terça-feira, 16 de março de 2010

A caneta do médico

Na pré história, nossos ancestrais acreditavam que o pecado era a causa de todas as doenças, e sacerdotes faziam o papel de médicos utilizando magia, oração e jejum para acalmar os deuses e expulsar os maus espíritos. Passando pela civilização egípcia, depois grega o conhecimento foi se aprimorando, virou ciência, e o tratamento das doenças gradativamente ficou sendo exclusividade dos médicos.

Desde o diagnóstico até o tratamento, tudo passava pelas mãos do médico, que apalpava o paciente, preparava poções medicamentosas e eventualmente amputava alguma parte do corpo doente. Eram muitos pacientes, bastante trabalho e a demanda não era adequadamente suprida.

O que fizeram os médicos? Pediram ajuda na preparação dos medicamentos. Treinaram e capacitaram pessoas na manufatura de remédios, dando origem a primeira produção em massa derivada do atendimento médico: a indústria farmacêutica.

Os primeiros médicos atendiam em suas residências ou no domicilio dos pacientes. Alguns precisavam de cuidados mais intensivos, mas não havia condições de atendimento exclusivo. Surgiu então a necessidade de uma centralização do serviço para otimização dos recursos. Pacientes graves seriam agrupados em um local especializado para poupar o deslocamento do médico e promover uma atenção mais eficaz. Cria-se assim a segunda indústria derivada do trabalho médico, o Hospital.

O conhecimento médico foi avançando e aparelhos eletrônicos sofisticados passaram a fazer diagnósticos e salvar vidas até então condenadas. Desenvolve-se então a terceira indústria derivada do saber médico, a indústria diagnóstica. Exames laboratoriais, fisiológicos, patológicos, radiológicos, ecografias, tomografias, ressonâncias passaram a complementar o exame clinico e em alguns casos até mesmo a substituí-lo.

Mais recentemente, outra indústria passou a trabalhar em função dos serviços médicos: planos e seguradoras de saúde oferecem proteção e cobertura de despesas médico-hospitalares, mediante aportes mensais de valores pré-fixados.

Hoje, o médico já não tem em suas mãos o controle total da saúde. Depende das indústrias que precisam faturar, pagar funcionários e dividir o lucro com os acionistas. Desta forma, quem estabelece os custos de medicamentos, exames, internações hospitalares, aportes mensais, órteses e próteses não é mais o médico. As despesas fugiram de seu controle. Problemas logísticos e financeiros nem sempre permitem que o tratamento proposto possa ser efetivado integralmente.

Por outro lado, nenhuma das indústrias da saúde funciona sem o médico. É preciso que ele tire a caneta do bolso e solicite uma internação, exame ou medicamento para que as máquinas sejam acionadas e iniciem sua produção. A saúde financeira das indústrias também depende do médico.

Esta interdependência médico-indústria nem sempre agrada a todos e precisa ser revista. Médicos sentem-se desvalorizados, empresas reclamam da sobrecarga ou carência de exames, baixo ou alto volume de prescrição medicamentosa, alta carga de impostos, internações prolongadas, mas ninguém pode parar. Ninguém tem tempo de analisar esta integração. Todos precisam faturar. Todos precisam ser atendidos. Quem acaba pagando a conta? O pobre do paciente, como sempre.
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