terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pais não morrem, ficam invisíveis

Aos poucos foi perdendo as forças. Não tinha mais energia para caminhar e, contra vontade, tornou-se refém de uma cadeira de rodas. Não bastasse essa perda de autonomia, ficou dependente de um cateter contínuo de oxigênio para respirar.

Assim evoluiu nos últimos dois anos a doença de meu pai - fibrose pulmonar – enfermidade incurável, que gradativamente vai entupindo os alvéolos, prejudicando a respiração e tirando o fôlego para toda e qualquer atividade física. Apesar da asfixia progressiva, permanecia completamente lúcido e consciente de seu prognóstico.

Ainda não consigo precisar se esta clarividência quanto a seu futuro foi algo bom ou ruim. Para mim, a despeito da tragédia que se anunciava, foi uma benção. Tive tempo de resgatar toda uma coleção de afetividade que havia ficado para trás e, sem pressa, me despedir um pouco a cada dia. Nem todos podem ter esta oportunidade.  Para ele, sei que alguns momentos foram difíceis. Não raro o surpreendíamos chorando ou implorando por socorro e um pouco mais de ar. Nunca havia se imaginado doente, não queria nos dar trabalho, não sabia como se comportar, muito menos como enfrentar a doença que o consumia. Tampouco nós – esposa, filhos e netos.