segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Quero ser o Robin

 

Quando era criança, brincava de Batman da manhã à noite. Brincava coisa nenhuma, eu era o Batman. Capa preta, máscara improvisada, voz forçada para ficar grossa, carro preto imaginário que fazia barulho de motor com a boca e com uma missão clara: salvar o mundo dos vilões.

E não era só eu, meus amigos também viviam isso.  Mochilas, fantasias, festas de aniversário temáticas, coleção de figurinhas, jogos, pôsteres, filmes. Todo mundo era Batman.


Mas e o Robin, o parceiro inseparável, o ajudante fiel, o menino de meia calça verde e capa amarela, onde ele se encaixa nessa história? Por que todos queriam ser o Batman e quase ninguém o Robin?


Batman é o herói solitário que aprendemos a admirar.  Perdeu os pais, jurou vingança e se preparou física e intelectualmente para mudar o mundo. Ele é inteligente, rico, forte, metódico, invencível. Não tem super poderes, só um trauma bem resolvido e uma conta bancária ilimitada. É um herói auto-suficiente e misterioso que habita em uma caverna escura. Ele não precisa de ninguém, ou pelo menos, finge que não precisa.

Robin, por outro lado, é o menino prodígio. Conta a lenda que era uma acrobata de circo que viu os pais morrerem diante de seus olhos em um acidente. Bruce Wayne , identidade secreta de Batman, viu a sua própria tragédia repetida ali e o acolheu.

Treinado pelo Cavaleiro das Trevas, nasceu Robin, um jovem ágil, corajoso, espírito otimista, com uma máscara leve tapando apenas os olhos e um uniforme multicolorido contrastando com a escuridão e o silêncio do seu mentor.

Só que apesar de sua bravura e tendo o próprio Batman como professor, ele ainda é um aprendiz. Ser Robin é mais difícil do que parece. É sobre estar aprendendo, errar, ouvir conselhos e crescer na marra. Mas a verdade é que o mundo não tem muita paciência para isso.  Todos querem ser o mestre, o herói principal da história. O mundo quer os prontos, os fortes, os que já chegam sabendo tudo.

Mas o Robin não é só um mero ajudante. Ele é quem segura a lanterna para o Batman conseguir descer a escada escura. Ele representa a luz dentro da caverna, o riso que quebra a rigidez, a pergunta sussurrada “Tá tudo bem?”, mesmo quando se sabe que não está.

Robin é o amigo que fica. A família que Batman perdeu. O irmão mais novo que tropeça, mas levanta e aprende. É o adolescente tentando entender seu lugar num mundo que vive exigindo certezas.

Por isso hoje, com um pouco mais de vida nas costas, olho para o Robin com outros olhos. Entendo que todo Batman já foi Robin, todo herói começou sendo um aprendiz, todo forte já teve medo, todo líder já precisou de apoio.

Ser o Robin é ser alguém que ainda está se formando, mas que tem coragem de entrar em cena mesmo sem ter todas as respostas. Ele é humano, falho, e por isso, muito mais real, muito mais próximo de nós.

Robin nos ensina que ser o segundo plano por um tempo não é fracasso, é processo. Ser Robin é não precisar brilhar sozinho. É ser o amigo que anda ao lado mesmo na escuridão, o parceiro que soma, o aprendiz que, com o tempo, vira herói à sua própria maneira. Robin simboliza apoio, companhia, o caminho percorrido ao lado de alguém.

Todo o mundo quer ser o Batman, mas quem sabe, se o mundo tivesse mais Robins, a gente não precisaria de tantos Batmans.

 

 

 

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