir o toque, imediatamente atender. Desligo o celular quando não estou de plantão médico. As funções de meu aparelho são ligar e desligar, e , como acessório, apenas uma lanterna, que já me salvou de muitas escuridões. Outros acreditam que o telefone celular lhes permite ter uma qualidade de vida melhor, justamente por poderem ser localizados e estar em contato permanente com o mundo. São valores.E estes valores é quem vão definir o que é qualidade de vida para você.
Mas esta é a parte mais fácil, o difícil é assumir e realizar a mudança no sentido de atingir a "sua" qualidade de vida. Difícil, mas não impossível.
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