Ontem era feriado, cidade semi
deserta, ruas vazias. Acordei cedo, dia lindo, céu azul, temperatura amena, fui
passear de bicicleta. Rodava tranquilo pela ciclovia quando inesperadamente,
descendo de um barranco, avisto uma mendiga que me olhava firmemente.
Não pude deixar de perceber,
éramos só nos dois naquele encontro de olhares. Não foi um simples cruzamento
de olhares, aquilo foi um encontro mesmo. Seus trajes, desalinho, desasseio
eram clássicos de uma bruxa tradicional, com uma exceção, não estava montada em
uma vassoura, caminhava em minha direção e portava na mão uma vareta de
madeira.
À medida que a bicicleta se aproximava, seus olhos me acompanhavam com um sorriso misterioso e encantador. Quando ficamos frente a frente, ela levantou sua “varinha de condão” e gritou muito alto uma expressão que a principio não entendi e me assustou: “Pah”! Naquele momento pensei tratar-se de alguma maluca brincando de fada, porém, na sequência ela emendou “Você vai ficar vinte anos mais jovem”.
Aquilo mexeu comigo. Pensei em
dar meia volta para conferir, mas não sei porquê, decidi seguir em frente. Dizem que estes
encontros são assim mesmo, fortuitos, ocasionais e muito rápidos. Só que não,
aquele encontro ficou marcado e permanece revirando meus pensamentos.
A bruxa/fada poderia ter me
lançado qualquer tipo de encantamento. Ganhar na loteria, virar artista de
cinema, ter mais dois filhos, ganhar o premio Nobel de literatura, descobrir a
cura para a Covid19, casar com a Gisele Bündchen. Mas não, acertou na mosca,
naquilo que mais me arrebataria, rejuvenescer vinte anos.
A fada não apareceu na minha
frente perguntando qual o meu desejo. Foi direto ao alvo sem nunca ter me
visto. Racionalizei pensando que fadas não são fantasias, mas sim conexões com
a realidade. Será que fui eu quem atraiu aquele encantamento?
Além disso, fadas podem assumir
diferentes formas, mas geralmente são representadas por uma aparência leve,
muitas vezes em tamanho pequeno e com asas de libélula. Aquela que encontrei
não era nada disso, tinha a forma de bruxa mesmo. Talvez aquela visão tenha
sido apenas um devaneio por insolação ou desgaste físico.
Pensei também naquelas pessoas
que não só acreditam em rejuvenescimento milagroso como também gastam boa parte
de seu orçamento em cremes para estrias, celulite, gel redutor, colágeno,
botox, ácido hialurônico, elixir da longevidade e outras fantasias que conectam
imaginação e fantasia com realidade. Minha experiência não estava sendo muito
diferente.
E agora, o que faço com esse
possível encantamento? Acredito em feitiços e fadas ou ignoro o acontecido? Dizem
que cada vez que alguém fala que não acredita em fadas, uma delas morre. Contos
de fada costumam ter um inicio triste e um final feliz. Seria este o meu
destino? Mais conveniente então acreditar. Mesmo que seja com um pé atrás? E
posso chamar isso de conto de fadas? Aquela mulher era uma fada, uma bruxa ou
uma maluca? Ou será que o maluco desta história sou eu?
A magia pode existir em qualquer
lugar, desde que você permita. É preciso ser um pouco criança para acreditar em
fadas. Quem só acredita no visível e no palpável vive num mundo muito pequeno.
Por que não podem existir fadas escondidas em jardins, florestas, roupas de
bruxa e ciclovias?
Prefiro posar de inocente a
deixar de acreditar que, apesar de tudo, a vida tenha a capacidade de a
qualquer momento, nos surpreender com o imponderável. Há muito mais coisas
entre o céu e a terra que possamos imaginar. E é justamente neste analfabetismo
cósmico que alimento minhas crenças. E dentre as tantas incertezas desse
episódio, uma pergunta não quer calar. O que vou fazer com estes vinte anos de
bônus de vida?
A fada pode ter pronunciado
seus encantamentos, mas por via das dúvidas, para garantir a eficácia, peço a
Deus que os realize e me ilumine para não desperdiçar essa graça. A última
palavra sempre é dele. E quer saber, parece que alguns fios de cabelo grisalhos
estão começando a escurecer.
Cada um tem a liberdade de acreditar naquilo que lhe faz bem, ou não, como já dizia o poeta. Penso, feliz daquele que permanece na procura, na magia de viver bem. O encanto só se acabará quando o ideal imaginário se ocupar de coisas ou vizinhanças que não possam manter o patamar autogenico (("De maneira simples, autogenia pode ser entendida como a qualidade daquilo originado por si mesmo, independente de força ou recurso externo a si.") retirado do Recanto da Filosofia Clinica). Se possível, continue tua caminhada de encantamento entre bruxas, magos e feiticeiros...
ResponderExcluirExistem princesas por fora e bruxas por dentro. Existem bruxas por fora e princesas por dentro. Existem sapos que quando beijados viram príncipes. Existem principes que viram tiranos. Mas também existem princesas que são princesas, príncipes que são príncipes, bruxas que são bruxas e sapos que são sapos. Não há o que não haja.
ResponderExcluirConto de fadas moderno (ou pós moderno):
ResponderExcluir-Viveram felizes para sempre.
- Antes, separaram-se
Vou ver se encontro a Bruxa-Fada, esperamos que tudo de certo, que a dor passe, que o amor volte, que valorizem nosso trabalho, que nossos filhos aprendam a amar quem os ame, e nunca, mas nunca, morram antes da gente.
ResponderExcluirA fada e a bruxa estão dentro de você. Quem você alimentar melhor, aparecerá.
ExcluirNão sei porque a BRUXA é mais horripilante que o BRUXO. Tanto é que BRUXA é sinônimo de mulher feia e velha e BRUXO de homem esperto.
ResponderExcluirA vida não é um conto de fadas. A vida é um conto de fatos. Marlene
ResponderExcluirNa vida real existem muito mais bruxas que fadas. Bruxas são reativas, se você deixá-las em paz elas não vão lhe incomodar. E se forem bem tratadas, podem ser melhor que fadas.
ResponderExcluirConcordo contigo amigo, rejuvenescer vinte anos seria a glória. Por hora ajo como vampiro sugo a juventude de uma bela garota 20 anos mais jovem. Um vampiro satisfeito!
ResponderExcluirCleber