sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Médicos e detetives


O diagnóstico de uma doença é como uma tarefa sherlockiana. Cada paciente fornece uma série de sinais e sintomas exclusivos, que precisam ser interpretados para se chegar a um diagnóstico.  O paciente vai contando uma história, mostrando algumas pistas, deixando alguns sinais, para que sejam investigados. Cada caso é um caso.


O médico vai sendo desafiado todo instante a entrar no mundo do paciente e conhecê-lo. Pode perceber, por exemplo, que a dor referida não coincide com o local da lesão, que não existe ferida alguma que justifique aquele pranto ou dor, que a chaga se apossou do paciente, mas a causa está na família, que os sinais e sintomas direcionam para o lado oposto da história relatada, que não é a morte o maior medo do paciente, que não é a doença o motivo do sofrimento. Como decifrar estes enigmas?

Ao entrar realmente no mundo do outro, identificando-se com seu modo singular de viver, não se volta o mesmo. Volta-se com todas as experiências adquiridas. Alguns médicos não suportam esta pressão, preferem não se envolver e seguem sua carreira diagnosticando e tratando seus pacientes de acordo com os compêndios e classificações generalistas. 
Outros, imbuídos do paradoxo socrático (só sei que nada sei) e do estilo investigativo sherlockiano,  não se prendem ao mundo das aparências e dos manuais: investigam, surpreendem-se, colocam-se no lugar do outro, lutam e torcem por seus pacientes, que sentem e sabem não estar mais sozinhos em suas jornadas. Desta forma, juntos, médico e paciente, passam a procurar um final feliz. Nem sempre a cura, nem sempre um final, mas quase sempre a busca do não sofrer.

Um pedacinho de meu novo livro. Ainda não disponível. Aviso quando do lançamento, provavelmente no primeiro semestre 2015.