quinta-feira, 30 de outubro de 2008

HOMEM - O ANIMAL ÉTICO






Ao final de cada palestra costumo dedicar um tempo para interagir com o público. Sempre surgem dúvidas e casos interessantes. Se você tiver alguma pergunta, sugestão ou comentário, envie para esta coluna, que com muito prazer procurarei auxiliar.

Animais tem ética? Não. Animais agem por instinto de sobrevivência. Eles não são capazes de pensar num futuro maior do que alguns minutos, e suas ações são direcionadas ao aqui e agora.



Quando um esquilo começa a armazenar comida para o inverno, isto não está ligado a pensamentos sobre seu futuro. Dias mais curtos, com menos luz, automaticamente ativam este comportamento em todos os esquilos. Não é uma atitude individual. Quando uma fêmea chimpanzé dá de mamar a um gatinho órfão, o que está em jogo é o instinto maternal e não o pensamento lógico sobre o amparo a um bebê sem mãe.


Toda vez que você fizer um carinho em seu cão, receberá “lambidas” em retribuição. O cão pode proteger o dono de uma agressão, perceber as mudanças de humor na família, realizar tarefas domésticas e circenses e até ser chamado de o melhor amigo do homem por suas manifestações de lealdade e fidelidade. Em 2004 na Califórnia um labrador preto chamado Jet pulou na frente de seu melhor amigo, um garoto que estava prestes a ser mordido por uma cascavel, e recebeu o veneno. Foi considerado um herói. Não pensou em si mesmo, foi um verdadeiro altruísta.
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Este comportamento instintivo animal pode até ser ético em determinadas circunstâncias, porém não passa de uma coincidência ligando ação e reação, e provavelmente Jet, o cão herói, agiu desta maneira por considerar o menino como membro de sua matilha, prevalecendo o instinto de sobrevivência familiar.


Alguns animais possuem a capacidade de serem afetados pelo estado de outro indivíduo ou criatura. Esta característica, chamada de empatia, pode variar desde mímica corporal, quando se imita o movimento do outro (coçar, bocejar, sorrir, cruzar as pernas, mostrar os dentes) até o contágio emocional, quando as emoções dos outros são captadas e passam a ficar em sintonia (medo, alegria, raiva). Por este mecanismo, cães, macacos, golfinhos, elefantes eventualmente podem entender o sofrimento de outros o suficiente para oferecer ajuda. Não sabem o que é ética, mas a praticam.


Animais não conseguem pensar no futuro. O cão não guarda um pedaço de osso para dividir com outro cão. Enterra para que só ele possa achar daqui a alguns instantes quando a fome retornar. E muitas vezes esquece onde escondeu.


Ética exige mais do que instintos e imediatismos. Exige pensar e sentir a longo prazo. Trocar de posição com o outro e tentar entendê-lo, dar sem nada esperar em troca, ver da perspectiva do outro. Nestes quesitos os animais falham e não conseguem ser enquadrados na classificação de criaturas éticas em termos conceituais.


Em tese, humanos deveriam ter comportamentos éticos e animais, por não possuírem a capacidade de pensamento, estariam livres desta qualidade tão nobre e gratificante e ao mesmo tempo emocional e intelectualmente pesada. Muito embora alguns animais possam ser considerados quase que humanos e seus donos possam até mesmo confundir as posições, animais são animais e humanos são humanos.


A confusão se instala quando humanos, que possuem todas as condições para agirem de maneira ética, não o fazem, comportando-se por vezes tão mal, que suas atitudes passam a ser chamadas de desumanas ou até mesmo, animalescas.
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Tanto animais como humanos podem ser carinhosos ou agressivos, egocêntricos ou éticos, dependendo dos estímulos e instintos em ação. A diferença é que os homens possuem a capacidade de pensamento, que os permite refletir nas conseqüências de seus atos e optar por um caminho ou outro. Este direito de escolha que permite aos homens o livre arbítrio, permite também que os mesmos se enganem, o que não acontece com os animais. Ética é a arte de viver em liberdade para pensar e viver em sociedade.
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DAR SENTIDO AO ACORDAR



Você não dormiu direito. Pode ter sido insônia, um filho doente, uma festa que se prolongou ou um projeto a ser finalizado. O fato é que seu corpo não descansou, o sono não foi reparador e você tem um compromisso agendado. Qual sua estratégia para pular da cama cedo pela manhã e ir trabalhar, estudar ou cuidar da saúde praticando exercícios? O bom e velho despertador ainda é um dos métodos mais utilizados, mas infelizmente é muito primitivo.
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Você já deve ter tido a experiência desagradável de estar deitado, tentando ainda desesperadamente recuperar o sono e de repente aquele susto. Um barulho tão incômodo invadindo seus ouvidos que a freqüência cardíaca aumenta, a respiração fica ofegante e o corpo molhado de suor. Envolto por tal perturbação você instintivamente levanta e desliga aquele som. O dia já iniciou, o calendário mudou, porém você ainda não teve o tempo necessário para sair do ontem.

Mais do que isto, você realmente acordou ou simplesmente tomou um susto que o tirou da cama? Muitas vezes as pessoas se vestem, tomam café e partem para suas jornadas como sonâmbulos, fazendo obrigações automaticamente. Saem da cama às seis horas da manhã, passam o dia dormindo e só vão acordar mesmo lá pelas seis da tarde.

Na tentativa de amenizar o estresse do despertar artificial foram surgindo invenções: rádio relógios musicais, travesseiros programados para iniciarem vibrações suaves, condicionadores de ar que modificam a temperatura ambiente, lâmpadas que aumentam a claridade. Aparelhos que promovem a estimulação dos órgãos dos sentidos, modificando aguda ou lentamente condições ambientais, perturbando o sono e forçando sua interrupção de uma maneira menos danosa ao organismo.
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Seriam estas técnicas realmente menos nocivas ou apenas uma maneira mais agradável de estimular os sentidos, sendo o verdadeiro problema o despertar artificial? Seja como for, parece que uma coisa está clara: se quisermos interromper o sono de alguém, teremos que apelar para as sensações.

A palavra acordar tem sua origem em “cordatus”, que significa juízo aguçado, razão em pleno funcionamento e o termo despertar deriva do espanhol “espertar”, avivar, tornar-se esperto.

Interromper forçadamente o sono e levantar para realizar tarefas é diferente de acordar. O indivíduo vai acordar somente quando estiver pronto para isto. Em relação aos sentimentos e comportamentos não é diferente. Podem transcorrer anos e até mesmo toda uma existência e as emoções permanecerem adormecidas. Uma interpretação poética para acordar pode ser “dar cor para”, ou seja, sair do piloto automático e agir com o coração.

Um homem pode ficar todos os dias saindo da cama para trabalhar às seis horas da manhã e acordar realmente só aos sessenta anos de idade, quando descobre que esteve o tempo todo na profissão errada. Estar de olhos abertos, caminhando, conversando, trabalhando não significa estar desperto. Pode ter sido uma vida absolutamente sem cor, cinzenta e sonolenta.
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Os órgãos dos sentidos são indicadores, marcadores dos sentimentos e emoções que habitam nosso ser. Se ficarem restritos ao corpo físico, perderão uma de suas preciosas funções. Seremos mais zumbis do que despertos. O verdadeiro despertador é a consciência de que vale a pena acordar. Que a vida tem emoções, surpresas, cheiros, gostos e amores esperando para serem coloridos.
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Dormir é bom, importante e saudável; permite relaxar, repousar e sonhar. Acordar e abrir os olhos para a realidade pode até ser doloroso, mas estar presente no momento, ficar em pé fazendo pleno uso do corpo, coração e mente é viver concretamente o sonho
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