“Qual a diferença entre o cientista e aquele que tem fé?”.
Essa é uma das questões impostas ao personagem central deste romance, mas pode
ser também uma questão a ser refletida por você, caro leitor.
Quero antes de tudo agradecer ao amigo Beto Colombo:
obrigado duas vezes. Não apenas pelo convite para escrever essa apresentação,
mas pelo livro em si.
Chegou em boa hora! Fez-me pensar, e já causou alguns estragos construtivos.
O ponto de partida da estória (ou seria história?), é a
aparição de um pássaro na cama do personagem narrado na primeira pessoa pelo
próprio autor e que acabou envolvendo toda a sua família. Mas não se tratava de
qualquer pássaro, era um urubu.
Apesar da morbidez que carrega em sua imagem popular, a
invasão não assustou Beto, pois aprendera com seu avô que o urubu era
considerado uma ave sagrada. O fato de
haver pousado sobre a colcha nova,
imaculadamente branca, não significava mau agouro; afinal, aquele pássaro
sempre teve uma relação muito forte com a sua vida de menino. Era, de fato, um
sinal.
Quem mais ousaria deitar sobre a mesma colcha branca onde o pássaro se
aninhou? Beto deitou. Deitou, dormiu e passou por
experiências transformadoras.
Sonhou e passou do paraíso ao inferno. Percorreu caminhos
difíceis. Passou pela experiência de sair do próprio corpo. Entrou em portais
que eram opostos, desde a leveza do ambiente limpo, arborizado e com música
clássica, até o cinza, o cheiro de enxofre e o barulho infernal. Conceitos
comumente identificáveis, certo? Não exatamente. Essas experiências foram
desencadeadas pelo ressurgimento do Velho Bah, um senhor de idade, pele escura,
que trabalhou na roça da família de Beto e desapareceu sem maiores explicações.
O velho retornou para mexer com toda a crença que o autor
tinha acerca daquilo que melhor conhecia: as questões envolvendo a fé, a
religiosidade e, por consequência, as questões mais pulsantes da humanidade. O
velho Bah o ensina não apenas ler, mas a reler e a reinterpretar. E esse
exercício foi empregado analisando a Bíblia. Quantos de nós paramos para pensar
no que representam os relatos ali descritos, ou quantos deles ocorreram
realmente daquela forma? Quase ninguém.
No
decorrer dos capítulos, ao todo sete, passagens envolvendo Caim e Abel, a
traição de Judas e outras importantes citações clássicas do Livro Sagrado
ganham uma nova e surpreendente re-leitura. Beto
retoma a Bíblia não mais com um olhar dogmático, pois, agora utiliza, também, a
visão da filosofia clinica, lendo o texto, mas não esquecendo o contexto. O arrebatamento não tem fim, nem as perguntas: Por que não
somos ensinados a ler aquilo que está retido em metáforas? Por que não
conseguimos, por conta própria, analisar algum outro significado, além daquele
que nos é doutrinado? Por que não arriscarmos uma nova leitura?
Beto Colombo se deparou, também, com pessoas que
sobreviviam, mas não viviam, isto é, apenas existiam, pois no cotidiano
apressado não experimentavam a plenitude das pequenas coisas, dos sabores, dos
cheiros e das experiências diárias. A jornada que percorreu foi importante como
um todo, mas, acima de tudo, por tê-lo colocado novamente frente a frente com o
Velho Bah – ou seria consigo mesmo? - , figura marcante de sua infância, e que
vai ganhando importância na narrativa e surpreendentemente se transformando.
Assim, Beto, com a ajuda de Bah, passa a entender e a
sentir melhor as coisas, responder seus próprios questionamentos, deixar alguns
julgamentos de lado, ficar mais atento a fé e, finalmente, descobre que no momento
em que reduzimos alguém a um erro, deslize ou forma, estamos nos afastando do
sagrado. Muitas vezes não reconhecemos os anjos porque estamos fixos, fechados num estereótipo que só existe na
cabeça dos humanos: uma criança assexuada, cabelo crespo, loirinha, olhos
azuis. Neste romance, contrariando as expectativas, anjos aparecem de formas espantosas e
variadas.
Esse livro vai possibilitar uma visão mais ampliada sobre
as ditas verdades absolutas, vai fazer você mergulhar nas entrelinhas do que
sempre pareceu ser a única versão das coisas. Não se trata de criar polêmicas,
mas de abrir a mente para novas possibilidades.
O Velho Bah é uma obra intrigante, que
possui como característica principal a possibilidade de conduzir o leitor para
dentro de suas próprias convicções e analisá-las com um outro olhar; libertando
os seus próprios pensamentos, e, acima de tudo, permitindo que faça novas
perguntas. A despeito delas, que tal estas: “Qual a diferença entre o cientista
e aquele que tem fé?”. “Qual a diferença entre o filósofo e aquele que crê?”.
Beto encontrou as respostas, e você irá descobrir também,
Poderia eu encerrar desejando boa leitura. Vou além:
desejo boas reflexões.
Ildo Meyer, Médico e especialista em filosofia
Clínica
Prefácio do livro "O Velho Bah", de Beto Colombo
Já fiquei louco para conhecer este velho!!!
ResponderExcluirQuando chegará a Porto Alegre?