terça-feira, 31 de março de 2009

Como dizia Roberto Carlos, São tantas emoções...

Emoção e sentimento não são sinônimos. Pelo contrário, são processos muito diferentes. O que sentiu ao ver seu filho dar os primeiros passos? Qual foi a emoção? Talvez seja difícil exprimir em palavras.

Emoção pode ser definida como um impulso nervoso que provoca um conjunto de reações psico-fisiológicas. Chorar, tremer, transpirar, vomitar, corar, fugir, sorrir, gritar, desmaiar, coração disparar... Independem da vontade, geralmente são de curta duração e muita intensidade, sendo difícil de esconder, pois apresentam manifestações externas e públicas. Podem jorrar a qualquer momento, sofrendo grande influência dos instintos e da não racionalidade.

Sentimento já é algo mais elaborado; envolve racionalização, livre-arbítrio, espiritualidade, bom senso. É a reação que não entendemos (emoção), sendo integrada ao nosso ser. Uma emoção madura. Diferente das emoções, sentimentos são privados; os outros só ficam sabendo se existir o desejo de partilhá-los. Amor, paz, alegria, medo, tristeza, esperança, orgulho...

Imagine o corpo humano envolvido por uma membrana impermeável. Somente palavras e emoções poderiam penetrar em seu interior e ali sofreriam transformações.

A emoção/palavra que conseguir penetrar no interior do corpo e ser integrada, ou no mínimo percebida e interpretada, transforma-se em sentimento. A emoção que penetrar e não for sentida, será apenas uma emoção, e deixará como lembrança a dramatização ocorrida do lado de fora. A palavra que não for sentida pode ser intelectualizada sob a forma de pensamento ou também ficar diluída, pelo menos a nível consciente. Assim, teríamos no interior do corpo pensamentos e sentimentos, e do lado de fora, emoções e palavras.

Há um incontável número de coisas que acontecem e são confundidas ora com sentimento, ora com emoção e ora com palavras. Pessoas que não conseguem demonstrar emoções podem ser acusadas de ausência de sentimentos e pessoas muito emotivas podem ser interpretadas como sensíveis. Isto nem sempre é verdadeiro, pode causar constrangimentos afetivos, guerras e até mesmo separações.

O que realmente expressamos para nós mesmos e para o mundo? Emoções? Sentimentos? Palavras?

Comecemos pelas palavras. Por melhor que seja a intenção, dizer não é o mesmo que sentir. Ao dizer, altera-se o que se sente. Só o estar sofrendo diz o que é sofrer. Além disto, com palavras pode-se mentir, dissimular...

Emoções podem demonstrar sentimentos, mas como saber se aquelas lágrimas são a via de saída de um sentimento ou apenas o processo de entrada para o interior do corpo?

Nem sempre sentimos o que queríamos sentir ou o que os outros esperavam que sentíssemos. Agarramo-nos então a padrões sentimentais pré-estabelecidos (despedida-choro, falecimento-tristeza) que nos deixam confusos, isolados, sem palavras ou emoções, e às vezes, alienados da realidade.

Como as emoções, sentimentos também fogem de nosso controle, com a diferença de que não são fugazes, ficam no interior de nossos corpos remoendo, marcando, lembrando.

Amor é sentimento; paixão é emoção. Na paixão estamos presos, somos ruidosos, ansiosos, ciumentos, febris, egoístas, inseguros. O amor liberta, desprende, traz paz. Ao contrário do que muitos pensam, amor não mata; a paixão é que pode matar.

Alegria é um sentimento, euforia e gargalhadas são emoções. Medo é um sentimento, pânico e desespero são emoções. Raiva é um sentimento, ódio é uma emoção.

Emoções são instintivas. Palavras podem ser racionais demais. Sentimentos podem ser o ponto de equilíbrio.

Palavras não controlam desequilíbrio emocional, não funcionam na irracionalidade. Sentimentos têm esta força. Amparam, acodem e podem até transformar mágoa em alegria, pavor em coragem e ódio em amor.

No clamor das emoções e das palavras se fazem as guerras, no discernimento dos sentimentos é que se busca a paz.

Como encontrar e acessar os sentimentos? Fácil! Estão no mesmo lugar desde que nascemos. Sentimentos são internos. Estão lá dentro de nossos corpos, esperando para crescer e amadurecer.

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar

Fernando Pessoa

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sexta-feira, 20 de março de 2009

SE ARREPENDIMENTO MATASSE...

Se pudéssemos voltar atrás no tempo e nascer de novo, repetiríamos as mesmas escolhas? Casaríamos com a mesma pessoa? Teríamos a mesma profissão? Faríamos aquele telefonema? Rejeitaríamos aquele beijo? Diríamos aquela frase? Calaríamos? Prenderíamos aquelas lágrimas?

Pensaríamos mais antes de cometer certos erros ou não nos importaríamos tanto com eles? Trocaríamos sonhos por uma vida mais segura?

Caso suas respostas sejam no sentido de repetir e manter tudo igualzinho, ótimo para você. Se pensar em mudar algo, por que ainda não o fez? O que está esperando?

Nem sempre é possível voltar atrás e tentar reverter uma situação. Às vezes o dano é irreversível e não resta mais tempo para correção. Surge então aquilo que chamamos de arrependimento. E mais, podemos nos arrepender daquilo que fizemos e também daquilo que deixamos de fazer. Do que foi feito sem pensar e das oportunidades que foram perdidas por pensar demais.

Arrependimento pressupõe sensibilização e surgimento de dois elementos: tese e emoção. A tese é sempre a mesma: convicção do erro. A variante está na emoção, que pode alternar entre vergonha, culpa, raiva, depressão e remorso, Mas arrependimento não é um fenômeno estático; pelo contrário, arrependimento quer dizer mudança de atitude, ou melhor, atitude oposta àquela tomada anteriormente.

Um simples pedido de desculpas não configura um arrependimento verdadeiro. Entre a tese do arrependimento, a emoção gerada e a tomada de atitude contrária existe um longo e penoso caminho a ser transposto. O remorso, por exemplo, é um sentimento onde a pessoa que o sofre inflige a si mesma algum tipo de castigo apenas para tentar se esquivar de uma punição mais severa advinda do meio social. Não envolve arrependimento verdadeiro nem atitude contrária. Vergonha, raiva, culpa, depressão também não tem sentido se não levarem a mudança de atitude.

Uma velha expressão popular diz “se arrependimento matasse...”. Acontece que arrependimento mata, se chegar atrasado. Dependendo do tempo transcorrido entre a convicção do erro e a possibilidade da atitude contrária o desastre pode ser fatal.

Podemos por um minuto dizer que não mais amamos, nos arrependermos nos próximos quinze minutos e sermos infelizes pelo resto da vida.

Arrependimento não é desonra nem humilhação. É sinal de caráter, bom senso, humildade. Errar é humano e inevitável. A sabedoria está no reconhecimento do erro, arrependimento e atitude para corrigi-lo. O futuro está na brevidade de tempo até que a ação corretiva aconteça. A graça ou desgraça desta vida está justamente na conseqüência dos atos e sua possibilidade ou não de reversão.
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sexta-feira, 6 de março de 2009

SOMOS LIVRES E CONSCIENTES PARA TECER CRÍTICAS E ELOGIOS?




Pensamentos, idéias e insights entram e saem de nossas mentes quase o tempo todo. Bons ou maus, interessantes ou geniais, amadurecem, tomam forma e são transmitidos por meio de palavras. Também desaparecem, ou melhor: são armazenados em nossa memória consciente ou não. Uma vez verbalizado, o pensamento é concretizado, embora muitas vezes o simples pensar já tenha acessado o outro, via canais sutis de comunicação. Freud chamava este fenômeno de telepatia.

Nem só de palavras é feita a rede de comunicação. Gestos, olhares, tom de voz e toda a globalidade e possibilidade de expressão corporal são tão reveladores e poderosos quanto a verbalização.

O receptor tem a tarefa de analisar, interpretar e compreender o que sentiu e ouviu, porém sentimentos e emoções podem interferir no pensamento tanto de quem comunica como de quem recebe a informação. Daí a razão de tantos mal entendidos. Nem sempre a mensagem entendida corresponde ao que foi transmitido.

A exposição pública através de contatos sociais, palestras, livros e artigos publicados, permitem que ouvintes, leitores e espectadores entrem em contato com novos conceitos, formas de pensar, entendimentos e vivências pessoais e, de acordo com suas realidades, possibilidades e visões de mundo, elaborem teses e comentários, fornecendo eventualmente um retorno através de criticas e elogios.

No dia a dia é muito prazeroso receber comentários, pois dão a exata medida do quanto conseguimos atingir nossos objetivos. O fato de concordar ou discordar das idéias expressas não é tão importante. Tocar nas pessoas e faze-las pensar é o propósito.

Comentários, críticas e elogios são o “inevitável esperado!” Este é o tema central desta reflexão.

Em sua vida, você costuma fazer mais criticas ou elogios? Elogia rotineiramente o porteiro do prédio, o motorista do táxi e o ascensorista por estarem realizando seu trabalho corretamente ou acredita que isto é o mínimo exigido para estas tarefas? Fica mais atento à falhas ou consegue perceber quando existem atenção, dedicação, esforço e cortesia?

Acreditamos que criticas sejam mais numerosas do que elogios, pois a ação de elogiar verdadeiramente não é tão simples, requer estarmos seguros e certos de quem somos e do lugar que ocupamos no espaço. O elogio verdadeiro é raro, não porque não existam indivíduos merecedores, mas talvez porque é difícil para a alma humana reconhecer as qualidades, esforços e integridade de seu semelhante.

A maioria das pessoas fica sem graça ao ouvir um elogio e muitas tendem a supor que o mesmo traz consigo alguma intenção oculta. Quanto mais deficiente a auto-estima, maior à resistência ao elogio e a fantasia de uma segunda intenção. Um elogio é quase como um presente: se a pessoa não se achar merecedora não saberá o que fazer com ele... Assim como presentes, elogios em excesso podem atrapalhar...

Freud, dizia: “podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio”. Elogios são ótimos para o ego, mas nem sempre fazem crescer. Além disso, os fatos e atitudes é que elogiam; adjetivos são fugazes. Uma crítica bem elaborada constrói mais do que dez elogios mal conduzidos. “O mal de todos nós é que preferimos ser arruinados por um elogio a sermos salvos por uma crítica. - Norman Vincent

Críticas podem ser doloridas, mas induzem a pensar. Existem as chamadas críticas destrutivas, que aniquilam, reprimem e deixam o alvo sem opção, e existem também as construtivas, que permitem argumentação, aprendizado e evolução. A diferenciação entre ambas e o modo de enfrentá-las é que podem tornar o processo produtivo ou não. Encarar a critica como uma reação, colocando-se no lugar de quem criticou , pode ser um bom antídoto antes de atitudes mais agressivas ou posturas ressentidas. Diferenciar forma de conteúdo é fundamental. Às vezes a crítica esta sendo feita por inveja ou raiva e chega de forma desrespeitosa, embora o conteúdo possa ser válido e se bem interpretado, possa até impulsionar o crescimento pessoal.

Bom seria que para nos poupar de toda esta análise e decodificação das mensagens, os indivíduos tivessem o distanciamento, maturidade, neutralidade e consciência necessária. Tanto da parte de quem faz a crítica como também de quem a recebe. Somos todos merecedores de críticas e elogios, como também somos todos livres para escolher em que situação criticar e qual o momento mais adequado para elogiar.

Artigo escrito em parceria com Luciana Fioravanti da Silva, fisioterapeuta, morfoanalista.
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