Mostrando postagens com marcador prisão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador prisão. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de março de 2021

Sua casa é um lar?

 

 

Imagine um lugar onde não exista o perigo de contaminação com o coronavirus. Todos podem se tocar, abraçar, beijar, sem medo de adoecer. Seria bom, não é? Seria ótimo. Melhor ainda se todas as pessoas fossem saudáveis, nada de doenças. Este deve ser o sonho de consumo atual de toda humanidade.

Pois é, ficaria melhor ainda se, além disso, as pessoas não precisassem se envolver com política, governo, mandos, desmandos, arbitrariedades, fake news, impostos. Talvez não se envolver não seja a expressão mais adequada, as pessoas não precisariam tomar conhecimento daquilo que acontece fora de suas casas, simplesmente alienar-se-iam dos atos governamentais e tocariam suas vidas.

Já que sonhar não custa, imaginemos também comida, bebida, música, diversão, piscina, academia de ginástica, festas. Tudo do bom e do melhor. Em tese, estes seriam os ingredientes para uma vida feliz. O que mais poderia estar faltando? Telefone celular e internet podem facilitar ou atrapalhar, aproximar ou afastar, então, por via das dúvidas, seriam retirados de circulação. Nesses casos, menos pode ser mais.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Desencontro


Gilberto e eu éramos colegas de escola, depois ficamos amigos. Não amigos no sentido genérico da palavra, amigos de verdade, ou como se dizia na época, amigos por toda a vida. Convivíamos dia e noite. Durante os estudos para o vestibular, mensalmente cada um confeccionava uma prova simulada para o outro, o objetivo era ver quem tiraria as melhores notas.  Empatávamos, sempre nota dez para ambos. Eu queria Medicina e ele Engenharia.

O pai de Gilberto era militar e precisou mudar com a família para o Rio de Janeiro. A amizade não foi abalada. Continuamos elaborando provas de treinamento e enviando pelo correio. Não existia internet, celular, TV a cabo. Programas de televisão passavam primeiro no Rio de Janeiro e meses depois chegavam ao Rio Grande do Sul. Gilberto escrevia cartas contando como as novelas terminavam, e eu usava estas informações  de acordo com a conveniência.

Fomos aprovados muito bem no vestibular e seguimos nossas vidas, carreiras e correspondências. Gilberto fez concurso para um órgão governamental e rapidamente progrediu na função. Eventualmente precisava trabalhar em Porto Alegre e matávamos a saudade relembrando velhas histórias e atualizando novas aventuras. Recentemente nos encontramos, e ele contou que estava aposentado, pois havia se estressado demais no trabalho.

sábado, 24 de maio de 2014

Menos face, mais look


Mensagem recebida pelo Facebook: “Fiquei feliz em te ver no restaurante. Estás muito bem!”

Resposta ao amigo: “Querido Carlos, por que não vieste conversar comigo? Somos amigos e eu também ficaria muito feliz em te rever, trocar um abraço e algumas palavras. Dá próxima vez, deixa de lado o computador, a  rede social e senta comigo. Vai ser mais divertido.”

Estamos sendo dominados e virando prisioneiros da tecnologia que nós mesmos criamos. Só que a prisão não é uma cela pequena e escura onde ficamos isolados. Pelo contrário, é uma tela que nos oferece um  universo sem fronteiras, repleto de distrações e amigos virtuais. Podemos com um pequeno computador realizar mil atividades diferentes e concomitantes. Mandar e receber e-mails, mensagens, torpedos, assistir televisão, ver filmes, realizar buscas, namorar, fazer sexo, conectar com pessoas do mundo inteiro.

Entretanto, apesar da suposta liberdade, a pena é a mesma: Isolamento em uma vida pequena, trancada na solidão de uma telinha e amarrada a uma rede social virtual que prefere mostrar fotos e não emoções,  conversa horas sem contato visual, curte sem ao menos ler o que está escrito, cruza por você na rua e nem lhe cumprimenta.  Criamos telefones inteligentes e nos tornamos burros.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Preso por vontade própria

Depois do lançamento do livro, voltei para meu quarto, mas estava sem sono. Peguei um bom tinto que estava na geladeira, sentei na cadeira de balanço, abri a garrafa, enchi meia taça e enquanto o vinho respirava, fiquei olhando a lua através da lente formada pelo vidro contendo o liquido de cor escura.

Era noite de lua cheia, passava da meia noite, o silêncio indicava que a cidade estava dormindo e o único som que escutava, era uma coletânea de fados que havia ganho de um amigo e tocava suavemente no computador.

A lua se escondia por trás do vinho, mas conforme o balanço da taça, a fazia aparecer e desaparecer. Brinquei assim por uns bons minutos enquanto pensava nas coisas que pareciam estar anestesiadas em mim e começaram a despertar e também se fazer ver durante a viagem.