Começou como faísca, virou
incêndio e depois cinzas. No lugar do calor, ficou só o silêncio. Um silêncio
que não é paz, mas ausência. Minha avó já dizia: o divórcio começa no namoro.
Ela tinha razão. O afeto
não se despede com gritos, simplesmente vai deixando de ser, evapora, some sem
fazer alarde e cede lugar a um automático frio e desinteressado. O olhar que
antes buscava conexão dura menos de dois segundos, o bom dia que era promessa
de um novo começo se torna mera formalidade vazia, o abraço que antes era
refúgio, agora se transforma em um tapinha nas costas, o toque deixa de ser
desejo e vira hábito.
Não conversam, trocam recados com informações básicas do dia a dia. Cruzam no corredor, falam sobre contas, o que falta na geladeira, a agenda da semana, mas não falam sobre o que sentem, o que os aflige.
Dormem juntos na mesma cama.
De costas, dois corpos virados para lados opostos, cada um em um continente
diferente. Sonhos que não se encontram. Peles que não se procuram. Compartilham
a cama, não a vida.
Postam
fotos sorrindo, mas em casa não trocam nem um sorriso de verdade, a presença do
outro pesa mais que conforta. Aquilo que antes era porto seguro agora é âncora.
Não segura, afunda.
Por que continuar? Medo de
ir embora? Medo de se arrepender, de achar que não tentou o suficiente, da
solidão que está por vir, do julgamento alheio? O medo veste fantasia de amor,
engana fácil e os aprisiona com correntes invisíveis. Estar junto assim machuca
mais que estar só. Mudar dói, mas ficar parado na dor é pior ainda.
O amor não foi embora de
repente. Foi saindo de fininho, como quem não quer incomodar. O casal percebe,
mas continua fingindo que ele ainda está ali, repetindo a cena de um espetáculo
já encerrado. Acreditam que segurar as cinzas é o mesmo que manter o fogo.
Relações agonizantes são
como capítulos sem continuação, precisam de um ponto final. O amor foi indo
embora sem um porquê, sem conversas, sem um adeus. Apenas vírgulas e
reticências para manter um cenário e não admitir que acabou.
A tragédia não está no
fim. O fim é porta aberta. O verdadeiro desastre é o não fim. Não se perde o
que já não existe.
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