Alguns leitores me
questionam como e por que comecei a escrever. Responderei aqui para que muitos
saibam. Os motivos são inúmeros. Não sei precisar qual o mais importante, mas
este inicial está no topo da lista.
Escrevendo deixo registrado
meu pensamento, assim libero espaço na memória para novas inspirações. É como
se para escrever um novo caso, fosse preciso apagar o já escrito. Ao invés de
apagar, anoto. Se não escrever, esqueço, e memórias são importantes. Um dos
fatores da evolução da humanidade certamente foi a escrita.
Escrevo também para organizar meus pensamentos. Na correria do dia a dia, nem sempre tenho condições de assimilar direito fatos contextos e reações. Quando a poeira baixa, depois de alguns dias ou até mesmo semanas, começo a anotar no papel minhas impressões, ideais, fantasias, tudo que meu inconsciente grita. Por vezes a ficha cai e tudo fica mais claro. Nem sempre.
Tenho vários textos engavetados
não só por ainda estarem muito confusos como também porque não consigo
justificar o que escrevi, ainda estou no limite da loucura, daqui a pouco o
ultrapasso. Nem tudo que penso posso falar, nem tudo que falo pode ser escrito
e, por fim, nem tudo que escrevo pode ser publicado.
De vez em quando mando
recados nas entrelinhas, a maioria das pessoas não se dá conta, só meus alvos
conseguem ser tocados e entender a mensagem. Não obstante, prefiro ser franco e
direto.
Além disso, penso que só
escrevendo para mim mesmo, conseguirei alcançar o outro. Depois que me achar,
só então posso me aventurar a mostrar o caminho para os demais. Quem sabe um
dia minhas experiências contadas em crônicas possam vir a ter utilidade para algum
leitor perdido e em apuros.
Escrevo também porque
tenho fantasias mirabolantes. Em algum lugar do futuro, um diretor de teatro ou
de cinema pode se utilizar de um texto meu como inspiração para seu trabalho.
Por que não? Algumas crônicas já foram redigidas em forma de roteiro pensando justamente
nisso.
Mas não paramos por ai. Uma
universidade já se valeu de um texto meu como questão de vestibular. Os
candidatos deveriam interpretar minhas elucubrações. Tive acesso às redações.
Alguns alunos foram muito alto nas considerações, outros se perderam
totalmente. Foi um aprendizado interessante e emocionante saber que enquanto
alguns transcendem meu raciocínio, outros sequer alcançam minhas idéias.
Sei que muitos escritores só
alcançam a fama depois de partirem deste mundo. Vai que eu seja um destes e, daqui
a muito tempo, num horizonte bem distante, uma rua, uma biblioteca ou uma
escola recebam o nome de Ildo Meyer, com a seguinte inscrição: notável escritor
do século XXI. Posso até ser um dos ganhadores do Prêmio Pulitzer ou do Prêmio
Nobel de Literatura. O que é a vida sem um sonho? Não há nada como um sonho
para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.
Posso considerar também
que escrevo para deixar um legado para meus netos e bisnetos. Talvez tenham a
curiosidade de saber quem foi seu bisavô, como era a vida na nossa época, quais
eram minhas percepções e, Deus queira que digam que eu estava bem a frente de
meu tempo.
Pensam que os motivos para
escrever terminam por aqui? Ledo engano. Algumas pessoas vivem sob a ótica da
racionalidade, precisam perguntar. Por que? Como? Onde? E uma resposta já
desencadeia uma nova pergunta. Nem sempre querem saber a resposta, perguntam
por perguntar. Ocasionalmente nem estão preparados para a resposta, talvez nem
saibam lidar com ela.
Poderia continuar
respondendo de mil maneiras. Por exemplo, confessando que não sei por que
escrevo. A folha em branco simplesmente me convida para rabiscar e nunca a
recuso. Às vezes consumo uma tarde inteira só para escrever uma única linha.
Não é pesado ou cansativo, pelo contrário, é um prazer inenarrável. Encontrar a
palavra exata que expressa meu sentimento é quase um orgasmo. Escrever para mim
é uma necessidade, assim como comer, dormir e tomar banho.
Escrever é uma maneira de
falar sem ser interrompido. Ler é vestir a alma, escrever é despi-la. Escrever
é o verdadeiro prazer, ser lido é um prazer secundário.
Sou escritor e filósofo
poderia ser um dilema ou um paradoxo para mim, pois ser filósofo não significa
saber escrever, significa saber o que é viver. O que vivo, penso, sinto, só eu
posso me dizer, mais ninguém.
Minha singularidade nem
sempre consegue ser traduzida em palavras. Mesmo quando consigo a façanha de me expressar
com maestria, o texto corre o risco de não ir ao encontro da singularidade do
leitor, o que pode se traduzir em críticas, fracasso de vendas e aceitação, No
entanto, é na autenticidade que se revela um escritor. Faço o meu melhor, o
resto deixo com o Universo.
Por último, mas não menos
importante, pertenço ao povo do livro. Escrever está no meu código genético.
Felizmente não consegui escapar dessa sina.
Escrevo por tudo isso. Ou
por nada disso.
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