Eventos aparentemente aleatórios e
inconsequentes podem levar a grandes prejuízos. O simples bater de asas de uma
borboleta na Amazônia pode causar um tufão no Texas. Da mesma forma, uma xícara
de café que foi tomada pela manhã, pode alterar a vida de uma pessoa. Por
exemplo, se o tempo que o indivíduo demorar tomando o café fizer com que ele se
atrase e cruze com a mulher de sua vida na estação de metrô, ou não seja
atropelado por um carro que atravessou o sinal vermelho, estamos frente a esta
relação de casualidade.
No filme “O efeito Borboleta”, realizado em
2004, um jovem de 20 anos descobre que é capaz de viajar no tempo e mudar o
passado. Decide então mudar a trajetória de sua vida e de amigos próximos
corrigindo falhas cometidas lá atrás. Na tentativa de alterar a direção de suas
escolhas, acaba criando futuros ainda mais desastrosos. Mesmo com boas
intenções, a mínima mudança na linha do tempo dos fatos, pode levar a
consequências imprevisíveis.
O que teria acontecido se na
minha adolescência, tivesse declarado pessoalmente meu amor para aquela colega
de aula, a mais bonita da turma, e iniciássemos um namoro? Talvez hoje, os
filhos dela seriam os meus e o meu filho seria de outro homem qualquer.
Quando estava no sexto ano da
faculdade de medicina, precisava escolher uma especialidade para me diferenciar
e crescer profissionalmente. Havia um leque de opções: ginecologia, cirurgia,
oftalmologia, psiquiatria, radiologia. Poderia abraçar qualquer uma, escolhi
anestesia.
A escolha foi aleatória. Não
pensei em mercado de trabalho, ganho profissional, plantões. Achava
interessante a ideia de poder fazer as pessoas dormir e acordar, aliviar a dor
física, controlar os sinais vitais. Sentia-me poderoso com as ferramentas anestésicas.
Ninguém me aconselhou ou apadrinhou, simplesmente fiz um “X” na opção anestesia
e ingressei na residência médica.
Se aqueles dois risquinhos de
caneta entrecruzados do “X” houvessem sido feitos em outra opção, por engano ou
conscientemente, muito em minha vida poderia ter sido diferente. A começar pela
cidade onde vivo. Poderia ter escolhido outro país para estudar, quem sabe
neste meio tempo conhecesse alguma estudante por lá, possivelmente teríamos
casado e estaríamos até hoje morando em outra cidade.
Do ponto de vista filosófico,
também minha mente poderia ser outra. Foi através de um acaso que entrei em
contato a filosofia clinica e a partir dali incrementei os estudos até o dia de
hoje. Quem sabe nem filosofia estivesse estudado?
Fernando Pessoa escreveu uma
poesia em que diz:
Se em certa altura tivesse
voltado para a esquerda em vez da direita;
Se tivesse dito sim em vez de não
ou não em vez de sim;
Se em certa conversa tivesse dito
as frases que só agora, no meio do sono elaboro,
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o
universo inteiro seria insensivelmente outro também.
Einstein achava que viagens no tempo são possíveis, porque o espaço é curvo e deve haver algum ponto no infinito em que ele se encontra consigo mesmo. O cosmo seria como uma cobra mordendo a própria cauda, motivo pelo qual alguns filósofos utilizavam o símbolo de uma serpente mordendo a cauda para representar o ciclo da energia universal que nunca se esgota, pois se alimenta de si mesma.
Hawking também disse acreditar nessa possibilidade, mas sob certas condições. Ele diz que se pudéssemos voltar ao passado, não poderíamos interferir na História, porque ela é feita de atos que se despregam dos seus executores tão logo são realizados. Os personagens passam, a história fica. Assim acontece com os quadros de um pintor, as estátuas de um escultor, os textos de um escritor.
É confortador saber que nossos
atos despregam-se de nós tão logo são produzidos. Seria extremamente difícil
ter que carregar cada ato para o momento seguinte. Chegaria o dia em que o peso
ficaria tão grande que não conseguiríamos dar um único passo adiante. Nossos
atos são como setas lançadas de um arco em direção a um alvo. Nem sempre os
atingem, mas jamais voltam ao arco para serem lançadas novamente. Resta-nos
apenas administrar suas consequências.
Ao que sabemos hoje, o passado
não retornará e o futuro é uma incógnita. Mesmo que conseguíssemos voltar ao
passado, como desejava o personagem do filme, as condições ambientais seriam
diferentes em cada momento do tempo. Assim, quando a borboleta batesse as asas
de novo na floresta amazônica, as coisas no universo já estariam diferentes e
os efeitos que ela havia provocado anteriormente, não mais se repetiriam.
É o princípio da incerteza, e
isto é o que pode dar sentido e graça à vida. Talvez em todas as nossas
conquistas, devamos muito mais ao acaso do que somos capazes de perceber. Talvez
não exista o acaso, tudo faça parte de um grande plano que não temos capacidade
de entender. Quem teria sido o autor deste grande plano?
No caso das borboletas, o bater
das asas de uma delas em determinado lugar do mundo, realmente pode gerar uma
movimentação de ar que, intensificada, desencadearia uma alteração na atmosfera
terrestre. Todos os dias, milhões de borboletas batem suas asas, trilhões de
acasos acontecem e outros tantos trilhões de planejamentos vão por água abaixo. O simples fato de você estar lendo este artigo ao invés de
sair ou fazer outra coisa, pode influenciar para que algo diferente aconteça em
sua vida.
Disse a mosca ao debater-se: “Deus
não existe, somente o acaso rege a existência”.
Disse a aranha agradecida:”Glória
a ti, Divina Providência, que a minha humilde teia esta mosca atraístes!”
Disse a flor ao pequeno príncipe:
“É preciso aguentar uma ou duas larvas se quiser ver a beleza de uma borboleta”.
Este artigo é uma re-edição. O original foi postado em maio de 2016 sob o titulo "Causa ou acaso?". De lá para cá, algumas de minhas idéias mudaram em relação à aleatoriedade. Achei legal compartilhar esta nova visão.
Este artigo é uma re-edição. O original foi postado em maio de 2016 sob o titulo "Causa ou acaso?". De lá para cá, algumas de minhas idéias mudaram em relação à aleatoriedade. Achei legal compartilhar esta nova visão.
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Dr Ildo!! Muito profundo o artigo. Vou refletir. Gostei! Beijo
ResponderExcluirLegal esta humildade de reconhecer que suas idéias podem mudar e compartilhar conosco. Idéias podem surgir aleatoriamente para depois serem aprimoradas. Carmen
ResponderExcluirOLA! Muito profundo tuas falas. Mas gostaria falar sobre singularidade de alguns artistas. Imagine que: muitas vezes a obras não se desprendam do artista, e que elas fiquem impregnadas em seus poros; que muitas vezes ele não as coloque à venda, com medo de perdê-la, e que ele a trate como um filho a ser cuidado ou como um amor eterno. Mas tudo isso poderia se dissolver a qualquer momento, bastando uma fratura nas engrenagens de uma possível armadilha conceitual? Como saber? Mesmo que o "tempo" exista com uma representação diferenciada para cada um, acredito ser esse, o melhor bálsamo para meus questionamentos...
ResponderExcluirQuando passei a agradecer ao acaso tudo de bom que tem me proporcionado, Ele passou a ficar cada vez mais bondoso comigo. Jamie.
ResponderExcluirSinônimos de acaso: destino, aleatoriedade, universo, Deus....
ExcluirO acaso vai me proteger
ResponderExcluirEnquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter amado mais
ExcluirTer chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
(...)
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier
(...)
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Muitas vezes já tentei fugir do acaso, ele me conduziu de volta!
ResponderExcluirDr Ildo o Sr tomou um chazinho antes de escrever? Complicado o artigo.
ResponderExcluirComplicado sou eu! Facilita amigo!
ResponderExcluirMelhor que isto só “Juntos e Shalow now”
ExcluirKkk
Nenhum vencedor acredita no acaso.
ResponderExcluirFriedrich Nietzsche
Sorte e azar podem ser considerados acaso?
ResponderExcluirSucesso é apenas uma questão de sorte. Pergunte a qualquer fracassado.
ExcluirAzar também.
ExcluirTive um caso com o acaso e acabei casado.
ResponderExcluirPassei por aqui por acaso e gostei. Vou começar a te seguir. Abraços. Carol
ResponderExcluirCada caso é um acaso.
ResponderExcluirQuantos casos ainda vou ter que ter até que o acaso me acolha? Eva
ResponderExcluirEU NÃO QUERO SER UM CASO..NEM O ACASO...
ResponderExcluirSeja você mesmo, porque o acaso não está sob seu controle.
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