segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Antes de adormecer o corpo, é preciso convencer a alma




Durante anos trabalhando como anestesiologista, acompanhei milhares de pacientes e aprendi que é possível planejar a qualidade do sono que lhes  é oferecido. No inicio da profissão, realizava o procedimento de maneira estritamente técnico-científica. Instalava um cateter no braço do paciente, injetava o anestésico, fazia-o dormir,  mantinha seus sinais vitais estáveis, e, finalmente,  acordava-o devolvendo-lhe o controle de sua vida. Fazia o papel de uma sentinela que zelava pela segurança física durante o sono involuntário.

De tanto observar o sono alheio, percebi que nem todos adormeciam da mesma maneira, e nem todos despertavam igual. Mas isto não tinha nada a ver com o tipo ou dose de anestésico que estava utilizando. O estado emocional dos pacientes é que fazia a diferença no  dormir e acordar.

Enquanto uns se entregavam ao sono, outros resistiam. Enquanto alguns dormiam serenamente, outros se agitavam. Enquanto outros aparentavam felicidade, outros mais estavam contraídos e lacrimejando. Aprendi também que se o sono for bom, o acordar é melhor ainda. O contrário também é verdadeiro, aqueles que vão dormir intranqüilos, não terão paz e o sono será um verdadeiro castigo. Acordarão massacrados e enfrentarão um péssimo dia seguinte. Quem dorme com dúvidas, passa o dia sem certezas. Por conta de tudo isto, passei a encarar o sono como algo sagrado e me preocupar com o ritual da entrega ao sono.