Como
você reage quando está sob pressão? Final de campeonato, estádio lotado, você é
escalado para chutar o pênalti decisivo. Defesa de tese de mestrado, banca
composta por sumidades no assunto, família e amigos presentes no auditório, seu
computador repentinamente apaga a apresentação preparada durante meses.
Alguns se esforçam acima do normal, produzem mais, dão o melhor de si, superam o desafio e obtém sucesso. Mas não é assim com todo mundo, algumas pessoas geniais, talentosas e super capazes fracassam justamente quando estão sob pressão. Por que isso acontece?
A
maioria das pessoas pensa no sucesso e no fracasso como opostos, mas ambos são
produtos do mesmo processo. O fracasso e o sucesso são impostores. Ninguém
fracassa tanto quanto imagina ou tem tanto sucesso quanto alardeia. O que
sucesso e o fracasso podem informar nas entrelinhas?
Quando
nos ensinam algo pela primeira vez - dançar flamenco por exemplo – começamos a
dar os passos de maneira tímida, quase mecânica. Inicialmente precisamos prestar
atenção no sapateado, depois nos braços, mãos, dedos, corpo, cabeça, olhos.
Pode ser até que nem consigamos dançar no ritmo certo, talvez pareçamos mais
bonecos ou robôs que bailarinos, mas com
o tempo e o treinamento, um belo dia, descobrimos que estamos dançando
naturalmente, sem pensar no próximo passo. Nem notamos o que nossos pés e mãos
estão fazendo.
Este
processo de transformação do mecânico e pensado para o fluido e automático acontece
em quase todos aprendizados: dirigir, jogar golfe, palestrar, namorar,
cozinhar, comprar, vender, surfar. Entretanto, sob tensão, algumas pessoas
regridem na prática, perdem a tarimba, a fluidez e voltam a agir como
principiantes. O modo mecânico volta a
assumir o comando e o sistema nervoso entra em colapso.
O
jogador de elite de tênis erra o primeiro saque. O segundo vai direto na rede.
O terceiro é pior ainda. Ele está irreconhecível, fala sozinho, faz um sinal de
não com a cabeça, limpa seu rosto com uma toalha. Neste momento, acende uma luz
vermelha no cérebro que lhe pergunta o que está acontecendo, por que ele está
errando os saques que tanto treinou e são seu ponto forte, sua arma secreta.
Passa então a depender e rememorar seu sistema de aprendizado para dar os
saques, volta a ser um tímido principiante, entra em colapso, desmorona e
entrega a partida.
Existem
outros fatores desencadeantes do colapso além da própria pressão interna pessoal:
natureza do público presente e situação em que o desempenho está acontecendo. A
pressão externa exercida pelos espectadores vaiando ou aplaudindo é parte do
que define um sucesso ou fracasso.
Outro
comportamento que pode levar um perito ao fracasso é o pânico. Colapso e pânico
podem parecer sinônimos, mas são completamente diferentes. Pânico pode ser
entendido como o oposto do colapso. Ao entrar em colapso a pessoa pensa demais,
ao entrar em pânico a pessoa não pensa, ou melhor, não consegue pensar. Colapso
é a perda do instinto, pânico é a reversão ao instinto.
Bombeiros,
comissários de bordo, policiais sabem que em situações de extremo perigo ou
tragédias iminentes, algumas pessoas entram em pânico e paralisam. Outras
desmaiam. Já vi cavaleiros de armadura entrarem em pânico à primeira vista da
batalha, nadadores se afogando pelo pânico e não pela água do mar. É o instinto
primário de sobrevivência se manifestando. Explico.
Animais
só abatem animais sadios para se alimentar. Se um leão encontra um coelho
ferido caído ao chão, não vai atacá-lo, não é boa alimentação. Parte em busca
de um animal saudável. Cair para não se transformar em presa de um caçador é um
instinto de conservação animal. Humanos ainda utilizam inconsciente e
erradamente este blefe genético de paralisar ou desmaiar em situações extremas,
visto que funcionava muito bem em caçadas na selva, mas desmaiar num incêndio
ou naufrágio só piora a situação.
A
tensão apaga a memória de curto prazo, você não consegue lembrar do que
aconteceu alguns instantes atrás. É o que chamamos ironicamente de “apagão”.
Pessoas muito experientes tendem a não entrar em pânico, porque quando a
pressão suprimir a memória recente, ainda resta algum resíduo de experiência
para ajudar.
Você
coloca a mão no bolso e não encontra o celular. A tensão apaga sua memória
recente, não consegue mais lembrar onde o deixou. Procura nos bolsos, na
mochila, no chão, nas gavetas. Volta a procurar nos mesmos lugares sem sucesso.
Entra em pânico e não consegue pensar em mais nada. Se já o tivesse perdido
outras vezes, talvez a experiência pudesse lhe salvar.
Neste
sentido, o pânico seria o processo de fracasso convencional, ou seja, a falta
momentânea de experiência e conhecimento motivados pela tensão levaram ao
fracasso. Já o colapso seria a representação do fracasso paradoxal, inesperado,
pois a pessoa está de posse de todo seu conhecimento e mesmo assim falha. A
pressão que você controla se torna emoção, a pressão que você não controla se
torna pânico.
Numa
partida de golfe, um dos jogadores liderava a prova por seis tacadas. Em
determinada jogada ele cometeu um erro e algo se rompeu dentro dele,
iniciando-se o processo de colapso. Passou a fazer movimentos mecânicos e fora
de sincronismo. Terminou derrotado. Seu oponente, vitorioso na competição,
entendeu o que aconteceu no campo de golfe naquele dia.
Sabia
que o que conquistara era inferior a uma vitória e que o perdedor sofrera algo
inferior a uma derrota. Abraçou o vencido ao final e sussurrando disse-lhe a
única coisa que se pode dizer para quem entrou em colapso: “Sinto-me muito mal
com o que aconteceu”. E os dois homens começaram a chorar. Fracasso é um evento
e não uma pessoa.
Artigo
inspirado na coluna de Malcolm Gladwell “Porque certas pessoas entram em
colapso e outras entram em pânico” publicada na revista The New Yorker em 21 e
28 de agosto de 2000
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Bela reflexão! Poderíamos falar mais sobre este tema. Mas quem não? Alguns, carregam por uma vida inteira suas mazelas, outros nem tanto, contudo aos que tiram de letra... Penso que já passei por tudo isso, e nada pode afirmar que isso possa ocorrer novamente. Contudo, algumas coisas, já descarto com muita facilidade, outras deixo que o tempo se encarregue. Neste momento acredito no que diz a música "O acaso - Titãs".
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