terça-feira, 29 de abril de 2008

MUITO ALÉM DOS MANUAIS

Adaptação de palestra realizada durante 24 jornada
sul-brasileira de cirurgia plástica em Gramado
abril - 2008

Quando fui eleito presidente da Sociedade de Anestesiologia do RS, uma de minhas metas era a mudança da imagem do anestesiologista. Todos nós já ouvimos as famosas frases: “não tenho medo da cirurgia, tenho medo da anestesia” , “tenho um vizinho que tem uma tia que ficou paralítica depois de uma anestesia na coluna”, “mal acordei e o anestesista já estava apresentando a conta de honorários”, “o anestesista é médico?”.

Comecei a mostrar aos colegas que a Sociedade de Anestesia poderia lançar uma campanha de mudança de imagem através de folders, outdoors, entrevistas no rádio e jornal, porém cada anestesiologista teria que fazer o seu papel, cada um seria o missionário nesta cruzada da melhoria da imagem. O modo como cada um atendesse seus pacientes, familiares, cirurgiões, seu relacionamento com hospitais, colegas, planos de saúde iriam formar uma imagem, que se refletiria em toda a categoria. Um mau colega põe a perder todo o trabalho de anos de uma especialidade.

E o mesmo acontece com a ética; os Conselhos Regionais de Medicina lançando códigos de ética, o governo decretando leis, são apenas uma parte do trabalho. Cada cidadão tem o seu papel e o seu dever ético com a sociedade.

Assim passei a esclarecer aos colegas que marketing não era apenas propaganda e publicidade. Marketing e ética devem andar sempre muito próximos, pois em última análise ambos vivenciam o comportamento diário, o relacionamento médico-paciente, o relacionamento anestesiologista-cirurgião, o relacionamento médico-familiares,o relacionamento médico-instituições, enfim, o relacionamento médico-sociedade.

Este trabalho cresceu, se difundiu para a classe médica como um todo, virou um livro “Marketing para médicos- um caminho ético”, e agora cresce mais um pouquinho, quando começo a falar de ética no dia a dia e como isto se reflete na profissão. Isto está virando um novo livro, a ser lançado daqui a uns dois meses :”Parabéns a você!”

Neste livro convido os leitores a refletirem sobre o que fizeram de suas vidas pessoal e profissional. Se no dia de seu aniversário, quando amigos e parentes cantam o “Parabéns a Você”, naquelas festas maravilhosas com garçons, champagne, este parabéns significa o orgulho do aniversariante e dos convidados pelas glórias alcançadas com méritos ou se lá no fundo a pessoa sabe que consciente ou inconscientemente teve algumas atitudes digamos assim, não muito corretas.

Todos nós sabemos o que é certo e o que é errado:
Dar atestados falsos
Praticar preços abaixo do mercado
Prometer resultados que não vai poder cumprir
Falar mal de colegas
Realizar cirurgias desnecessárias,
Dizer ao anestesiologista que cobrou X e na verdade cobrou Y, são atitudes incorretas.

O problema é que entre o certo e o errado existem zonas de nebulosidade, de obscuridade, e é justamente nesta zona de atuação que alguns colegas se aproveitam para levar vantagem, pois não atingiram ainda um comportamento declaradamente ilegal e por isto, gozam ainda da impunidade.A comissão de ética do senado se reúne por meses a fio, não consegue enquadrar um senador que vergonhosamente desviou dinheiro público em nenhum crime e acaba condenando-o por falta de decoro parlamentar. É uma vergonha. Mesmo não sendo ilegal, podemos dizer que no mínimo, são áreas perigosas de trânsito.

Os códigos de ética das várias profissões e os livros de leis surgiram para disciplinar as pessoas e não permitir que ocorram argumentações do tipo “os fins justificam os meios”.
- “Roubei para dar de comida ao meu filho que não tinha o que comer” , é um exemplo de justificativa inadmissível. A lei e a ética não permitem roubar nem pensar em roubar. O cidadão em questão deve pensar em outra alternativa para alimentar sua prole.
- “Coloquei aquele anúncio na televisão porque é um anuncio esclarecedor para a população a respeito dos benefícios da cirurgia plástica.” O Conselho Regional de Medicina regulamenta muito bem qual o tipo de anuncio que pode ser veiculado e qual não. E as leis e os códigos de ética surgem, quando o comportamento incorreto começa a ameaçar a sociedade de entrar em colapso. A lei vem para preencher o vazio. E quanto mais leis existem, isto sinaliza que menos ética é a categoria ou o povo. A simples obediência a lei não mede a grandeza de um categoria ou de um povo, o que mede é a obediência ao não exigível pela lei, aos princípios éticos, aos verdadeiros valores.

E que valores são estes? Antigamente os ladrões, tiranos, pervertidos morais, loucos eram chamados de anti-éticos. Hoje, pessoas normais, como eu, como vocês, teoricamente bem intencionados, corremos o risco de sermos taxados de anti-éticos, pois as mudanças estão acontecendo muito rápido e não vamos ter tempo de ler todos os manuais, nem mesmo tempo para pensar.

- Entra uma menina de dezoito anos no consultório, acompanhada da mãe e quer marcar uma cirurgia de prótese de silicone para o outro dia, pois tem uma festa. Detalhe: a família é muito influente na sociedade e tem muito dinheiro.
- Entra um paciente e solicita exames laboratoriais desnecessários pois quem vai arcar com os custos é o plano de saúde
- Entra um paciente no consultório acusando um colega de mau resultado
- Entra uma empresa financeira no consultório oferecendo financiamento e auxilio para conseguir novos pacientes
- Entra a empresa fabricante de próteses oferecendo comissão sobre colocação das mesmas

Ética é um modo de vida. Diz respeito a pensamentos, julgamentos, deveres. Há um ditado que diz “Deus está nas pequenas coisas”, o mesmo se pode dizer da ética, que trata das questões do dia a dia e de como tratamos as pessoas.

Como saber então como agir?
Como lidar com as situações mais difíceis em termos de pressão?
Como conviver em uma sociedade onde prevalece a máxima de “levar vantagem em tudo”?

Talvez algumas perguntas chave, perguntas que vão muito além dos manuais devam estar sempre em nossa mente, para quando surgirem questões como estas:
- Você teria vergonha na cara se lhe acusassem de ter agido desta maneira?
- Se isto acontecesse com você. Ficaria indignado?
- Isto é um ato desumano?
- É contra a lei?
- Você faria isto em público?
- Você se importaria se isto fosse manchete de jornal?
Se depois destas seis perguntas você ainda estiver em dúvida, recorra a uma última tentativa: - Você faria isto com seu filho?
Se mesmo depois de responder todas estas perguntas, ainda ficar em dúvida ou precisar consultar um manual para ter certeza, você deve estar naquela zona de obscuridade, muito perigosa de se trabalhar.

Ética na vida ou no consultório é uma decisão de vida. Não depende de circunstâncias externas, não depende de quem vai entrar no consultório, nem como, nem o que vão oferecer.

Ser ético não garante sucesso profissional , mas garante uma estrada, um caminho pavimentado para isto e certamente garante um sono tranqüilo.
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domingo, 6 de abril de 2008

Como calcular a sua idade

O cálculo da idade cronológica é simples: subtraia o ano que você nasceu de 2008 e poderá saber quantos anos você tem. Se quiser ser mais específico, poderá calcular inclusive os dias e minutos de sua existência. Infelizmente a maioria das pessoas mede a idade por este método, e a partir do resultado passam a fazer considerações generalistas.
Dizer que alguém tem 40 ou 50 anos de idade, significa apenas dizer que aquela pessoa está no mundo durante aquele período, nada mais. Existem outras medidas de idade, além da cronológica, que podem dar uma idéia mais precisa do perfil de um indivíduo do que simplesmente os anos de existência.



O tempo corre com a mesma velocidade para todos, mas nem todos o utilizam da mesma maneira. Cada indivíduo tem seu próprio calendário. O tempo que cada um passa dormindo, assistindo TV, trabalhando, comendo, escovando os dentes, fazendo amor, falando ao celular, fazendo exercícios, vai determinar como andará seu relógio biológico.


Existe também a idade emocional, que não pode ser medida de maneira precisa. Quando você sofre uma frustração na vida pessoal ou profissional, ainda reage da mesma maneira que fazia quando tinha sete anos de idade e o coleguinha lhe tirava seu brinquedo preferido? Fica emburrado, grita, chora, sai agredindo, pensa em vingança? Sua idade emocional corresponde a sua idade cronológica? Algumas pessoas envelhecem mais cedo justamente porque não amadurecem e passam a lutar desesperadamente contra os ponteiros do relógio. Não se assuste, não existe medida exata dos sentimentos, e este é um dos problemas atuais da humanidade: imaturidade emocional em vários graus. A boa noticia é que pode ser realizado um trabalho no sentido de uma evolução e amadurecimento.


Também a idade cultural necessariamente não acompanha a cronológica nem a emocional. Existem pessoas estacionadas culturalmente na infância enquanto outras estão décadas adiantadas no tempo. O mesmo raciocínio vale para a idade em termos de saúde e envelhecimento, que não é apenas dependente da passagem do tempo. Trinta por cento da saúde dependem de herança genética, enquanto os setenta por cento restantes vão depender de como cada um administra as 24 horas que lhe são oferecidas diariamente. Alguns são velhos aos cinqüenta, enquanto outros esbanjam vitalidade aos oitenta.


Tanto a idade cronológica como as aparências podem enganar. Um corpo esbelto e bronzeado não reflete o colesterol sangúineo, a taxa de açúcar, um processo inflamatório, os níveis de pressão arterial, a densidade óssea, etc.


Assim, podemos ter uma mesma pessoa com 50 anos de idade cronológica, aparência de 35, idade emocional de 15, cultural de 70, e em termos de saúde e envelhecimento corresponder aos cinqüenta anos cronológicos ou não.


Para que importa saber a idade afinal? O que a idade reflete? Quem criou estes parâmetros de tempo e de idade foram os homens, e a passagem do tempo não deve ser encarada como uma perda. Se todos os esforços se concentrarem na luta contra o envelhecimento, a derrota é certa.


A passagem do tempo deve ser encarada como uma conquista. O tempo nos dá a chance de amadurecermos, de cuidarmos de nossa saúde, de valorizarmos nossas qualidades, de termos até um certo carinho pelos nossos defeitos, de sermos livres para escrever a nossa história e de envelhecermos. Envelhecer não é preocupante, ser visto como um velho é que é o problema.
Daqui para a frente não tenha mais uma idade definida em anos, porque isto não exprime a realidade. Tenha a vida. Tenha como medida de sua existência a qualidade de vida desfrutada até agora e tudo o que ainda resta por viver. Meça a sua idade em qualidade e não em quantidade. Faça com que os anos que você está neste mundo não tenham sido apenas números, e sim vida.
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