segunda-feira, 27 de junho de 2022

Para onde estamos evoluindo?

A guerra entre o bem e o mal não é travada entre exércitos adversários ou entre cidades e nações inimigas. A batalha entre o bem e o mal acontece dia a dia dentro de cada ser humano.

Segundo Platão, a mente humana trava uma disputa incessante entre três forças para controlar nosso comportamento. Uma das forças é o instinto animal de sobrevivência, preparado para lutar, comer e acasalar. A segunda força são nossas emoções, alegria, raiva, medo. Instinto e emoção funcionam como animais selvagens internos empurrando nosso comportamento para direções pouco aconselháveis.

O cérebro dos humanos evoluiu e desenvolveu o pensamento racional, visando refrear ambos os animais e nos guiar num caminho mais civilizado e justo. Há controvérsias. O mau comportamento não é fruto de atividade de animais ancestrais interiores inferiores, assim como o bom comportamento não é resultado da racionalidade. São metáforas utilizadas para tentar explicar condutas humanas aleatórias.

Cabe então uma pergunta, por qual razão o cérebro humano evoluiu? A resposta óbvia seria para pensar e assim colocar o homem no topo da evolução e da cadeia alimentar, controlando o modo de funcionamento do mundo e dos demais animais. Pensar seria o super poder humano sobre as outras espécies.

Doce ilusão. Não é bem assim. A evolução não tem propósito. Segundo o dicionário, evolução é um processo no qual ocorrem mudanças nos seres vivos ao longo do tempo, podendo levar ao surgimento de novas espécies. Desejada ou não, evolução acontece, pra melhor ou pra pior. O fato de o homem pensar não o torna superior, tampouco melhor ou pior que outros animais.

Não temos asas para voar, não conseguimos levantar cinquenta vezes nosso peso, membros amputados não voltam a crescer. Capacidades vulgares para animais ditos inferiores e que humanos consideram super poderes de heróis fictícios e adorariam possuí-los.

A seleção natural não privilegiou a espécie humana, apenas lhe deu adaptações particulares para que sobrevivesse em seu habitat. Pensar é uma destas adaptações. Os outros animais estão singularmente adaptados aos seus ambientes de maneiras diversas. Bactérias, por exemplo, são muito talentosas em sobreviver em ambientes inóspitos e agressivos, como no interior de nossos intestinos ou nas carcaças dos seres humanos depois de mortos. Ironicamente o ser que se julga no topo da evolução, um dia será decomposto por um animal classificado por ele como inferior e na retaguarda do ecossistema.

Para que serve afinal o pensar e qual a vantagem de termos um pensamento?  Pensar remete a racionalidade e responsabilidade e emoção supostamente significa insensatez e leviandade? Pensamento denota ausência de emoção?

Se colocarmos frente a frente um homem e um gorila numa luta e o homem estiver desarmado, o gorila acaba rapidamente com o homem. Se colocarmos dez gorilas em luta contra dez homens, os gorilas estraçalharão os homens. Agora se colocarmos cem homens versus cem gorilas, os homens devem vencer a batalha. Por quê? Porque os homens têm o super poder de pensar. Frente a um inimigo comum unem-se visando a sobrevivência mútua, coisa que macacos não fazem, é cada um por si, sem pensar no outro.

Nesta situação particular o pensar fez toda diferença, no entanto pensar é a fonte tanto de nossas forças como de nossas fraquezas. Dá-nos a capacidade de construir civilizações como de destruirmos uns aos outros. Torna-nos simples, imperfeita e gloriosamente humanos. Viver é navegar a canoa da razão num mar de emoções. Alguns naufragam, outros atravessam oceanos. Ou como dizem os versos do poeta português Fernando Pessoa, “navegar é preciso, viver não é preciso”.

Isso mesmo, infelizmente viver não é algo que acontece com exatidão, clareza, certeza ou inocência. Quando olho pela janela e vejo guerras por um pedaço de terra, assaltos e mortes por aparelhos celulares, noticias falsas sobre a pandemia e vacinação, me pergunto para onde estamos evoluindo.

Para ultrapassarmos a batalha entre o bem e o mal, precisamos entender o que significa sermos racionais, responsáveis por nossas ações e, talvez mesmo, o que significa sermos humanos.

Texto baseado no livro “7 lições e meia sobre o cérebro” de Lisa Feldman Barret  

6 comentários:

  1. Responsabilidades, temos em algumas área e em outras não?
    Alguns seres são seletivos e outros não? Definimos com quem temos que ter Responsabilidades? Se observarmos uma gota de água fazendo a sua parte, ao cair sobre uma geleira, e logo em sua trajetória, se desenrola ou enrola montanha abaixo. Poderíamos perceber o que ela leva por diante, o que ela destrói, e o que acumula pelo caminho?Mas será que ela percebe o mesmo que eu, como expectador? Nem todos tem a capacidade de aprender com a observação, alguns terão que vivenciar todo em um contexto existencial , outros não. E esse último poderá ou não ter a ausência da emoção?

    ResponderExcluir
  2. Penso, logo existo. Será mesmo?

    ResponderExcluir
  3. Prefiro pensar com os neurônios do coração.

    ResponderExcluir
  4. Tem situações e momentos que é melhor não pensar. O pensar leva a ação.

    ResponderExcluir
  5. O gorila só vai entrar em contato e talvez lutar com o homem se for para disputar comida, fêmea ou se for agredido. Já o homem vai querer prender o gorila para expor num zoológico, fazer experiências, vender o pelo do animal e tudo mais. O homem saiu da selva, mas a selva não saiu do homem.

    ResponderExcluir
  6. O problema dos humanos pensarem é mais complicado que parece. Pensar pode ser um problema quando colocamos expectativas que não se realizam e nos frustramos, ficamos infelizes porque pensamos longe demais.
    Mas o problema maior do pensar não é esse. Algumas pessoas só pensam, não tem sentimentos e então cometem as maiores barbaridades pois para eles só vale o que Descartes falou "Penso, logo existo".
    Eu, ao contrario, sinto, sinto muito por existirem pessoas pensantes demais. Tatiana

    ResponderExcluir