Não sinto mais teu cheiro.
Na verdade, não sinto mais teus cheiros. Eram muitos. Na cama tinhas um cheiro
que me deixava entorpecido, começávamos a nos abraçar e o cheiro que emanavas
instantaneamente me atraia direto para tua boca. Não conseguia mais me
desgrudar. Era uma mistura de suor, feromônio, excitação, desejo, malicia, sedução.
Não consigo descrever com palavras, mas era algo surreal, envolvente demais. O
cheiro ficava impregnado nos lençóis e dali se espalhava no ar por todo o
quarto.
Dormir naquela conjunção de aromas era o paraíso, mas isso não era tudo, a festa ainda não havia acabado. De manhã cedo saias da cama de mansinho e entravas no banho. Não sei por que, mas deixavas a porta entreaberta e por ali começava a entrar outro cheiro, exatamente o antagonista daquele da cama. Também não consigo explicar direito, mas era uma combinação de pureza, frescor, inocência, juventude, perfeição, completude, felicidade. Os dois cheiros se completavam e fechavam um ciclo.