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terça-feira, 25 de abril de 2023

Idioma dos olhos

Aprendi com uma fotógrafa que para demonstrar felicidade em uma foto não é preciso sorrir com a boca, são os olhos que transmitem o estado de humor. Quantas vezes você já viu aquilo que chamamos de “sorriso amarelo”? Boca sorrindo e olhos chorando, denunciando o estado de espírito em sofrimento.  Quando uma pessoa está bem, seus olhos transmitem essa energia positiva que se projeta direto na foto. Não há como enganar.

Aprendi com meu neto Bernardo, que agora completou um ano de idade, que a boca também não é necessária para ser entendido, os olhos conseguem dizer quase tudo.

Quando brinco com ele e faço uma bolha de sabão, na tentativa de agarrá-la com as mãos, invariavelmente estoura. Ele me encara e seus olhos perguntam “onde foi parar a bola”? Ainda não tem capacidade de raciocínio para entender a fragilidade de uma bolha de sabão, o que ele quer mesmo saber é onde se meteu a tal bola que estava bem à sua frente, diante dos olhos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Sou feliz e não sabia

 

Algumas coisas são difíceis ou impossíveis de explicar ou definir com palavras. Se tentarmos enquadrá-las em algum conceito, imediatamente as perdemos. Quer um exemplo?

Felicidade é aquilo que sentimos quando comemos uma barra de chocolate. Será? Nem todos gostam de chocolate, e mesmo os que adoram, podem ficar felizes com o sabor doce em suas bocas, mas ao mesmo tempo, arrependidos por ingerirem calorias engordantes. Vou complicar um pouco mais.

Onde está escrito que não se pode estar feliz e arrependido ao mesmo tempo? Ou feliz e angustiado simultaneamente? O compositor Martinho da Vila já cantava: “Felicidade, passei no vestibular, mas a faculdade, ela é particular. Livros tão caros, tanta taxa pra pagar..”

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Desejo

 

Seres humanos vivem para amar – pelo menos na teoria.

Matam por amor – é um fato.

Morrem por amor – também é um fato. Física e espiritualmente.

Afinal, o que é o amor?

domingo, 2 de maio de 2021

Não adianta nem tentar me esquecer

 Esta semana perdi mais uma amiga para a Covid. Cuidava-se bastante até que num maldito dia se contaminou. Começou com tosse, febre e em seguida falta de ar. Precisou ser internada na UTI e logo em seguida entubada. A partir daí, o único contato que a família conseguia era uma curta mensagem diária do médico plantonista às 16 horas onde comunicava a evolução do quadro clínico.

Durante trinta e dois dias mensagens técnicas dizendo que a febre havia baixado, os rins não estavam funcionando direito, a oxigenação havia piorado, contraíra uma pneumonia, até o fatídico dia em que comunicaram que não resistiu e partiu para uma outra existência. Morte solitária, cruel, patética, num penoso e frigido leito hospitalar. 

Trinta e cinco dias antes dessa tragédia, conversávamos ao telefone, trocávamos mensagens, fazíamos planos para o término da pandemia. Agora ela não está mais aqui, virou cinzas. E nem conseguimos nos despedir. Não lhe foi permitido dizer adeus. Não me foi concedido um último abraço. Senti como se inesperadamente tivessem  me arrancado um pedaço, um braço, uma perna, uma orelha, uma parte do coração. Não foi só ela quem morreu, uma porção de mim partiu junto com ela.

Não só com pessoas acontecem essas doenças terminais, alguns relacionamentos patológicos também acabam na UTI, permanecem em coma afetivo sem comunicação durante anos, sustentados pela ilusão de uma ressuscitação, até que num bem ou mal aventurado dia se desligam. Com ou sem sofrimento, velório ou missa de sétimo dia. Essas mortes simbólicas podem ser mais difíceis de lidar que a morte real. Na morte real não há dúvida, na simbólica ainda há algo vivo.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Sua casa é um lar?

 

 

Imagine um lugar onde não exista o perigo de contaminação com o coronavirus. Todos podem se tocar, abraçar, beijar, sem medo de adoecer. Seria bom, não é? Seria ótimo. Melhor ainda se todas as pessoas fossem saudáveis, nada de doenças. Este deve ser o sonho de consumo atual de toda humanidade.

Pois é, ficaria melhor ainda se, além disso, as pessoas não precisassem se envolver com política, governo, mandos, desmandos, arbitrariedades, fake news, impostos. Talvez não se envolver não seja a expressão mais adequada, as pessoas não precisariam tomar conhecimento daquilo que acontece fora de suas casas, simplesmente alienar-se-iam dos atos governamentais e tocariam suas vidas.

Já que sonhar não custa, imaginemos também comida, bebida, música, diversão, piscina, academia de ginástica, festas. Tudo do bom e do melhor. Em tese, estes seriam os ingredientes para uma vida feliz. O que mais poderia estar faltando? Telefone celular e internet podem facilitar ou atrapalhar, aproximar ou afastar, então, por via das dúvidas, seriam retirados de circulação. Nesses casos, menos pode ser mais.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O domador, o mágico e o palhaço em mim

 

O que fazer para aguentar o isolamento social desta pandemia? Para mim, escrever é uma maneira de conviver em paz com a solidão e o isolamento. Posso estar trancado dentro de um quarto por horas a fio, posso não ver ninguém por vários dias, mas se estiver escrevendo não estou só, sequer no quarto estou. Mais que isso, quando escrevo, escapo temporariamente deste mundo de competição, pandemia, corrupção, preconceito, desigualdade e outras coisas que me fazem mal e entro no meu mundo encantado, onde crio cenários, personagens e histórias que me dão energia pra aguentar e enfrentar a dureza da vida.

Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “A Arte torna a vida suportável”, ou seja, através destas escapadelas esporádicas da realidade o ser humano consegue a estabilidade necessária para suportar as adversidades cotidianas. A meu modo, procuro ficar o máximo de tempo no mundo cativante da poesia, musica, dança, cinema, teatro, pintura, mágica. Poderia escolher outro caminho e me apartar da realidade com drogas, álcool, depressão, mas não é a minha praia. Meu bálsamo para a vida é a arte.

Antigamente, arte boa era aquela que imitava fielmente a realidade. Paisagens, fotos, figuras religiosas. Com o modernismo começam a aparecer figuras sem formas definidas e cenas sem lógica, rejeitando completamente o academicismo. Vanguardistas de plantão aproveitaram esta onda de revolução estética para transmitir ideias políticas e éticas de maneira subliminar.  Como muitos não se deram conta disso, artistas precisaram ser ainda mais ousados e diretos. Para os menos atentos, a arte passou a ser uma espécie de loucura tolerável, onde malucos poderiam se expressar sem maiores consequências.

Só que não. A arte nunca é uma experiência banal para quem a realiza. A loucura da arte sempre foi muito petulante e perigosa, veladamente ela traz consigo a capacidade de provocar uma rachadura na visão arcaica das pessoas, alterando a sensibilidade e a percepção das coisas, revelando outros jeitos de encarar a vida e o mundo. A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade – Pablo Picasso.

Meu pai era aficionado por circo e cinema. Jamais perdia uma estreia de filme ou um domingo com a família, comendo pipoca e algodão doce no camarote do circo. Acabou fazendo amizade com a comunidade circense. Quando vinham fazer temporadas de shows em Porto Alegre, já sabiam que haveria um amigo de confiança que lhes acolheria, um médico que os atenderia e uma família de espectadores para quase todas as sessões. Certa ocasião houve um incêndio enorme no circo, tudo perdido. Animais foram para o zoológico e artistas ficaram acampados em nossa casa.

Palhaços, mágicos, trapezistas, bailarinas, equilibristas, contorcionistas, posso dizer que quase nasci num picadeiro de circo. Na época, os irmãos Robattini estavam com seu espetáculo na cidade e fizeram uma proposta a meus pais. Como não possuíam filhos, disseram que gostariam de me adotar, pois quando crescesse, seria o astro principal do circo, um grande e famoso domador de leões.

Delicadamente meus pais recusaram, respondendo que minha vocação não seria domar e sim libertar. Iriam me preparar para a liberdade de voar e não para as grades de gaiolas ou jaulas. A amizade das famílias não se abalou nem um centímetro e o gosto pelo circo só cresceu. Com dez anos de idade comuniquei a meus pais que não queria mais ir à escola, desejava ser mágico do circo e viajar pelo mundo fazendo carros aparecerem, elefantes desaparecerem, serrando mulheres ao meio, levitando no palco. O que mais um menino de dez anos pode desejar da vida?

Não foi fácil para nenhum dos lados. Se meus pais pregavam a liberdade, como recusar o sonho de um filho de abrir a mente das pessoas, criando fantasias e praticando a arte da impossibilidade? Por outro lado, não queriam se separar de mim e também sonhavam em ter um filho com diploma universitário. Depois de muitas lágrimas derramadas, finalmente chegamos a um acordo. Durante as férias escolares passaria uma temporada no circo, aprendendo mágicas, convivendo com artistas e animais ferozes, morando em barracas, montando e desmontando lona, picadeiro, arquibancadas. Foi um período muito feliz, inesquecível. Contava os dias para entrar em férias, tirar o uniforme escolar e ir para o mundo encantado do circo.

Aos dezoito anos tive que tomar uma decisão determinante. Trabalhar no circo ou fazer vestibular. Pode até parecer que foi uma escolha simples de fazer, mas não foi bem assim. Havia muita pressão para não ser um artista de circo itinerante.  Confesso que ser médico era um trabalho que também me encantava, pois curar doenças, aliviar dores, sofrimentos, renovar esperanças de vida, de certa forma, eram mágicas transcendentes e libertadoras, tão ou mais grandiosas que os truques de ilusionismo. Só que o circo era mágica em natura. No circo respirava fantasia, na medicina o cheiro era de remédio.

Acabei optando pela faculdade de medicina. Escolhi ser anestesiologista, profissional que tem a destreza pra fazer uma pessoa dormir e acordar sem dor. E se possível, tendo um sonho bem legal. Encarava isto como uma espécie de hipnotismo químico. Para muitos, medicina é uma ciência, para mim, medicina também é uma arte. A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas. Não fui um domador de leões, mas aprendi a amansar a dor. Não fiz uma mulher levitar no palco, mas tiro muita gente do leito hospitalar. Não fui palhaço, mas acabei com muitas lágrimas.

E o circo? Tenho saudade, sempre que tem circo na cidade, volto lá pra ser criança e dar boas risadas. Quando a vida mostra seu lado triste, me prende dentro de casa, me afasta dos amigos, lembro que até o palhaço mais alegre, pode chorar em um dia de folga. Nestas horas, preciso de um circo pra me encontrar. Com lápis e papel chamo o circo pra bem perto.  E se der, coloco o domador, o mágico e o palhaço dentro de mim.

 

    

 

 

 

domingo, 13 de outubro de 2019

Fiz cinquenta anos, e agora?




A medicina diz que começamos a envelhecer a partir dos 30 anos de idade. Comigo não foi bem assim. Comecei a envelhecer quando meu filho nasceu. Por coincidência tinha justamente trinta anos. Achava que como pai tinha responsabilidade financeira e gastava todos meus dias trabalhando para sustentar a família. Chegava em casa tarde da noite, acabado de tanto cansaço, mal conseguindo aproveitar o calor de um lar. Voltei a ficar jovem quando nasceu meu neto.   Brincamos juntos todas as manhãs na pracinha do bairro e me renovo todo dia.    

Comecei a envelhecer quando me preocupei em esconder os primeiros fios de cabelo branco. Rejuvenesci quando deixei os grisalhos crescerem natural e desalinhadamente por cima das orelhas. Sentia-me um velho trabalhando sem prazer, amargurado, reclamando e só pensando no dia da minha aposentadoria. Depois de aposentado, virei criança. Esta conversa de envelhecer depois dos trinta começava a cair por terra.

sábado, 24 de maio de 2014

Menos face, mais look


Mensagem recebida pelo Facebook: “Fiquei feliz em te ver no restaurante. Estás muito bem!”

Resposta ao amigo: “Querido Carlos, por que não vieste conversar comigo? Somos amigos e eu também ficaria muito feliz em te rever, trocar um abraço e algumas palavras. Dá próxima vez, deixa de lado o computador, a  rede social e senta comigo. Vai ser mais divertido.”

Estamos sendo dominados e virando prisioneiros da tecnologia que nós mesmos criamos. Só que a prisão não é uma cela pequena e escura onde ficamos isolados. Pelo contrário, é uma tela que nos oferece um  universo sem fronteiras, repleto de distrações e amigos virtuais. Podemos com um pequeno computador realizar mil atividades diferentes e concomitantes. Mandar e receber e-mails, mensagens, torpedos, assistir televisão, ver filmes, realizar buscas, namorar, fazer sexo, conectar com pessoas do mundo inteiro.

Entretanto, apesar da suposta liberdade, a pena é a mesma: Isolamento em uma vida pequena, trancada na solidão de uma telinha e amarrada a uma rede social virtual que prefere mostrar fotos e não emoções,  conversa horas sem contato visual, curte sem ao menos ler o que está escrito, cruza por você na rua e nem lhe cumprimenta.  Criamos telefones inteligentes e nos tornamos burros.

segunda-feira, 17 de março de 2014

ADÃO E EVA CONTEMPORÂNEOS

A história é bíblica, acredite se quiser. Eva não veio ao mundo por acaso. Existia um propósito: partilhar a vida. Já pensou? Adão estava lá sozinho. De repente surge alguém para conversar, brincar, trocar, ajudar... Na verdade, acho que pra ajudar não era o caso, eles tinham tudo que precisavam.

O certo é que a vida no paraíso ficou bem melhor depois que Eva apareceu. Como foi a passagem do status de amigos para casal não sei dizer. Só existiam os dois e convivendo juntos, todos os dias, naturalmente algo haveria de acontecer. Nada, nem ninguém para atrapalhar. Nem mesmo vergonha eles sentiam. Posso imaginar vários modos de aproximação, e todos, sem exceção, nada angelicais. Fizeram sexo, gostaram, repetiram, desfrutaram.

Não estavam mais sozinhos. Perceberam que um tinha ao outro para abraçar quando o mundo parecia grande demais.  Vamos dar um nome para este tipo de relação? Amor.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Formado em Medicina ou Médico?



Logo depois de minha formatura em medicina, não gostava de atender urgências. O motivo era um só: interrompiam e atrapalhavam meus raros momentos de lazer. Cada vez que era chamado para uma urgência, abnegadamente deixava para trás aquilo que estava desfrutando (filme, parque, praia, festa, namoro, família, estudo, descanso) para cumprir com o famoso juramento de Hipócrates.

Sempre soube que ser médico exigiria certa dose de renúncia na vida pessoal, mas isto não era motivo suficiente para aplacar meu descontentamento quando convocado para urgências. Por isso, tentava driblar a insatisfação através de algumas compensações materiais.

Quando meu filho era pequeno, e, contra a vontade de ambos, nossa brincadeira era interrompida por algum telefonema, dizia a ele que papai precisava sair para trabalhar, pois alguém havia ficado doente e necessitava minha ajuda. Com isso ganharia algum dinheiro e  lhe daria  uma parte para que comprasse balas, sorvetes, figurinhas...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Destino

                                                
Podem acreditar, o destino vai  mandar algumas cartas inesperadas. Boas e ruins. Não há como prever. Está além de nossas capacidades. Como lidar quando estas circunstâncias surgirem? Boas noticias não constituem problema e podem ser aproveitadas e curtidas na sua devida hora. Resta saber o que fazer com as más novas? A imprevisibilidade inerente não permite nenhum conselho, entretanto, podemos trabalhar nossos pensamentos para não ficarmos sem chão quando a hora ruim chegar. 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ciúme

Sempre achei que ciúme era um sentimento baixo e jamais me atingiria. Confiava na altura do meu “taco” e na mulher que estava a meu lado. Até o dia em que tudo mudou. Fui  atacado por um sentimento de perda, uma ameaça de abandono, um medo de não mais ser amado. Algo não andava bem.

Seria ciúme ou quem sabe algum outro sentimento parecido? Talvez inveja, ansiedade, depressão...O nome do que sentia nem era tão importante, mas como desprezava tanto o ciúme e tinha vergonha de estar sendo contaminado por este monstrinho de olhos verdes, procurei ajuda.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Alma gêmea, difícil de explicar, fácil de sentir

Sabe aquela situação onde você quebra o braço, precisa engessar e então começa a reparar um monte de gente com braços machucados como o seu? Ou quando quer comprar uma bolsa e de repente começam a desfilar na sua frente pessoas com marcas, cores e modelos diferentes? Parece que ficamos mais ligados e nossos sentidos começam a funcionar como um radar, detectando em qualquer lugar aquilo que estamos procurando.

Depois do episódio do cão que me acompanhou na corrida de rua e partiu por falta de despojamento meu em adotá-lo, passei a ficar mais atento.  Olho para os lados na esperança de encontrar novamente minha alma gêmea corredora. Talvez esta atenção  esteja exercendo algum poder de atração.

Depois de uma semana correndo e procurando sem sucesso o cão, uma adolescente começou a me seguir na rua, exatamente como ele fizera.  Feliz e sorridente como uma criança brincando, seus passos ao meu lado eram leves e soltos.  Percebendo que ela não teria fôlego para me acompanhar, diminui o ritmo e expliquei que tinha treinamento aeróbico e por isto minha velocidade era maior.  Não convencida com o argumento, a menina levantou a blusa e mostrou sua barriga dizendo que estava em forma e iria correr comigo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alma Gêmea

Parecia um dia como outro qualquer, mas não foi. Modificou minha vida. Acordei às oito horas, tomei café e sai para praticar a rotineira corrida matinal. Já havia percorrido uma boa distância quando percebi alguém se aproximando. Olhei para trás e vi um cão correndo para me alcançar.

Era um boxer branco, magro, sem coleira e com algumas marcas no pelo. Não identifiquei se eram feridas cicatrizadas, micoses ou simplesmente marcas de nascença. Não importa. O cão começou a me acompanhar.  Não deu um latido, sequer olhou para mim. Simplesmente quis correr ao meu lado.

Achei engraçado e imaginei que logo adiante ele iria cansar e me abandonar. Não foi o que aconteceu. Depois de cinco minutos juntos, percebi que estávamos em perfeita sintonia. Quando eu aumentava a velocidade, ele correspondia. Quando parava em algum sinal de trânsito, o cão ficava ao meu lado.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quebrando o paradigma


Quando iniciei minha residência médica em anestesiologia, excitado com a possibilidade de controlar a dor perioperatória e suas conseqüências, dei vazão a meu lado filosófico e descrevi assim minhas expectativas em relação ao conhecimento por adquirir: “Tomei uma decisão, vou me preparar com o objetivo de fazer com que as pessoas não mais sofram, nem que para isso tenha que fazê-las dormir”.

Eram palavras espirituosas, mas refletiam um sentido mais amplo para a anestesia. Além de aliviar a dor, fazer dormir e acordar, queria tratar, e se possível eliminar o sofrimento emocional decorrente do adoecer.  Estava iniciando meu treinamento, não tinha a menor idéia de como lidar com emoções, mas imaginava que associado a outras alternativas,  o sono poderia servir como um bálsamo para o sofrimento humano.