terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Profissão do futuro

 

Qual a profissão do futuro?  Uma das maiores preocupações das mães está no futuro de seus filhos, entretanto, o futuro depende de escolhas. Num tempo de mudanças drásticas, aqueles que aprendem irão possuir o futuro. Os que se julgam cultos e eruditos geralmente encontram-se ocupados em viver um mundo que já não mais existe.

Todavia, antes de tudo, precisamos definir futuro. Segundo o dicionário, futuro representa qualquer circunstância de vida (condição, posição, qualidade, qualificação) que será desfrutada em ocasião ainda por chegar. Pode ser visto como um destino totalmente definido ou algo ainda aberto e incerto, produzindo assim  preocupação humana com o dia de amanhã, angustia inexistente no mundo animal.

Diz um provérbio bíblico que o futuro à Deus pertence. Podemos então nos arriscar a prever o futuro baseados tão somente naquilo que conhecemos até o presente? A resposta é não; somos capazes de fazer meras suposições, nada além.

Entretanto, futuro passa a ganhar significado quando se cultiva e vislumbra significado nas pequenas sucessões dos processos que separam a imaginação de sua concretização mais adiante. O presente é o espaço dos sonhos, de frustração, desejo e realização, por isso, o futuro, no sentido filosófico, pode ser visto como o presente.  Pensar num futuro positivo é um componente importante de funcionamento cognitivo saudável.

No entanto, o poeta gaúcho Mario Quintana possuía uma visão mais pessimista, quem sabe até irônica, sobre a evolução da humanidade, visto que o futuro das nações dependerá cada vez mais da capacidade de aprendermos a nos relacionar coletivamente.  Para ele, o que lhe impressionava à vista de um macaco, não era o fato de que ele possa ter sido nosso passado, mas o pressentimento de que venha ser nosso futuro.

Dependemos cada vez mais de aparelhos eletrônicos e tecnologia.  A inteligência artificial é considerada  a nova eletricidade, podendo transformar todos os setores da sociedade e impulsionar o progresso humano de uma forma sem precedentes, entretanto move-se como o fogo: pode ser uma grande ferramenta, mas também ser muito perigosa, se não controlada.

Previsões futuristicas acenam que máquinas superarão a humanidade, automatizando vários serviços com maior eficiência e criando novos empregos. Haverá uma rotatividade significativa no mercado de trabalho.

Profissões como analistas de dados, engenheiros robóticos, especialistas em sustentabilidade, segurança da informação, tecnologia financeira e outras ocupações relacionadas à inteligência artificial devem proliferar.

A discussão que ainda divide analista e filósofos é a capacidade de pensar das máquinas. Foram projetadas para processar grandes quantidades de dados de forma rápida e precisa. Respondem questões em segundos, mas isso é pensar?

Os modelos de inteligência artificial de hoje utilizam apenas 0,12 % de suas capacidades cognitivas, são capazes de tomar decisões racionais e lógicas baseados em algoritmos configurados por nós, os humanos. Não possuem sentimentos, empatia, afetos. São como crianças que precisam ser educadas, com um potencial incrível para aprender.

Neste contexto, o papel do filósofo é crucial na renovação da nossa realidade, podendo proporcionar um diferencial por meio da criatividade e pensamento crítico na programação de máquinas inteligentes, especialmente aquelas que precisam lidar com juízos morais, éticos, estéticos e epistemológicos.

Entretanto, moral e ética são questões que envolvem o dinamismo da existência, não podendo ser enquadradas em um programa de algoritmos pré-programados. Vão além da técnica e da lógica. Transcendem. Reduzir a complexidade da linguagem natural em linguagem matemática, utilizada por computadores e máquinas, é o desafio nada trivial dos sistemas operacionais utilizados em inteligência artificial.

Profissionais do futuro serão aqueles que desenvolverem habilidades  que máquinas e robôs não possuem. Neste cenário, palhaços também serão valorizados. Palhaço é aquele personagem engraçado que mostra nossa fraqueza, vulnerabilidade e ingenuidade no palco, sendo absolutamente verdadeiro.

Quando Sócrates iniciava seus diálogos maiêuticos, tínhamos um ignorante (palhaço), o próprio Sócrates e um inteligente qualquer (sofista). Ao refutar sistematicamente as respostas recebidas, restavam dois ignorantes. Temos aqui uma coincidência do objeto do palhaço e da filosofia: a verdade, traduzida de modo diverso.

No momento em que a filosofia revela algo preocupante e potencialmente temerário nas máquinas de inteligência artificial, a sociedade decide não levar tão a sério. Mas com o palhaço é diferente, ele não é perigoso, dele pode-se rir despreocupadamente, pois o filtro da palhaçada transforma as profundidades da existência em superfícies cômicas e inofensivas.

A inteligência das máquinas funciona como as viseiras do cavalo, impedindo que possa enxergar tudo que existe a seu redor, eliminando sua visão periférica. A palhaçada e a filosofia, ao contrário, representam a arte de evidenciar justamente os detalhes excêntricos, aquilo que a sociedade não vê ou não quer enxergar.

Os problemas humanos persistirão, conflitos existenciais e transtornos psiquiátricos acompanharão a escalada das máquinas.  Distante de qualquer comparação, prefiro continuar sendo um filósofo, buscando a verdade, brincando e sorrindo como um palhaço, o que já me coloca em nível bem mais alto que qualquer inteligência artificial.

 

 

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