Qual a profissão do
futuro? Uma das maiores preocupações das
mães está no futuro de seus filhos, entretanto, o futuro depende de escolhas. Num
tempo de mudanças drásticas, aqueles que aprendem irão possuir o futuro. Os que
se julgam cultos e eruditos geralmente encontram-se ocupados em viver um mundo
que já não mais existe.
Todavia, antes de tudo,
precisamos definir futuro. Segundo o dicionário, futuro representa qualquer
circunstância de vida (condição, posição, qualidade, qualificação) que será
desfrutada em ocasião ainda por chegar. Pode ser visto como um destino totalmente
definido ou algo ainda aberto e incerto, produzindo assim preocupação humana com o dia de amanhã,
angustia inexistente no mundo animal.
Diz um provérbio bíblico que o futuro à Deus pertence. Podemos então nos arriscar a prever o futuro baseados tão somente naquilo que conhecemos até o presente? A resposta é não; somos capazes de fazer meras suposições, nada além.
Entretanto, futuro passa a
ganhar significado quando se cultiva e vislumbra significado nas pequenas
sucessões dos processos que separam a imaginação de sua concretização mais
adiante. O presente é o espaço dos sonhos, de frustração, desejo e realização,
por isso, o futuro, no sentido filosófico, pode ser visto como o presente. Pensar num futuro positivo é um componente
importante de funcionamento cognitivo saudável.
No entanto, o poeta gaúcho
Mario Quintana possuía uma visão mais pessimista, quem sabe até irônica, sobre
a evolução da humanidade, visto que o futuro das nações dependerá cada vez mais
da capacidade de aprendermos a nos relacionar coletivamente. Para ele, o que lhe impressionava à vista de
um macaco, não era o fato de que ele possa ter sido nosso passado, mas o
pressentimento de que venha ser nosso futuro.
Dependemos cada vez mais
de aparelhos eletrônicos e tecnologia. A inteligência artificial é considerada a nova eletricidade, podendo
transformar todos os setores da sociedade e impulsionar o progresso humano de
uma forma sem precedentes, entretanto move-se como o fogo: pode ser uma grande
ferramenta, mas também ser muito perigosa, se não controlada.
Previsões futuristicas
acenam que máquinas superarão a humanidade, automatizando vários serviços com
maior eficiência e criando novos empregos. Haverá uma rotatividade
significativa no mercado de trabalho.
Profissões como analistas
de dados, engenheiros robóticos, especialistas em sustentabilidade, segurança
da informação, tecnologia financeira e outras ocupações relacionadas à inteligência
artificial devem proliferar.
A
discussão que ainda divide analista e filósofos é a capacidade de pensar das
máquinas. Foram projetadas para processar grandes quantidades de dados de forma
rápida e precisa. Respondem questões em segundos, mas isso é pensar?
Os modelos de inteligência
artificial de hoje utilizam apenas 0,12 % de suas capacidades cognitivas, são
capazes de tomar decisões racionais e lógicas baseados em algoritmos
configurados por nós, os humanos. Não possuem sentimentos, empatia, afetos. São
como crianças que precisam ser educadas, com um potencial incrível para
aprender.
Neste contexto, o papel do
filósofo é crucial na renovação da nossa realidade, podendo proporcionar um
diferencial por meio da criatividade e pensamento crítico na programação de
máquinas inteligentes, especialmente aquelas que precisam lidar com juízos
morais, éticos, estéticos e epistemológicos.
Entretanto, moral e ética
são questões que envolvem o dinamismo da existência, não podendo ser
enquadradas em um programa de algoritmos pré-programados. Vão além da técnica e
da lógica. Transcendem. Reduzir a complexidade da linguagem natural em linguagem
matemática, utilizada por computadores e máquinas, é o desafio nada trivial dos
sistemas operacionais utilizados em inteligência artificial.
Profissionais do futuro serão aqueles que desenvolverem
habilidades que máquinas e robôs não
possuem. Neste cenário, palhaços também serão valorizados. Palhaço é aquele
personagem engraçado que mostra nossa fraqueza, vulnerabilidade e ingenuidade
no palco, sendo absolutamente verdadeiro.
Quando Sócrates iniciava seus diálogos maiêuticos,
tínhamos um ignorante (palhaço), o próprio Sócrates e um inteligente qualquer
(sofista). Ao refutar sistematicamente as respostas recebidas, restavam dois
ignorantes. Temos aqui uma coincidência do objeto do palhaço e da filosofia: a
verdade, traduzida de modo diverso.
No momento em que a filosofia revela algo preocupante
e potencialmente temerário nas máquinas de inteligência artificial, a sociedade
decide não levar tão a sério. Mas com o palhaço é diferente, ele não é
perigoso, dele pode-se rir despreocupadamente, pois o filtro da palhaçada
transforma as profundidades da existência em superfícies cômicas e inofensivas.
A inteligência das máquinas funciona como as viseiras
do cavalo, impedindo que possa enxergar tudo que existe a seu redor, eliminando
sua visão periférica. A palhaçada e a filosofia, ao contrário, representam a
arte de evidenciar justamente os detalhes excêntricos, aquilo que a sociedade não
vê ou não quer enxergar.
Os problemas humanos persistirão, conflitos
existenciais e transtornos psiquiátricos acompanharão a escalada das máquinas. Distante de qualquer comparação, prefiro continuar
sendo um filósofo, buscando a verdade, brincando e sorrindo como um palhaço, o
que já me coloca em nível bem mais alto que qualquer inteligência artificial.
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