Eventos aparentemente aleatórios e inconseqüentes podem
ser causa de grandes alterações. O simples bater de asas de uma borboleta na
Amazônia, pode causar um tufão no Texas. Assim, uma xícara de café tomada pela
manhã, pode alterar a vida de uma pessoa. Se o tempo que o indivíduo demorar
preparando o café, fizer com que ele atrase dez minutos seu horário habitual e
cruze com a mulher de sua vida na estação de metrô, ou não seja atropelado por
um carro que atravessou o sinal vermelho, estamos frente a uma relação de
casualidade.
Em sua “Teoria do Conhecimento”, David Hume, filósofo escocês,
explica que as causas, aparentemente, acontecem antes dos efeitos. Causa e efeitos
estariam conectados uns aos outros por uma relação de contigüidade. Numa série
causal, há uma cadeia de causas e efeitos, onde um efeito pode ser causa de
outro, e sempre uma causa terá uma outra que a antecede, constituindo com isso
uma série causal infinita.
Quando
estava no sexto ano da faculdade de medicina, precisava escolher uma
especialidade para me diferenciar e crescer profissionalmente. Havia um leque
de opções: ginecologia, cirurgia, oftalmologia, psiquiatria, radiologia.
Poderia decidir por qualquer uma.
A escolha
foi aleatória. Não pensei em mercado de trabalho, ganho profissional, horas de
trabalho, estresse profissional. Achava muito interessante fazer as pessoas
dormir e acordar, aliviando suas dores físicas. Sentia-me poderoso com as
ferramentas anestésicas. Ninguém me aconselhou, simplesmente fiz um “X” na
opção anestesia e ingressei na residência médica.
Se aqueles
dois risquinhos de caneta entrecruzados do “X” houvessem sido feitos, por
engano ou conscientemente, em outra opção, muito em minha vida poderia ter sido
diferente. A começar pela cidade onde moro. Poderia ter feito especialização em
cirurgia plástica e talvez escolhesse um centro fora do Rio Grande do Sul para
estudar. Poderia neste ínterim, conhecer alguma estudante, poderíamos ter
casado e estar até hoje morando nesta outra cidade. Poderia ter recebido uma
proposta de trabalho no exterior. Muitas coisas poderiam ter acontecido em
minha vida.
Fernando
Pessoa escreveu uma poesia em que diz:
Se em certa
altura tivesse voltado para a esquerda em vez da direita;
Se tivesse
dito sim em vez de não ou não em vez de sim;
Se em certa
conversa tivesse dito as frases que só agora, no meio do sono elaboro,
Se tudo isso
tivesse sido assim,
Seria outro
hoje, e talvez o universo inteiro seria insensivelmente outro também.
Einsten achava que viagens no tempo são possíveis, porque o espaço
é curvo e deve haver algum ponto no infinito em que ele se encontra consigo
mesmo. O cosmo seria como uma cobra mordendo a própria cauda, motivo pelo qual
alguns filósofos utilizavam o símbolo de uma serpente mordendo a cauda para
representar o ciclo da energia universal que nunca se esgota, pois se alimenta
de si mesma.
Hawking também disse acreditar nessa possibilidade, mas sob certas condições. Ele diz que se pudéssemos voltar ao passado, não poderíamos interferir na História, porque ela é feita de atos que se despregam dos seus executores tão logo são realizados. Os personagens passam, a história fica. Seriam algo semelhante aos quadros de um pintor, as estátuas de um escultor, os textos de um escritor.
É
confortador saber que nossos atos despregam-se de nós tão logo são produzidos.
Seria extremamente difícil carregar cada ato para o momento seguinte. Chegaria
o dia em que o peso ficaria tão grande que não conseguiríamos dar um único
passo adiante. Nossos atos são como setas lançadas de um arco em direção a um
alvo. Nem sempre os atingem, mas jamais voltam ao arco para serem lançadas
novamente. Resta-nos apenas administrar suas conseqüências.
Ao que
sabemos hoje, o passado não retornará e o futuro é uma incógnita. Mesmo que
conseguíssemos voltar ao passado, as condições ambientais seriam diferentes em
cada momento do tempo. Assim, quando a borboleta batesse as asas de novo na
floresta amazônica, as coisas no universo já estariam diferentes e os efeitos
que ela havia provocado anteriormente, não mais se repetiriam. É o princípio da
incerteza, e isto é o que pode dar sentido e graça a vida. Talvez em todas as
nossas conquistas, devamos muito mais ao acaso do que somos capazes de perceber,
mas, sempre é bom lembrar, que talvez o acaso não exista.
Muito bom Dr Ildo! Uma onda de alegria se formou com o retorno de um colega aposentado...e se não tivesse voltado..não o teria conhecido, não teria sua parceria tão alegre e sem duvida eu não seria tão feliz como sou hoje!
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