Gilberto e eu éramos colegas de escola, depois ficamos amigos.
Não amigos no sentido genérico da palavra, amigos de verdade, ou como se dizia
na época, amigos por toda a vida. Convivíamos dia e noite. Durante os estudos para
o vestibular, mensalmente cada um confeccionava uma prova simulada para o
outro, o objetivo era ver quem tiraria as melhores notas. Empatávamos, sempre nota dez para ambos. Eu
queria Medicina e ele Engenharia.
O pai de Gilberto era militar e precisou mudar com a família
para o Rio de Janeiro. A amizade não foi abalada. Continuamos elaborando provas
de treinamento e enviando pelo correio. Não existia internet, celular, TV a
cabo. Programas de televisão passavam primeiro no Rio de Janeiro e meses depois
chegavam ao Rio Grande do Sul. Gilberto escrevia cartas contando como as
novelas terminavam, e eu usava estas informações de acordo com a conveniência.
Fomos aprovados muito bem no vestibular e seguimos nossas
vidas, carreiras e correspondências. Gilberto fez concurso para um órgão governamental
e rapidamente progrediu na função. Eventualmente precisava trabalhar em Porto
Alegre e matávamos a saudade relembrando velhas histórias e atualizando novas
aventuras. Recentemente nos encontramos, e ele contou que estava aposentado,
pois havia se estressado demais no trabalho.