Quando entrei na escola pensava que escrever era fácil. Tudo o que precisava era começar o texto com letra maiúscula e terminar com um ponto final. No meio colocava as idéias. Mais tarde aprendi que para tirar uma boa nota em redação, esta precisava ter começo, meio e fim. Não sei como, mas este conceito de que as coisas precisam ter um inicio e um encerramento bem definidos têm acompanhado e confundido a vida de muita gente.
“Aos 14 anos de idade fui oficialmente pedida em namoro por um menino. Era uma noite de verão e depois do jantar, enquanto jogava conversa fora com os amigos, o Dudu me chamou num canto e fez o pedido de namoro. Quando voltei pra casa, na hora de dormir, já havia trocado de "status". Ainda não existia o Facebook para que pudesse postar e anunciar para o mundo, mas de um momento pra outro, minha vida mudara, como se estivesse publicamente tomando posse de um cargo e iniciando naquele dia e naquela hora a nova relação. Uma separação muito clara entre o antes e o depois do pedido.”
Enamorar-se de uma pessoa é um processo que vai acontecendo aos poucos. Com o tempo e o convívio, vão surgindo a intimidade, a admiração e o casal, dia após dia, vai se reconhecendo como amigos, confidentes, amantes, cúmplices. Roupas e discos começam a se misturar, precisam urgentemente contar uma coisa para o outro, já não querem mais dormir separados. Tornar-se namorado ou namorada também deveria ser assim, sem um marco inicial, um pedido formal, um ritual divisor de águas. Espontaneamente descobrir-se envolvido, a ponto de sentir que as duas vidas estão andando juntas e que a parceria está formada.