Conheceram-se pela internet. Moravam em países diferentes, tinham vinte anos de diferença de idade, falavam, torciam, votavam e rezavam para Deuses distintos. E mesmo com tudo diferente, os dois se falavam todo dia e a vontade de ficar juntos crescia, como tinha de ser. Estavam apaixonados e juravam que opostos se atraem e se completam. Quem disse que existe razão nas coisas feitas pelo coração? Apostaram nisto e decidiram casar. Familia, amigos e preconceitos jogavam contra, previam um choque cultural seguido de desilusão com a convivência conjugal.
Recomendaram um curso preparatório de noivos, O casal estava tão entusiasmado, que qualquer motivo para ficarem juntos era bem aceito. Logo na primeira aula, o rabino, um senhor de meia idade, com uma longa barba ruiva e sotaque meio russo, meio francês, comunica ao jovem casal, em tom solene e ao mesmo tempo suave, que se quiserem mesmo casar, terão de fazer uma escolha: “ Felizes” ou “Para sempre”. Uma opção ou outra, as duas juntas não combinavam. Aquele final tradicional dos livros românticos, casaram e foram felizes para sempre, só existia no papel. Na vida real essa possibilidade era muito remota. Deveriam, naquele momento, se conscientizar e escolher entre um relacionamento estável que lhes trouxesse paz ou uma vida de romance que acelerasse seus corações.
Foram pegos de surpresa. Estavam cheios de expectativas felizes para a nova vida que se anunciava e agora, de onde menos esperavam, recebem um balde de água fria. Queriam e sonhavam ser felizes e sequer cogitavam uma separação. O rabino percebendo o mal estar, ofereceu uma xícara de chá com limão e continuou sua prédica. Casamento é como tocar violino em cima de um telhado, é preciso ficar tentando arranhar uma simples e bela melodia, enquanto se cuida para não cair e quebrar o pescoço.