sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Impossível? Talvez...

 Talvez. O que significa a palavra “talvez”? Nada. Talvez é uma palavra intermediária entre o sim e o não. Quando alguém não sabe o que dizer ou não quer se comprometer com algo, solta um talvez no inicio da frase e automaticamente se livra da obrigação.

Talvez eu possa ir no jantar amanhã. Qual o conteúdo dessa frase? Nenhum, pode ser que consiga ir no jantar ou pode ser que não compareça. Esperar até amanhã é muito tempo quando se tem um talvez por trás. Talvez é uma palavra vazia, ilusória, parece que está dizendo algo mas na verdade não diz nada, semeia a dúvida e a insegurança.

Talvez é uma palavra muito utilizada por políticos. Dizem que quando um político responde sim, podemos interpretar como talvez. Quando disser talvez, o significado é não. E quando o político disser não, ele não é um bom político.

Outra palavra que tem sentido dúbio é a conjunção “mas” e seus parentes próximos: porém, contudo, todavia, entretanto. Sempre existe um mas pra estragar ou contradizer uma afirmação prévia. Ela é muito bonitinha, mas parece que é um pouco manca. O carro é ótimo, exatamente o que estava procurando, mas um pouco caro para o meu orçamento. Mas é uma palavra que desarranja, perturba, confunde e atravanca o sentido da conversa. ]

Uma terceira palavra adicional para a lista das ambíguas, evasivas e imprecisas: “depois”. Por que deixar para depois? Por que não agora? Por que deixamos as coisas pra depois? Depois eu ligo, depois eu faço, depois eu mudo. Depois pode ser tarde, depois a prioridade pode mudar, depois a saudade passa, depois a vida acaba.

Utilizei o exemplo destas três palavras com a intenção de mostrar que embora possa parecer que sejam utilizadas para desconversar ou contornar o assunto, podem servir também para abrir novas possibilidades, não prendem o interlocutor em uma idéia única ou certeza absoluta. Podem causar problemas, equívocos, desencontros, no entanto são palavras libertárias e como tal, não aceitam limitações.

Por outro lado, existem palavras que confinam, represam, aprisionam e deixam o comunicador refém da sentença transmitida. “Porque” deve ser a campeã de subjugar pareceres e opiniões. Na medida em que se coloca um porque na oração, outras alternativas que poderiam ser viáveis, automaticamente desaparecem.

Cheguei atrasado porque fiquei preso num congestionamento. Pronto, a explicação foi dada e geralmente convence ou acalma os ânimos. Mas será que o atraso aconteceu porque o despertador não tocou, porque o pneu do carro furou, porque precisou levar o filho na escola, porque encontrou alguém e ficou conversando. Existem mil porquês para cada situação, mas quando escolhemos um, parece que os outros se anulam, não fazem mais sentido ou tornam-se desnecessários.

Por que vocês se divorciaram? Certamente não existe apenas um porquê para explicar a separação, cada parceiro terá a sua versão da desunião. Por que você me ama? Cuidado com a resposta, pois um porquê vai deixar de lado vários outros porquês ou, pior ainda, vai tentar externar um sentimento muito maior que palavras possam expressar.

Vivemos em uma sociedade onde é preciso racionalizar, tudo precisa  um porquê para ser validado. Duvido que você consiga escrever um texto onde não sejam inseridos vários porquês. É muito difícil responder a pergunta  “Por que você fez isso?” com um não sei, ou simplesmente com um leviano e inconseqüente porque sim. Seriam respostas libertárias, mas ainda não estamos prontos para isso, estamos presos aos porquês.

Somos prisioneiros de tantas coisas que nem percebemos. Palavras como “impossível”, “jamais”, “nunca”, colocam-nos em gaiolas de  erudição e certeza impedindo-nos de voar, e só conseguem se manter inatingíveis devido aos milhares de porquês que as cercam e protegem. Até quando vai durar a palavra nunca? Até alguém se libertar e dizer que talvez o nunca possa ter um fim.  Até quando dura um “para sempre”? Até o dia em que o “para” for maior que o “sempre”. Tomara que um dia possamos aprender que o “para sempre” funciona melhor para memórias que para pessoas.

Palavras podem libertar, prender, ferir, curar, matar.

Por que estou falando neste assunto que mais parece uma aula de gramática? Sei lá, deu vontade. Jamais saberemos, mas talvez depois...

10 comentários:

  1. O poder das palavras é fantástico. Parabéns pelo texto!

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  2. Se o impossível não é possível, então não existe o impossivel

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  3. Talvez pode significar nunca.
    Depois pode ser nunca.
    Confusão né?

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    1. Se tem talvez, sai fora. Imagina comer um bolo, talvez engorde e amanhã você está com 20kg a mais. Talvez seja melhor evitar.

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  4. O talvez gera medo,insegurança,receio como é bom ouvir SIM/NÃO.Gosto do inteiro, não de migalhas. Sou ligada, esperta, percebo rápido e cobro SIM ou NÃO. Na minha vida não cabe o TALVEZ. Nunca coube. Penso que o erro é não perceber, nao ver os sinais, ser a última a saber ou não querer saber, viver na dúvida. Busco o SIM busco o NÃO. Mesmo doendo.

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  5. Talvez é bom pra quem diz e péssimo pra quem escuta.

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  6. O talvez é semelhante ao tanto faz. É morno, em cima do muro. Fico enfurecida quando pergunto se a pessoa prefere carne ou peixe e ela responde tanto faz. Uma resposta sem opinião formada, sem paladar, sem parceria.
    O talvez demonstra que a pessoa não está direcionada nem pra carne tampouco para peixe. Não vai fazer um movimento para que o talvez se transforme em carne. Ficará indiferente.
    Fuja do talvez e do tanto faz. Faz mal para quem diz e maltrata quem escuta.

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  7. Penso que, se a pessoa não questionar (enraizar) jamais saberá, isso ou aquilo. SE, estivéssemos conversando com um ser de considerável compreensão dessa vivência ou mesmo de uma audição atenta com aquele que fala, mesmo assim, se não soubermos sua história, não poderíamos tirar conclusões... Poderíamos ainda dizer que a constatação da maioria dos problemas dialógicos se deve a mal-entendidos e incompreensões geradas pela ambiguidade da linguagem natural parece ser uma característica comum de algumas pessoas de determinado período...Às vezes, as palavras poderão ter um efeito de durabilidade, às vezes elas machucam, a nada se compara, nenhum receio ou preocupação, arrependimento e erros poderão ser lembranças feitas, quem poderá imaginar o quanto amargo isso seria... "Tenhamos um olhar atento para cada expressão que nos é dito..." A palavra poderá vir acompanhada de uma expressão facial, de um olhar perdido, tímido ou apaixonado, onde o não, poderia simplesmente ser um sim...

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  8. "É fácil trocar as palavras, Difícil é interpretar os silêncios! É fácil caminhar lado a lado, Difícil é saber como se encontrar! É fácil beijar o rosto, Difícil é chegar ao coração! "
    Fernando Pessoa
    Talvez é a maior dúvida da Vida!

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  9. *(Mário Quintana )*
    O tempo não pode ser segurado; a vida é uma tarefa a ser feita e que levamos para casa. Quando vemos já são 18 horas. Quando vemos já é sexta feira. Quando vemos já terminou o mês. Quando vemos já terminou o ano. Quando vemos já se passaram 50 ou 60 anos.
    Quando vemos, nos damos conta de ter perdido um amigo.

    Quando vemos, o amor de nossa vida parte e nos damos conta de que é tarde para voltar atrás...
    Não pare de fazer alguma coisa que te dá prazer por falta de tempo, não pare de ter alguém ao seu lado ou de ter prazer na solidão.
    Porque os teus filhos subitamente não serão mais teus e deverá fazer alguma coisa com o tempo que sobrar.

    T enta eliminar o “depois”... Depois te ligo...
    Depois eu faço...
    Depois eu falo...
    Depois eu mudo... Penso nisso depois...
    D eixamos tudo para depois, como se o depois fosse melhor, porque não entendemos que: Depois, o café esfria...
    Depois, a prioridade muda... Depois, o encanto se perde...

    Depois, o cedo se transforma em tarde...
    Depois, a melancolia passa... Depois, as coisas mudam...
    Depois, os filhos crescem...
    Depois, a gente envelhece... Depois, as promessas são esquecidas...
    Depois, o dia vira noite...
    Depois, a vida acaba...
    N ão deixe nada para depois porque na espera do depois se pode perder os melhores

    momentos, as melhores experiências, os melhores amigos , os melhores amores ...
    Lembre-se que o depois pode ser tarde.
    O dia é hoje, não estamos mais na idade em que é permitido postergar.
    Talvez tenha tempo para ler e depois compartilhar esta mensagem ou talvez deixar para...”depois”


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