Depois de
atravessar o Caminho de Santiago andando, passei a gostar de caminhar. Solitário
ou em grupo, nunca fiquei só, mesmo que não houvesse ninguém a meu lado. O
pensamento se tornou meu companheiro de viagem. O corpo também assumiu papel determinante
e passou a mostrar o valor de cada unha, cada dedinho do pé, cada quilo a mais
por carregar.
Muitas
vezes não havia ninguém para compartilhar o raiar do dia, uma cafeteria cheirosa
escondida no meio do nada, uma cegonha trazendo comida para os filhotes. Batia
fotos, mas por melhor que fosse a câmera, não conseguia transmitir a euforia
daqueles momentos. Ficava com aquelas imagens e sensações guardadas em mim.
Houve uma
noite especial em que me senti só. O peregrino russo tirou o violino da mochila
e começou a tocar no pátio do albergue. Logo um casal de gregos passou a cantar
e vários outros dançavam depois de quilômetros rodados e pés cansados. Ali,
apesar de estar rodeado de pessoas, senti que estava carente e precisava de
alguém especial para me abraçar, segurar
em seus braços e dançar.