quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Quer casar comigo? Depende...

 

— Quer casar comigo?

— Depende.

— Depende do que?

— Do que você chama de casamento e, principalmente, por que você quer casar.

A gente já se ama, dorme junto, conhece o riso e o silêncio um do outro como ninguém. Então, o que mais essa palavra “casamento” colocaria na mesa?

Uma aliança no dedo pra mostrar pro mundo? Vestido branco com véu arrastando no chão? Assinatura no cartório com caneta azul? Benção de um padre, rabino ou quem quer que seja? Festa com bolo de três andares e convidados que a gente mal conhece? Discursos e performances ensaiados? Foto oficial com sorrisos congelados?
Nada disso me faria suspirar e dizer sim.

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Beleza, qual a tua verdade?

 

Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. Mas os olhos, coitados, se iludem. Pensam que beleza está juventude: pele esticada, corpo firme, frescor no olhar. E quando  a juventude passa, o que sobra? A juventude é uma carta de apresentação com prazo de validade. Não é por ai.

Estaria a beleza na estética? Corte perfeito, corpo no padrão, rosto simétrico, roupa de grife. Tudo impecável até a primeira lágrima borrar a maquiagem e mostrar que tudo aquilo é apenas fachada.

E o charme? O jeito de falar, de andar, o olhar que prende, a risada que contagia. É um magnetismo encantador, inegável e quase inexplicável. Mas charme sem alma é como fogos de artifício: bonito por segundos, logo se apaga, deixando o cheiro de pólvora no ar.

A inteligência também concorre ao pódio da beleza. Chegam a ser cúmplices. Há quem diga que nada é mais bonito que uma mente afiada. Mas uma inteligência afiada e mal direcionada pode ser perigosa demais para ser chamada de bela.

Mas a beleza verdadeira não se mede,  não cabe nestas caixinhas. Ela é maior.  Vive no caráter, na vulnerabilidade, na autenticidade, na resiliência, na espiritualidade, num acordo entre conteúdo e forma. Mais ainda, a beleza existe também no imperfeito: na cicatriz que guarda histórias, nas rugas que registram risadas, na coragem de se revelar em vez de esconder.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Você perdoaria uma traição?

 

Foi numa terça-feira qualquer. O celular dele esquecido sobre a mesa vibrou. A tela acendeu, uma frase curta com um nome que não era o dela: te espero nua para jantar, tua Paula.

Ela leu, releu, procurando um engano, um contexto que salvasse a situação, uma explicação que fechasse a ferida antes mesmo dela sangrar. Mas não havia.

Nos dias seguintes, ela oscilou entre dois extremos: a raiva que a queimava por dentro e o amor que ainda insistia em segurá-la na relação. Vontade de ir embora, vontade de acreditar.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

O Desastre do Não Fim

 

Começou como faísca, virou incêndio e depois cinzas. No lugar do calor, ficou só o silêncio. Um silêncio que não é paz, mas ausência. Minha avó já dizia: o divórcio começa no namoro.

Ela tinha razão. O afeto não se despede com gritos, simplesmente vai deixando de ser, evapora, some sem fazer alarde e cede lugar a um automático frio e desinteressado. O olhar que antes buscava conexão dura menos de dois segundos, o bom dia que era promessa de um novo começo se torna mera formalidade vazia, o abraço que antes era refúgio, agora se transforma em um tapinha nas costas, o toque deixa de ser desejo e vira hábito.

Não conversam, trocam recados com informações básicas do dia a dia. Cruzam no corredor, falam sobre contas, o que falta na geladeira, a agenda da semana, mas não falam sobre o que sentem, o que os aflige.

sábado, 9 de agosto de 2025

Quero tudo

 Você encontra uma lâmpada mágica. Esfrega, rindo de si mesmo, só pra ver no que vai dar. Aparece um gênio. Descolado, estiloso, olhar afiado, com cara de quem já viu de tudo. Ele diz que você tem direito a um único pedido.

Aí começa o dilema, o que pedir? Dinheiro? Saúde? Amor? Voltar no tempo pra consertar alguma coisa? Trazer alguém querido de volta? Acabar com todas as suas dúvidas? Zerar os boletos, as dores, os traumas, as culpas?

Será que existe um pedido que, de fato, resolva tudo? Existe esse lugar chamado plenitude onde finalmente nada mais falta?

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Quero ser o Robin

 

Quando era criança, brincava de Batman da manhã à noite. Brincava coisa nenhuma, eu era o Batman. Capa preta, máscara improvisada, voz forçada para ficar grossa, carro preto imaginário que fazia barulho de motor com a boca e com uma missão clara: salvar o mundo dos vilões.

E não era só eu, meus amigos também viviam isso.  Mochilas, fantasias, festas de aniversário temáticas, coleção de figurinhas, jogos, pôsteres, filmes. Todo mundo era Batman.


Mas e o Robin, o parceiro inseparável, o ajudante fiel, o menino de meia calça verde e capa amarela, onde ele se encaixa nessa história? Por que todos queriam ser o Batman e quase ninguém o Robin?