Durante muito tempo pratiquei uma
estratégia “infalível” ensinada por um amigo para selecionar certo tipo de
mulheres. Não me orgulho nem um pouquinho de ter feito isto, pois é uma técnica
altamente preconceituosa. Enfim, todos têm sua parcela de defeitos e
preconceitos por questionar.
Funcionava assim: quando me
interessava por alguma mulher, perguntava se ela gostaria de tomar um café ou
bebida comigo. Na hora de pagar a conta, observava se faria algum sinal de
dividir as despesas ou não. Nunca as deixava pagar, mas ficava atento. A
estratégia era justamente saber se a mulher achava que o homem, pelo simples
fato de ser homem, deveria seguir as regras de etiqueta e pagar as despesas da
mulher, somente por ela ter nascido mulher.
Naquela época o movimento
feminista ainda engatinhava, e a estratégia era simplesmente descobrir com que
tipo de mulher estava lidando. Tinha o cuidado de nunca convidar formalmente
para o encontro, justamente para descaracterizar o argumento de quem convida paga
a conta. O convite era realizado mais ou
menos assim: “topas um café?”, “que tal uma cerveja um dia destes?”.
Certa noite, numa destas
investidas, quando chamei o garçom para pedir a conta, já estava paga. Minha
companheira de mesa havia acertado tudo enquanto fui ao toalete. Percebendo meu
espanto com seu comportamento, ela se adiantou e, sem que eu perguntasse, foi
explicando. “Não existe almoço de graça, se alguém lhe paga por algo, vai
querer o retorno. Quando a mulher aceita que o homem lhe pague o jantar,
subliminarmente está passando a mensagem que talvez um dia vá lhe dar algo em
troca”.
Ela não queria ficar me devendo
nada para o futuro. Mencionei dividir a conta, mas ela não aceitou. Quem ficou
na dívida fui eu. Só que além da dívida, fiquei bem interessado também, queria
mais uma oportunidade de conhecê-la.
Depois de alguns dias, fizemos um novo contato e combinamos um jantar.
Na casa dela. Destra vez sem estratégia
do amigo, no campo do adversário e sem plano B. O que o destino estaria reservando
para mim? Confesso que estava ansioso.
Lá chegando, mais uma surpresa.
Não havia nada preparado. Ela revelou que preferia não cozinhar naquela noite,
pois cozinhar era um ato revolucionário e nós estávamos em fase de descobertas,
então o melhor seria aproveitarmos o tempo para nos conhecermos e deixarmos a revolução
para uma próxima etapa, afinal, revoluções sempre envolvem a ideia de que não
serão as últimas, mas um processo revolucionário. Se fosse o caso, teríamos
muito tempo pela frente para lutar por mudanças. Concordei sem entender direito
o significado daquelas palavras ou qual era sua real intenção. Abriu um tinto, acendeu um par de velas, ligou
o som, quebrou o gelo.
Depois de algumas taças,
histórias, confissões, sorrisos, seduções, parecia que já estávamos íntimos, então,
subitamente, tive vontade de segurar na mão dela para “senti-la” um pouco mais
de perto. Sem retirar, mas olhando-me fixamente e com uma voz muito carinhosa
disse-me que tinha um sonho desde a infância. Gostaria que antes que alguém
tocasse seu corpo, invadisse sua alma. Imaginava, e talvez fosse uma utopia
dela, beijar um único homem por toda a vida. Não fazia parte de seus planos
trocar salivas ou se deixar penetrar sem que seu coração e sua alma fossem
conquistados. Como uma revolução, só que sem lutas ou disputas para vencer. A
conquista se daria por amor, admiração, respeito, ou talvez por algo ainda
maior e sem definição. Mais ainda, a conquista seria recíproca e eterna.
Não sabia o que fazer ou dizer. Era
um sonho muito alto. Não sabia se batia em retirada ou partia para a conquista.
Meu amigo “sabe tudo” não havia ensinado nenhuma estratégia para esta situação.
Estava encantado e ao mesmo tempo assustado. Ambíguo em meus sentimentos, instintivamente
soltei sua mão, respirei fundo, bebi um pouco mais de vinho, e como um
revolucionário que grita “Independência ou morte”, perguntei solenemente se
gostaria de casar comigo. Para quem não iria fazer revolução alguma naquele
encontro, olha só o tamanho da insurreição.
Sem hesitar, sua resposta foi um
claro e solene “Não”. Naquele momento não sabia se estava sentindo um alívio ou
frustração. Fiquei imóvel, entorpecido, paralisado.
Havia aprendido na escola que a
palavra “não” já era uma frase completa, não precisava complementos, mas ela
delicadamente explicou que casamento, documentos, papéis, rituais, formalidades,
não significavam nada para ela e menos ainda para sua alma, que entendia outro
tipo de linguagem. Almas livres são raras, se reconhecem entre si, surgem sem
explicação ou lógica. Ficam juntas por vontade própria. Sem amarras, cobranças,
perturbações ou regras pré-estabelecidas. Era assim que sonhava conquistar, ser
conquistada e viver ao lado de alguém.
Explicou-me que numa revolução,
mais importante que a própria luta, é saber quem está na trincheira ao seu
lado. Pegou firme em minhas mãos gélidas de suor, deu um longo e delicioso
beijo em minha boca e me convidou para tomarmos um sorvete. Quem pagou a conta?
Assim iniciou nossa revolução. A
luta continua. Que armas nossos netos utilizarão em suas batalhas? Terão os
mesmos ideais, força e resistência para combater?
Disparadamente seu melhor artigo Dr. Ildo. Cada vez melhor. Continue escrevendo, por favor. Helena
ResponderExcluirEste texto me leva a fazer muitas reflexões... SINGULARIDADES!!! O que vai na alma de cada der humano, ela evolui? Vivemos em contantes aprendizados... Muitas vezes não impota quem vai pagar o café ou quem vai preparar almoço... O tempo que leva para a conquista, para alguns, poderá ou não ser determinante, a alquimia destes momentos é possivelmente relevante ou será determinante, para o próximo passo. O que vale é o sonho que esta pessoa possa despertar, as atitudes que esta pessoa possa surpreender. Contudo, observa-se que, algumas pessoas vivem acompanhadas de sombras, aquelas que conjecturam, vidas alheias, e desta sabemos aos montes. Olhe ao redor, podemos ou não perceber... Não existe, só aqueles que vão pelos conselhos de amigos, e que possivelmente, o outro possa até perceber tal interferência e se afastar; pessoas interferem com pequenos "recados", questionamentos e devaneios aplicáveis a alguns; há ainda os que pensam que dominam alma humana com seus pareceres; bem como os "ex", aquelas sombras que jamais se dissipam, em momento algum, igualmente aqueles que ao se virar, mordem e assopram; ou mesmo aquelas que acreditam que dominam com uma pitadinha de vulgaridade, sorrisinhos irônicos, ou com críticas irrelevantes sem contextualização de bases categoriais... Acredito na VONTADE, na MATURIDADE da alma humana, de perceber o momento da aproximação, muitas vezes não será uma batalha, apenas o toque da gentileza, seres que se reconhecem num instante... O CONHECIMENTO DA ALMA, cada ser é uma magia, principalmente quando algo em nós, desperta algo no outro, ou vice-versa.
ResponderExcluirDr Ildo! Adoro seus textos! Revolucionário! Estamos juntos na trincheira! Parabens! Beijos
ResponderExcluirSinto me valorizada quando o cara que estou saindo paga minha conta! Não acho que ele está me vendo como uma mulher comprável e sim valorizando. O cara que não paga não está nem aí para você ...eu penso.assim! Cris
ResponderExcluirPra mim, cada encontro é um encontro singular, não saio com nada planejado. Dependendo de como rolar o encontro posso pagar ou posso propor pra dividir. Minha experiência mostra que as mulheres ficam chateadas quando propomos dividir. Elas querem ter a iniciativa de propor a divisão e quando fazemos a proposta nos consideram uns grossos, mais de vaca, pão duros...Não é fácil entender as mulheres
ResponderExcluirConselho:você acha que ela vale a pena? Gosta dela? Paga a conta! Melhor um lugar simples e uma mulher valorizada.
ExcluirEstive por carência e auto estima baixa num namoro tóxico, como não queria perde-lo.pagava tudo. Ingressos, jantar, almoço, nas viagens...era uma coitada. Hoje com muito terapia não permito mais.
ResponderExcluirNão tem preço quando o homem pega a tua comanda e vai ao caixa. Vergonha na frente dos amigos é cada um pagar a sua. Na cara que ele não quer nada com você!
ResponderExcluirNão gasto nem o perfume com quem não paga minha comanda!
ResponderExcluirPrefiro ir num local mais simples e o homem tomar a iniciativa de pagar do que um local chic. Vale ate um lanche na rua! Acho gentil! Carla
ResponderExcluirFui demitido: você paga.
ResponderExcluirFui promovido: eu pago
Meu aniversário: eu pago
Cinema: dividimos
Casamos: pagamos
Separamos: dividimos
ExcluirNos vemos: abanamos
E o outro lado, o cara que deixa a mulher pagar a conta, anda no carro dela, se hospeda na casa de verão dela. Os dois não valem nada...ele um aproveitador e ela uma carente. Sou a favor da divisão sim. Bia
ResponderExcluirCerta a Bia, os homens se acham em pedir para dividir a conta. E o que falar do embuste que se encosta na vida boa da mulher??
ExcluirDividir é sempre ruim, o bom é somar. Dividir a conta é chato, dividir um bolo delicioso é ruim, dividir o homem que você gosta é a pior divisão..
ResponderExcluirTriste e Cruel!
Mulher que paga sua parte é a mulher que se valoriza. Mulher que deixa pagar sua conta se rebaixa.
ResponderExcluirAcordem Amelias. Em que século vocês vivem? Mulher que deixa pagar suas contas se desvaloriza. Está sendo comprada.
ResponderExcluirSer Amélia não é só deixar pagar a conta é ser trouxa mesmo.
ResponderExcluirExistem muitas maneiras de uma mulher não se valorizar. Uma lista!
Escreveu bem. Não adianta dividir a conta e transar na primeira saida. Muito valorizada! Andre
ExcluirE o que dizer de mulheres ciumentas pegando no pé o dia inteiro. Desvalorização imensa
ResponderExcluirSem falar nas que compram ingressos, oferecem jantares incríveis, abrem suas lindas casas, imploram para irmos, descolam viagens. E nós não assumimos elas. E vocês querem falar de mulher valorizada? Conta outra! Rui
ResponderExcluirQuem paga a conta? Depende da idade e das condições socioeconômicas. Uma mulher adulta que sai com um homem adulto, sabidamente bem resolvido do ponto de vista econômico (bem resolvido) deve sentir-se até constrangida de se oferecer para pagar a conta e isto parecer grosseiro. Se não for o caso, forem adolescentes ou o homem não se encontrar em situação estável é diferente. Também depende da intimidade e se um tem noção da situação do outro. Não parece só uma questão de machismo ou feminismo, mas uma questão de educação. Se levar isso em conta para avaliar uma mulher, corre-se o risco de taxar de machista ou abusada uma mulher simplesmente bem educada.
ResponderExcluirQuando o homem paga a conta pra mulher está valorizando ela ou está devendo pra ela? Marcos
ResponderExcluirOntem comemoramos o Dia da Mulher, infelizmente a grande maioria rasteja e implora por atenção, nem entro no mérito amor, migalhas são ouro para elas.
ExcluirAndre
Princesas o homem paga, bruxas elas pagam.
ResponderExcluirQuem pagou a conta ficou mais pobre. KKK
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