quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Razões para escrever

 

Alguns leitores me questionam como e por que comecei a escrever. Responderei aqui para que muitos saibam. Os motivos são inúmeros. Não sei precisar qual o mais importante, mas este inicial está no topo da lista.

Escrevendo deixo registrado meu pensamento, assim libero espaço na memória para novas inspirações. É como se para escrever um novo caso, fosse preciso apagar o já escrito. Ao invés de apagar, anoto. Se não escrever, esqueço, e memórias são importantes. Um dos fatores da evolução da humanidade certamente foi a escrita.

Escrevo também para organizar meus pensamentos. Na correria do dia a dia, nem sempre tenho condições de assimilar direito fatos contextos e reações. Quando a poeira baixa, depois de alguns dias ou até mesmo semanas, começo a anotar no papel minhas impressões, ideais, fantasias, tudo que meu inconsciente grita.  Por vezes a ficha cai e tudo fica mais claro. Nem sempre.

Tenho vários textos engavetados não só por ainda estarem muito confusos como também porque não consigo justificar o que escrevi, ainda estou no limite da loucura, daqui a pouco o ultrapasso. Nem tudo que penso posso falar, nem tudo que falo pode ser escrito e, por fim, nem tudo que escrevo pode ser publicado.

De vez em quando mando recados nas entrelinhas, a maioria das pessoas não se dá conta, só meus alvos conseguem ser tocados e entender a mensagem. Não obstante, prefiro ser franco e direto.

Além disso, penso que só escrevendo para mim mesmo, conseguirei alcançar o outro. Depois que me achar, só então posso me aventurar a mostrar o caminho para os demais. Quem sabe um dia minhas experiências contadas em crônicas possam vir a ter utilidade para algum leitor perdido e em apuros.

Escrevo também porque tenho fantasias mirabolantes. Em algum lugar do futuro, um diretor de teatro ou de cinema pode se utilizar de um texto meu como inspiração para seu trabalho. Por que não? Algumas crônicas já foram redigidas em forma de roteiro pensando justamente nisso.

Mas não paramos por ai. Uma universidade já se valeu de um texto meu como questão de vestibular. Os candidatos deveriam interpretar minhas elucubrações. Tive acesso às redações. Alguns alunos foram muito alto nas considerações, outros se perderam totalmente. Foi um aprendizado interessante e emocionante saber que enquanto alguns transcendem meu raciocínio, outros sequer alcançam minhas idéias.

Sei que muitos escritores só alcançam a fama depois de partirem deste mundo. Vai que eu seja um destes e, daqui a muito tempo, num horizonte bem distante, uma rua, uma biblioteca ou uma escola recebam o nome de Ildo Meyer, com a seguinte inscrição: notável escritor do século XXI. Posso até ser um dos ganhadores do Prêmio Pulitzer ou do Prêmio Nobel de Literatura. O que é a vida sem um sonho? Não há nada como um sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.

Posso considerar também que escrevo para deixar um legado para meus netos e bisnetos. Talvez tenham a curiosidade de saber quem foi seu bisavô, como era a vida na nossa época, quais eram minhas percepções e, Deus queira que digam que eu estava bem a frente de meu tempo.

Pensam que os motivos para escrever terminam por aqui? Ledo engano. Algumas pessoas vivem sob a ótica da racionalidade, precisam perguntar. Por que? Como? Onde? E uma resposta já desencadeia uma nova pergunta. Nem sempre querem saber a resposta, perguntam por perguntar. Ocasionalmente nem estão preparados para a resposta, talvez nem saibam lidar com ela.

Poderia continuar respondendo de mil maneiras. Por exemplo, confessando que não sei por que escrevo. A folha em branco simplesmente me convida para rabiscar e nunca a recuso. Às vezes consumo uma tarde inteira só para escrever uma única linha. Não é pesado ou cansativo, pelo contrário, é um prazer inenarrável. Encontrar a palavra exata que expressa meu sentimento é quase um orgasmo. Escrever para mim é uma necessidade, assim como comer, dormir e tomar banho.

Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido. Ler é vestir a alma, escrever é despi-la. Escrever é o verdadeiro prazer, ser lido é um prazer secundário.

Sou escritor e filósofo poderia ser um dilema ou um paradoxo para mim, pois ser filósofo não significa saber escrever, significa saber o que é viver. O que vivo, penso, sinto, só eu posso me dizer, mais ninguém.

Minha singularidade nem sempre consegue ser traduzida em palavras.  Mesmo quando consigo a façanha de me expressar com maestria, o texto corre o risco de não ir ao encontro da singularidade do leitor, o que pode se traduzir em críticas, fracasso de vendas e aceitação, No entanto, é na autenticidade que se revela um escritor. Faço o meu melhor, o resto deixo com o Universo.

Por último, mas não menos importante, pertenço ao povo do livro. Escrever está no meu código genético. Felizmente não consegui escapar dessa sina.

Escrevo por tudo isso. Ou por nada disso.  

 

 

 

 

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