Desde a antiguidade a natureza do tempo tem sido um dos maiores problemas filosóficos: a passagem do tempo, a forma como ele flui, sua linearidade, relação com o espaço. Como o percepcionamos?
Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para os homens. O tempo é democrático, mas nem tanto, oferece uma passagem só de ida e ao mesmo tempo pessoal e intransferível. É assim que você percebe o tempo?
Tanto Aristóteles quanto
Newton acreditavam no tempo absoluto, defendendo a ideia de que se pode medir o
intervalo de tempo entre dois eventos, e que o resultado será sempre o mesmo,
desde que se use um relógio preciso. Tempo seria independente e completamente
separado de espaço ou da mente.
Albert Einstein, criador
da Teoria da Relatividade, referia-se a noção do tempo como uma persistente
ilusão, na medida em que as pessoas percepcionam tempos distintos através dos
sentidos ou da mente e, a partir daí, conseguem formar construções imagéticas
relacionadas à espacialidade.
Em situações agradáveis o
tempo passa depressa, quase voa; numa situação penosa passa devagar, quase não
anda. Algumas pessoas até mesmo se
divertem matando o tempo.
Podemos perceber a
passagem do tempo ao observar a seqüência dos dias, das noites, semanas, meses
e anos. Percebemos também, o ciclo de vida das pessoas, das plantas, dos
animais, das estações do ano. No entanto, nada impede que uma senhora de idade
volte no tempo e sinta-se uma adolescente e vice versa.
Olhos podem ser velhos, mas
o olhar ainda ser jovem. O tempo
envelhece a boca, mas não o beijo, tampouco a alma. O tempo de fora é o
tempo de vida, o tempo de dentro é a vida que damos ao tempo.
O valor das coisas mais
valiosas está relacionado ao tempo, sua perenidade, sua incapacidade de ser
infinito. Momentos perfeitos, inestimáveis e raros são, por natureza,
passageiros, não se deve querer prolongá-los artificialmente, pois quando
estendidos, passam a ser momentos estendidos e não mais absolutos e plenos. O
eterno às vezes dura apenas um segundo.
Nietzsche dizia: "Aquele que não dispõe de dois terços do dia para sí é um escravo". Deveríamos trabalhar oito horas e dedicas as outras dezesseis ao ócio, ao lazer, ao sono, à meditação.
Sêneca complementa: "Pequena é a parte da vida que vivemos, pois todo restante não é vida, mas somente tempo".
Se sabendo da nossa
finitude não damos valor ao tempo e a efemeridade das circunstâncias, imagine
se fossemos imortais. A vida seria um tédio. Pessoas agonizantes, no leito de
morte, cansadas de viver pedem ao médico que lhes prolongue a vida. Para que
querem mais tempo? A vida não é medida em números, horas ou dias. Por mais
paradoxal que seja, viver é um contínuo aprender a morrer.
O mais perverso na ciência
é acreditar que algumas máquinas e medições podem prolongar uma vida e definir
o sentido do que quer que seja. O tempo finge que avançamos, que encompridamos
a vida, mas às vezes remamos, remamos e não saímos do mesmo lugar. Antes um
Titanic afundado do que um barco que não vai a lugar algum.
“Você tem que ser capaz de
parar o tempo”, disse Pablo Picasso sobre a arte de ser escultor. Chega um
momento em que a obra adquire vida própria e o artista não deve querer mais
aperfeiçoá-la. Precisa libertá-la. Está pronta para ser apresentada aos outros
a tempo de preservar a idéia original e manter a integridade do conceito. Parar a tempo para que a obra se eternize.
Pode não ser uma despedida fácil, mas é fundamental não acreditar que com o
tempo as coisas melhorem ou que teremos todo o tempo do mundo para resolver ou
aperfeiçoar.
Parar a tempo vale para
quase tudo na vida. Parar uma discussão, uma relação desgastada, uma vida desregrada,
uma carreira, uma mágoa, um preconceito. Parar para continuar diferente, assim
funciona o tempo, transformando-se. O passado ficou para trás e o futuro são
espaços em branco, fenômenos por perceber e vida por viver. É o tempo que
direciona a vida ou a vida que direciona o tempo?
Não existe tempo certo ou
errado, tempo de mais ou de menos. Não existe nem mesmo a certeza de um futuro.
Tempo certo é quando queremos que seja. Quando se espera demais pelo momento
certo, a vida se enche de tardes demais.
Todos têm relógio e
ninguém tem tempo. De vez em quando é bom esquecer o calendário, andar na
contramão do tempo e esperar que a alma se concilie a nosso corpo. Almas quase
nunca se ajustam aos ponteiros do relógio. Há sempre tempo para mais uma
ilusão. Abraços nunca chegam atrasados.
Artigo publicado na edição de junho 2024 da Revista da Casa da Filosofia Clinica
Poderíamos considerar como parte de uma oração ou uma poesia esta reflexão. Muitas vezes, não nos foi oferecido este tão esperado tempo de conciliação temporal. As jornadas de trabalho de alguns profissionais, se encerram ao fechar a porta do escritório, mas para aqueles que necessitam fechar uma carga horária com 11turmas (e mais algumas por debaixo dos panos) para não ser colocado a disposição. O número de alunos por turma, isso nem é cogitado, em nenhum momento. No que se transformam teus feriados e dias de possíveis descanso. Agora sim, me dou ao luxo, depois de 28 anos, muitas vezes, de nada fazer, de nada querer. Ouvir uma música, dançar, atividades com artes, assistir a um bom filme, ler um bom filme... No momento, continuo atendendo alunos com distúrbios de aprendizagem, porém um de cada vez. Vida que segue, sem o tempo que perdi sem minha total concordância.
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