Quando era criança, brincava de Batman da manhã à noite. Brincava coisa
nenhuma, eu era o Batman. Capa preta, máscara improvisada, voz forçada para
ficar grossa, carro preto imaginário que fazia barulho de motor com a boca e
com uma missão clara: salvar o mundo dos vilões.
E não era só eu, meus amigos também viviam isso. Mochilas, fantasias, festas de aniversário temáticas,
coleção de figurinhas, jogos, pôsteres, filmes. Todo mundo era Batman.
Mas e o Robin, o parceiro inseparável, o ajudante
fiel, o menino de meia calça verde e capa amarela, onde ele se encaixa nessa
história? Por que todos queriam ser o Batman e quase ninguém o Robin?
Batman é o herói solitário que aprendemos a
admirar. Perdeu os pais, jurou vingança
e se preparou física e intelectualmente para mudar o mundo. Ele é inteligente,
rico, forte, metódico, invencível. Não tem super poderes, só um trauma bem
resolvido e uma conta bancária ilimitada. É um herói auto-suficiente e
misterioso que habita em uma caverna escura. Ele não precisa de ninguém, ou
pelo menos, finge que não precisa.
Robin, por outro lado, é o menino prodígio. Conta a lenda que era uma
acrobata de circo que viu os pais morrerem diante de seus olhos em um acidente.
Bruce Wayne , identidade secreta de Batman, viu a sua própria tragédia repetida
ali e o acolheu.
Treinado pelo Cavaleiro das Trevas, nasceu Robin, um jovem ágil,
corajoso, espírito otimista, com uma máscara leve tapando apenas os olhos e um
uniforme multicolorido contrastando com a escuridão e o silêncio do seu mentor.
Só que apesar de sua bravura e tendo o próprio Batman como professor,
ele ainda é um aprendiz. Ser Robin é mais difícil do que parece. É sobre estar
aprendendo, errar, ouvir conselhos e crescer na marra. Mas a verdade é que o
mundo não tem muita paciência para isso.
Todos querem ser o mestre, o herói principal da história. O mundo quer
os prontos, os fortes, os que já chegam sabendo tudo.
Mas o Robin não é só um mero ajudante. Ele é quem segura a lanterna para
o Batman conseguir descer a escada escura. Ele representa a luz dentro da
caverna, o riso que quebra a rigidez, a pergunta sussurrada “Tá tudo bem?”,
mesmo quando se sabe que não está.
Robin é o amigo que fica. A família que Batman perdeu. O irmão mais novo
que tropeça, mas levanta e aprende. É o adolescente tentando entender seu lugar
num mundo que vive exigindo certezas.
Por isso hoje, com um pouco mais de vida nas costas, olho para o Robin
com outros olhos. Entendo que todo Batman já foi Robin, todo herói começou
sendo um aprendiz, todo forte já teve medo, todo líder já precisou de apoio.
Ser o Robin é ser alguém que ainda está se formando, mas que tem coragem
de entrar em cena mesmo sem ter todas as respostas. Ele é humano, falho, e por
isso, muito mais real, muito mais próximo de nós.
Robin nos ensina que ser o segundo plano por um tempo não é fracasso, é processo. Ser Robin é não precisar
brilhar sozinho. É ser o amigo que anda ao lado mesmo na escuridão, o parceiro
que soma, o aprendiz que, com o tempo, vira herói à sua própria maneira. Robin
simboliza apoio, companhia, o caminho percorrido ao lado de alguém.
Todo o mundo quer ser o Batman, mas quem sabe, se o mundo tivesse mais
Robins, a gente não precisaria de tantos Batmans.
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