Lembra como eram as viagens de carro
antigamente? O motorista entregava um mapa para quem estava a seu lado,
geralmente a esposa, e a pobre coitada era obrigada a decifrar aquelas
marcações e conferir instantaneamente se a rota indicada no mapa conferia com a
estrada que estava em frente. Quase nunca dava certo.
Quando o copiloto dizia para virar à esquerda
já estavam em cima da curva, havia um carro justo atrás que não permitia a
manobra ou a rota indicada estava errada e o casal se perdia no sentido literal
e figurado da palavra. Perdidos no caminho e no relacionamento.
Entregar o mapa para o copiloto era, no mínimo,
sinônimo de discussão certa e mau humor durante o trajeto. Milhares de viagens
foram estragadas por falta de sintonia entre piloto, copiloto, mapa e estrada.
Surge então o GPS para terminar com as discussões e calcular a melhor maneira de se chegar ao destino. Você coloca o endereço desejado e sua rota será guiada por um satélite. A probabilidade de erro é mínima.
Mesmo que você esteja distraído e não siga pelo
caminho indicado, o GPS imediatamente terá um plano B, reprogramando sua rota
sem reclamar, julgar ou discutir. O pior cenário que pode acontecer é você precisar
percorrer uma distância um pouco maior para fazer um retorno ou desvio, mas com
o GPS você nunca estará perdido.
E, se por acaso, você se distrair novamente e
confundir a indicação, no mesmo instante o GPS vai lhe oferecer um plano C, D,
ou E. Tantos quantos forem necessários. Mais ainda, o GPS calcula o tempo médio
para atingir o objetivo e quase nunca se engana. É poliglota, comunica-se em
diversos idiomas e pode-se escolher entre uma voz masculina ou feminina para
transmitir as informações.
Em um futuro não muito distante, poderemos
colocar o destino no GPS e este conduzirá o carro até o local desejado,
deixando motorista e co-piloto liberados para apreciarem a paisagem e desfrutarem a viagem de maneira mais leve e
saborosa.
Sabe-se que ocasionalmente podem ocorrer falhas
do próprio GPS. Nesta eventualidade, incriminamos a desatualização do aparelho,
a inoperância da internet, e até mesmo o fabricante. O proveito disso é que o
aparelho não ficará zangado, aborrecido, tampouco iniciará um confronto. Graças
a toda essa eficácia, muitos casamentos foram salvos e a harmonia nas viagens
foi restabelecida.
Por que a vida não pode ser conduzida como o
GPS faz, sempre trazendo uma solução rápida para nossos problemas? Uma
engenhoca inovadora, dotada de inteligência artificial avançadíssima, sendo ativada instantaneamente para indicar
novas alternativas quando a gente se perder, falhar, errar, pisar na bola,
ficar deprimido, vacilar, não souber o que fazer, ou até mesmo conduzir nosso
comportamento nas curvas e ladeiras sentimentais.
Alguns dirão que este GPS existencial é a
Bíblia e já se encontra disponível desde os primórdios da humanidade. Outros
contestarão. Tal como o GPS, a Bíblia sugere o caminho, mas não obriga ninguém
a segui-lo. Muitos não a seguem. Há ainda outro tipo de GPS, interno, exclusivo
e individual, mas que a semelhança da Bíblia é frequentemente ignorado,
marginalizado, desamparado, preterido: o coração.
Mesmo que não solicitado, espontânea e
graciosamente o coração faz o individuo sentir quando um emprego,
relacionamento, escola, moradia ou qualquer outra circunstância trazem
satisfação, bem estar, segurança, prazer, euforia, aconchego ou desassossego. Como
um farol, o tempo todo, dia e noite sem parar, mostrando os caminhos que lhe
fazem bem ou mal. Não quer dizer que sejam os corretos ou melhores, são apenas sinalizações
interiores.
Manifestam-se então outros personagens pelo
caminho: orgulho, teimosia, conforto, argumentação, preconceito, dúvida,
insegurança, medo, consequência, culpa, julgamento. O que eles fazem? Funcionam
como radares da policia rodoviária, assumem o protagonismo e monitoram criteriosamente
o caminho traçado pelo GPS interno.
Não compreendem e tentam entender porque o coração
enfrenta o desconhecido, ultrapassa limites de velocidade e transgride algumas
regras morais sem temor. Por precaução, assumem o comando e não permitem seguir
a orientação do GPS interno, da Bíblia e até mesmo do GPS cibernético, fazendo
a pessoa seguir sempre no caminho que está acostumada.
O caminho mais seguro, confiável e menos
crítico nem sempre leva aos melhores destinos. É possível se chegar ao mesmo
lugar por caminhos diferentes, decidindo trecho a trecho na medida em que se
vai avançando. Caio Fernando Abreu já dizia: Vou olhar os caminhos, o que tiver
mais coração, eu sigo.
A vida é cheia de sinais, os satélites enviam os sinais para o GPS, o cérebro envia sinais ao coração ❤. Cabe a nós entender quando é hora de manter o destino ou ir lá no GPS e mudar o destino.
ResponderExcluirUma analogia e tano... Como uma criança constrói sua estruturação espaço temporal, sua capacidade de situar o próprio corpo no espaço, em relação a referenciais e obstáculos fixos e móveis, de localizar outros objetos com base em tais referenciais, ou de perceber a velocidade de deslocamento do próprio corpo e de objetos, assim como a trajetória desses seus movimentos? Bem complexa esta construção, eu diria que levam anos para que um GPS pessoal se estruture em um ser. Assim como os GPS, tiveram que passar por várias reestruturações por apresentarem-se espelhados. O ser humano poderá ser acometido de inúmeras interferências e ou complementações ao longo de sua existência. Logo fui pensando que a cartografia é a ciência que se dedica à representação do espaço geográfico por meio do estudo, análise e confecção de cartas ou mapas etc. Isso tudo é muito complexo, para ser exigido em circunstância como esta. Podemos, igualmente, regulamentar o GPS de corações, e os desconfortos que as almas aprisionam com alguns sentimentos ou ressentimentos? A Bíblia teria o mesmo alcance de entendimentos pessoais em outras bases categoriais, por mais que seu GPS tenha tentado romper a estrutura espaço temporal?
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