Mostrando postagens com marcador solidão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador solidão. Mostrar todas as postagens

domingo, 23 de janeiro de 2022

Não estou só, estou sem

Realizei uma pesquisa com pessoas que perderam familiares durante a pandemia de Covid-19. Com a devida permissão, transcrevo um trecho da entrevista de uma viúva de 55 anos de idade, que num espaço de apenas cinco dias, obteve o diagnóstico, internou e perdeu o marido que tanto amava. Era um profissional autônomo de 60 anos, aparentemente saudável, levemente obeso. Não tinham filhos.

Entrevista realizada três meses após o falecimento. Infelizmente não consigo transcrever as lágrimas que escorreram na tela, mas aconteceram. Não foram poucas. Contagiaram o entrevistador.

- Sente muita solidão depois da perda?

“A questão não é solidão. Tenho amigos, família e até um psicólogo que está me orientando, dando apoio e companhia. Não se trata de estar só, mas de estar sem. Ele não está mais aqui para dividir a vida comigo. Partiu de repente, sem se despedir. Foi triste, esta sendo muito triste.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

JUST DO IT

 

18 de janeiro de 2020, sábado, 20 horas.

O casal Silvia (47) e Marcos (52) se prepara para ir ao cinema e depois comer uma pizza num restaurante recém-inaugurado. Os filhos André (25) e Laura (21) estão passando o final de semana com amigos na praia. O filme foi ótimo, o jantar maravilhoso, degustaram um ótimo vinho, estão felizes, alegres, apaixonados, deitam na cama e fazem amor sem preocupação com a hora de acordar no outro dia.

12 de dezembro de 2020, sábado, 20 horas, nove meses de pandemia.

Devido ao isolamento social imposto pelo coronavirus, casal e filhos se obrigaram a ficar em casa. Juntos assistem filmes, jogam cartas, montam quebra-cabeças, cozinham, lavam louça, conversam. Tempo é o que não falta para se divertirem na convivência familiar. Olhando assim de longe, podemos ter a impressão de que apesar de todos os problemas trazidos pelo isolamento social, nem tudo é ruim, há uma luz compensatória no fim do túnel. Pais e filhos podem ficar mais tempo juntos, conviver e estreitar seus laços de afetividade.

Só que não. Silvia e Marcos não tem relação sexual há quatro meses e vinte e um dias. Os motivos podem ser os mais variados, mas o que importa aqui é o fato de que agora, apesar de estarem muito mais tempo juntos, deixaram de fazer sexo e pior, nem conversam sobre o assunto. Simplesmente ignoraram, foram deixando esfriar, fazendo de conta que estava tudo bem. Deitam-se na cama, cada um vira para seu lado, desejam boa noite, apagam a luz e dormem (ou fingem que dormem). Nenhum dos dois se queixa, parece que estão conformados com a castidade, cansados de tudo, sobrevivendo, esperando a vacina chegar.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Conversa boa pra ca....sar



Quando nos obrigaram a ficar recolhidos em casa para o tal vírus não nos contaminar, recorri à internet para fugir da solidão. Entrei num site de relacionamento e conheci uma pessoa adorável. Tirei a sorte grande, há mais de cem dias que conversamos dia e noite sem parar. Temos tempo de sobra para nos conhecer, estamos trabalhando de casa. Desde então, solidão nunca mais.

Compartilhamos quase tudo. Contou-me sua vida, amores, desamores, desilusões, projetos, trabalho, família. Sei que horas acorda, o que toma de café, como está o tempo em sua cidade, marca do xampu, posição política, doenças, pratos preferidos, time que torce, manias, traumas, crenças.

Estamos lendo os mesmos livros, assistindo os mesmos filmes, escutando as mesmas músicas, fazendo ginástica juntos, trocando receitas, conselhos, favores, temores. Assim que acordamos nos falamos e antes de dormir nos despedimos vagarosamente. Às vezes, no meio da madrugada, quando um está com insônia, acorda o outro e nos fazemos companhia.

Seria muita ingenuidade pensar que já nos conhecemos suficientemente bem apenas pelas conversas que estamos trocando pela internet ou telefone. Existem milhares de relatos de golpes, maus tratos e assassinatos entre pessoas que se conheceram e foram seduzidas e enganadas através de sites de relacionamento. No entanto, como conhecer alguém à distância se não conversando?

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Queremos viver


Querida Anne

Como estão as coisas por ai? Tempos difíceis, não é? Escrevo em formato de carta porque agora, durante a quarentena, tenho tempo de sobra pra conversar, então resolvi voltar aos velhos tempos, aqueles onde éramos felizes e não sabíamos. Só que estou tão acostumado a mandar mensagens por whatsapp que talvez me atrapalhe e cometa alguns erros de português. Queria te contar algumas experiências de meu isolamento social.

Desde criança tinha o sonho de ficar uma semana trancado dentro de uma grande livraria. Preciso ter mais cuidado com meus pensamentos, eles podem se transformar em realidade. Meu pedido foi atendido e veio maior que imaginava. Ganhei um mês trancado no conforto do lar, cinquenta mil livros disponibilizados pela Amazon e todo o acervo de filmes do Netflix. Tirei a sorte grande.

O que não estava planejado no meu sonho era quem faria a comida, quem limparia a casa, quem lavaria a louça. Estou tendo que me virar, mas os livros e tutoriais existem pra isto. Aos trancos e barrancos vou dando conta. Também já tenho outro sonho: uma faxineira assim que possível.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O Preço de escrever



Este é o artigo número 200 deste blog. Nunca imaginei que manteria essa atividade por tanto tempo com tamanho entusiasmo e regularidade. Começou como uma brincadeira e foi ficando. Antes de qualquer coisa, quero agradecer aos leitores que me acompanharam, criticaram, aconselharam e, especialmente, tiveram paciência comigo na riqueza e na pobreza dos textos. Preciso de vocês, mas também devo confessar algo que talvez não gostem de saber. Escrever é o verdadeiro prazer, ser lido é uma satisfação complementar.

Jamais tive obrigação alguma de produzir textos. Escrevo porque gosto, sinto prazer, relaxo, me forço a pensar, desligo do cotidiano e no final, quando nasce o texto, quase sempre, sou possuído por um sentimento de arrebatamento. Em cada argumento que produzo, me dou o luxo de viajar com as idéias para qualquer lugar. Posso também ser quem eu quiser e, se me der vontade, utilizar minha caneta como uma arma potente e terrível, criticando, polemizando, elogiando, detonando, fazendo declaração de amor, pedindo perdão. Já pratiquei tudo isso, aberta ou veladamente, em postagens anteriores

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Invisível ou holofotes? A escolha na palma da mão.


Você entra no elevador com um vizinho e precisam subir juntos sete andares. Só que você não está com a menor intenção de conversar, tampouco de ser gentil. Como fazer para não parecer mal educado ou autista? Muito simples. Tire o celular do bolso ou da bolsa, aperte qualquer tecla, finja um certo ar de preocupação ou ansiedade e faça de conta que está se conectando com alguém muito importante. Imediatamente, e sem formalidade alguma, estará liberado para se alienar e ignorar totalmente quem estiver à sua volta.