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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

DISCURSO FORMATURA

 

Gostaria de dizer algumas palavras sobre aquilo que as fotos não mostram. Aquilo que está por trás da foto. O Sentimento.

 

As pessoas estão dizendo que eu deveria estar usando um babador ao invés de gravata nesta formatura. Pois é, estou babando mesmo, mas não é de hoje que eu babo pelo Leonardo. Babo nele desde o dia em que nasceu.

 

Poderia falar um montão de coisas do Leonardo. Que ele é um cozinheiro de mão cheia. Não gosta de lavar a louça, mas isto é outra história.

 

Que desde pequeninho ele gosta de cantar, já foi vocal de algumas bandas e ultimamente anda incorporando o Paul  Mac Cartney, o Elvis, o Mick Jaeger.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Medo - Genérico ou Original

 

Muita gente tem medo de mim. Não sou mal encarado, bandido, malfeitor, delinquente ou brigão. Nada disso. Sou médico anestesiologista, trabalho em um hospital e incontáveis vezes ao me apresentar aos pacientes, fui recepcionado com frases do tipo chegou o perigoso, tenho medo da anestesia, tenho um conhecido que morreu da anestesia e por ai vai.

É o preço que pagamos por um passado onde a anestesia era realizada de maneira empírica, sem instrumentos apropriados,  conhecimento especializado ou medicamentos seguros e, por conta disso, ocorreram inúmeros acidentes. Naquela época, quando uma pessoa necessitava ser submetida a uma operação, a família profilaticamente rezava e chorava na porta do centro cirúrgico esperando por uma desgraça iminente. Hoje anestesia é um procedimento extremamente seguro, praticamente isenta de riscos.  Os tempos mudaram, porém o medo teima em persistir.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Cama para dois

 

Ontem chegando ao hospital assisti uma cena inusitada. Uma garotinha de uns seis anos de idade, sem cabelos devido à quimioterapia, sendo levada na maca hospitalar para o centro cirúrgico.

O que me chamou a atenção não foi a menininha na cama, foi a mãe da menina, deitada a seu lado. A criança com roupa de paciente e a mãe com roupa de mãe. Isso não é rotina hospitalar, somente uma pessoa costuma estar deitada na cama, e quem está deitado, deve vestir roupa de hospital.

Enquanto a maca circulava pelos corredores, a mãe lia para a filha um livro de histórias infantis. Sabia que aquela atitude não era comum dentro de um hospital e que as pessoas a olhavam com estranheza, no entanto, parecia não se importar, estava focada na filha.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

O acaso vai nos proteger


Eventos aparentemente aleatórios e inconsequentes podem levar a grandes prejuízos. O simples bater de asas de uma borboleta na Amazônia pode causar um tufão no Texas. Da mesma forma, uma xícara de café que foi tomada pela manhã, pode alterar a vida de uma pessoa. Por exemplo, se o tempo que o indivíduo demorar tomando o café fizer com que ele se atrase e cruze com a mulher de sua vida na estação de metrô, ou não seja atropelado por um carro que atravessou o sinal vermelho, estamos frente a esta relação de casualidade.

No filme “O efeito Borboleta”, realizado em 2004, um jovem de 20 anos descobre que é capaz de viajar no tempo e mudar o passado. Decide então mudar a trajetória de sua vida e de amigos próximos corrigindo falhas cometidas lá atrás. Na tentativa de alterar a direção de suas escolhas, acaba criando futuros ainda mais desastrosos. Mesmo com boas intenções, a mínima mudança na linha do tempo dos fatos, pode levar a consequências imprevisíveis.

O que teria acontecido se na minha adolescência, tivesse declarado pessoalmente meu amor para aquela colega de aula, a mais bonita da turma, e iniciássemos um namoro? Talvez hoje, os filhos dela seriam os meus e o meu filho seria de outro homem qualquer.

domingo, 27 de dezembro de 2015

ACORDAR


Dormir é uma necessidade fisiológica. A cada 16 horas o corpo exige uma pausa para descanso. Neste período ocorrem liberação de hormônios, sonhos e recuperação do cansaço e fadiga. O sono é um poderoso revigorante físico e emocional, diminuindo o estresse, melhorando a memória, o raciocínio, rejuvenescendo a pele, controlando o apetite.

Acordar é diferente. Acordar é uma benção, um presente. Normalmente, depois de seis a oito horas adormecidas, as pessoas acordam. No entanto, as mais diversas religiões afirmam que durante o sono um pedaço da alma, ou sua totalidade, se desprende do corpo e, conforme a vontade divina, retorna ou não para que o individuo possa acordar. Por isso, fiéis rezam antes de dormir, pedindo que sejam protegidos pelo altíssimo durante o sono e abençoados com o acordar.

Como as certezas podem mudar de lugar, para os insones a regra é outra, dormir é considerado uma benção e ficar acordado, uma maldição.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Antes de adormecer o corpo, é preciso convencer a alma




Durante anos trabalhando como anestesiologista, acompanhei milhares de pacientes e aprendi que é possível planejar a qualidade do sono que lhes  é oferecido. No inicio da profissão, realizava o procedimento de maneira estritamente técnico-científica. Instalava um cateter no braço do paciente, injetava o anestésico, fazia-o dormir,  mantinha seus sinais vitais estáveis, e, finalmente,  acordava-o devolvendo-lhe o controle de sua vida. Fazia o papel de uma sentinela que zelava pela segurança física durante o sono involuntário.

De tanto observar o sono alheio, percebi que nem todos adormeciam da mesma maneira, e nem todos despertavam igual. Mas isto não tinha nada a ver com o tipo ou dose de anestésico que estava utilizando. O estado emocional dos pacientes é que fazia a diferença no  dormir e acordar.

Enquanto uns se entregavam ao sono, outros resistiam. Enquanto alguns dormiam serenamente, outros se agitavam. Enquanto outros aparentavam felicidade, outros mais estavam contraídos e lacrimejando. Aprendi também que se o sono for bom, o acordar é melhor ainda. O contrário também é verdadeiro, aqueles que vão dormir intranqüilos, não terão paz e o sono será um verdadeiro castigo. Acordarão massacrados e enfrentarão um péssimo dia seguinte. Quem dorme com dúvidas, passa o dia sem certezas. Por conta de tudo isto, passei a encarar o sono como algo sagrado e me preocupar com o ritual da entrega ao sono. 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Preso por vontade própria

Depois do lançamento do livro, voltei para meu quarto, mas estava sem sono. Peguei um bom tinto que estava na geladeira, sentei na cadeira de balanço, abri a garrafa, enchi meia taça e enquanto o vinho respirava, fiquei olhando a lua através da lente formada pelo vidro contendo o liquido de cor escura.

Era noite de lua cheia, passava da meia noite, o silêncio indicava que a cidade estava dormindo e o único som que escutava, era uma coletânea de fados que havia ganho de um amigo e tocava suavemente no computador.

A lua se escondia por trás do vinho, mas conforme o balanço da taça, a fazia aparecer e desaparecer. Brinquei assim por uns bons minutos enquanto pensava nas coisas que pareciam estar anestesiadas em mim e começaram a despertar e também se fazer ver durante a viagem.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Por onde você chora?

               Por onde você chora? Através das lágrimas que escorrem de seus olhos? Não necessariamente. Vou tentar lhe mostrar outros prantos.

               Um primeiro paradigma a ser quebrado é o do corpo Aristotélico, composto de cabeça, tronco e membros, músculos, ossos e vísceras. Esta é uma idéia de corpo em sua natureza física, orgânica e material. Um corpo vivo, porém inanimado. Uma cisão entre corpo e alma, entre objetividade e subjetividade.

               Durante muitos séculos, a busca de exames e doenças ficou restrita ao corpo físico. A partir dos sintomas apresentados, o paciente se enquadrava nos padrões de normalidade da época ou era considerado doente. A medicina decompunha as pessoas em partes ou sistemas e os examinava objetivamente. O fígado estava doente, o cigarro fazia mal ao pulmão...Este modelo cartesiano demonstrou-se ineficaz.