segunda-feira, 31 de março de 2014

FRAGMENTOS DE AMOR, SEXO E POESIA


Como você se conecta nos ambientes e nas pessoas para escrever seus contos?

É mais ou menos como sintonizar uma estação de rádio. Você tem uma possibilidade enorme de emissoras e programas, mas você sabe bem o que quer escutar. Vai girando o dial. Escuta uma música que lhe incomoda os ouvidos, passa por um comentarista que não fala nada que lhe interesse, pula a estação que só apresenta desgraças, até que finalmente encontra aquele programa que estava procurando ou algum outro que lhe prendeu a atenção.

A partir dali, você pode escolher entre voltar a fazer as outras coisas que estava fazendo (dirigir o carro, cozinhar, escrever, fazer amor) ou ficar prestando atenção à entrevista que está no ar, deixar-se envolver pela música que está tocando, imaginar-se dentro da narrativa que está sendo apresentada...Em outras palavras, você pode escolher sintonizar “o” programa de rádio ou se sintonizar “com” o que está acontecendo no programa de rádio..

Quando entro em um café como este, me sintonizo neste ambiente. Por exemplo, presto atenção naquela senhora sentada ao fundo do salão. Pelo modo como ela segura a taça de chá, vira as páginas da revista, suspira de vez em quando, fecha os olhos, fica pensativa, posso quase que com certeza dizer que ela está lendo algo relacionado a alguém que gosta muito. Veja como acaricia a revista, como transmite uma sensação de paz...

Conecto-me naquela situação e na senhora, sintonizo-me ali e consigo percepcionar aquilo que meus sentidos estão me mostrando. Não me transformo nela, mas a sinto.

E como você transforma isto em palavras?

Não transformo. Escrevo aquilo que estou sentindo. Às vezes nem é o que estou vendo. Não procuro palavras bonitas nem frases de efeito. Aquilo que escrevo reflete a minha pessoa naquele momento.  Neruda escreveu uma vez que se lhe perguntassem o que é sua poesia, não saberia dizer; mas se perguntassem à sua poesia, ela lhes diria quem era ele.

Quando você ler algo escrito por mim e se me conhecer um pouquinho, não terá a menor dúvida que fui eu quem a escreveu. Assim como um pai têm certeza que o filho é seu, assim a poesia é identificada com seu criador.

Como você sente o amor?

segunda-feira, 17 de março de 2014

ADÃO E EVA CONTEMPORÂNEOS

A história é bíblica, acredite se quiser. Eva não veio ao mundo por acaso. Existia um propósito: partilhar a vida. Já pensou? Adão estava lá sozinho. De repente surge alguém para conversar, brincar, trocar, ajudar... Na verdade, acho que pra ajudar não era o caso, eles tinham tudo que precisavam.

O certo é que a vida no paraíso ficou bem melhor depois que Eva apareceu. Como foi a passagem do status de amigos para casal não sei dizer. Só existiam os dois e convivendo juntos, todos os dias, naturalmente algo haveria de acontecer. Nada, nem ninguém para atrapalhar. Nem mesmo vergonha eles sentiam. Posso imaginar vários modos de aproximação, e todos, sem exceção, nada angelicais. Fizeram sexo, gostaram, repetiram, desfrutaram.

Não estavam mais sozinhos. Perceberam que um tinha ao outro para abraçar quando o mundo parecia grande demais.  Vamos dar um nome para este tipo de relação? Amor.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Preso por vontade própria

Depois do lançamento do livro, voltei para meu quarto, mas estava sem sono. Peguei um bom tinto que estava na geladeira, sentei na cadeira de balanço, abri a garrafa, enchi meia taça e enquanto o vinho respirava, fiquei olhando a lua através da lente formada pelo vidro contendo o liquido de cor escura.

Era noite de lua cheia, passava da meia noite, o silêncio indicava que a cidade estava dormindo e o único som que escutava, era uma coletânea de fados que havia ganho de um amigo e tocava suavemente no computador.

A lua se escondia por trás do vinho, mas conforme o balanço da taça, a fazia aparecer e desaparecer. Brinquei assim por uns bons minutos enquanto pensava nas coisas que pareciam estar anestesiadas em mim e começaram a despertar e também se fazer ver durante a viagem.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Motivos para se desapaixonar

Sempre fui apaixonado por futebol. Acho até que era um tanto fanático pelo meu clube, o Internacional de Porto Alegre.  Ia ao estádio assistir todos os jogos, com chuva, frio ou vento forte. Ganhando ou perdendo, estava lá para ver meu time jogar e torcer por uma vitória.

Aos poucos fui perdendo o interesse, a ponto de hoje não assistir nem aos jogos transmitidos pela televisão. Mas a apatia não foi sem motivo. O futebol se profissionalizou demais, virou muito mais técnica que talento. O amor pela camiseta e a garra que marcaram minha infância já não são os mesmos. E quando as coisas deixam de ser feitas por amor e paixão e o dinheiro passa a ser o combustível, a graça e a beleza murcham como flores sem água no deserto.

Meu fascínio pelo futebol acabou, mas lá no fundo ainda ficou a lembrança dos bons tempos e o desejo de resgatar a paixão de ir à campo vestindo a camiseta do clube, pintar o rosto com a cor vermelho-paixão e voltar orgulhoso ao final da partida com o show de bola que “meu” time apresentava. Tenho muita vontade de conversar com jogadores e técnicos sobre futebol arte, competição e filosofia no esporte. Resolvi postar algumas idéias na internet. Quem sabe o poder viral as dissemine e de uma maneira indireta possa atingir meu objetivo.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Por que o lançamento do livro aconteceu em uma vila

No dia do lançamento do livro, estava preocupado. Parecia até que o autor era eu. Nunca havia comparecido a uma sessão de autógrafos restrita a pouquíssimos convidados. Imaginava uma sala quase vazia onde o autor, depois dos trinta minutos iniciais de movimentação de pessoas, restaria isolado, apoiado em uma mesa, torcendo para que mais alguém entrasse na livraria. Depois de mais uns trinta minutos de espera e solidão disfarçada, encerraria a sessão com a sensação de vazio.

Não gostaria que isto acontecesse contigo e gastei várias horas pensando estratégias de preencher física e emocionalmente a livraria. A idéia de fazer o lançamento em um local pequeno, íntimo, numa cidadezinha no interior de Minas Gerais havia sido tua. Eu era apenas um convidado. Achei que não deveria questionar, afinal de contas, você é uma escritora experiente e eu, apenas um aprendiz. Também fiquei com receio de te contaminar com meus fantasmas. Apesar disto, algo me dizia para ficar atento a uma possível falta de público.