quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aos Leões...

Semana passada tive uma experiência muito interessante. Gostaria de recomendá-la. Existe um espaço na Câmara Municipal de Porto Alegre aberto à voz da comunidade chamado Tribuna Popular, onde o cidadão sobe ao púlpito e tem direito de expor suas idéias diretamente aos vereadores, que as escutam e podem também se pronunciar, se for o caso. Aproveitei a oportunidade e apresentei ao plenário uma palestra sobre o “Exercício da Ética”.



As sessões são abertas ao público, como não poderia deixar de ser, já que a Câmara existe e funciona como órgão representativo da sociedade. Sendo assim, convidei algumas pessoas para acompanharem o evento e observar o desenrolar da palestra, pois tinha curiosidade de saber como os vereadores receberiam o assunto “ética” quando este se confrontasse com o comportamento de alguns políticos.


Não fui o único a falar. Antes houve a manifestação de um líder comunitário a respeito dos constantes alagamentos que acontecem em sua vila e da ausência de providências por parte do Executivo municipal, que não conclui as obras necessárias. É sobre esta experiência que quero refletir.


A vila compareceu com quase 200 pessoas à sessão. Cidadãos humildes, que improvisaram faixas e cartazes, cotizaram-se para pagar passagens de ônibus e buscavam sensibilizar os vereadores para a precariedade de suas condições de habitação.


Depois da exposição do problema, os parlamentares iniciaram seus pronunciamentos. Cada representante de partido subia à tribuna e, dependendo de sua bandeira, acusava ou defendia o governo, fazia pronunciamentos calorosos, chamava o colega de demagogo, mostrava sua plataforma trabalho, ressuscitava escândalos e exigia réplicas, em uma seqüência que despertava manifestações públicas ora de vaias, ora de aplausos. Um verdadeiro show. Para alguns, até um circo.


Também é verdade que todos ofereceram seu apoio à causa e o máximo empenho em buscar uma solução emergencial para a vila. O fato que mais me chamou a atenção é que, durante quase 90 minutos, foi desenvolvido uma espécie de debate em que cada parlamentar justificava a ação de seu partido e aliados em prol da vila, acusando os demais de omissão, em um movimento exatamente igual a uma campanha eleitoral.


Não estou fazendo julgamentos, mas como mero observador (e como cidadão que vota) pude constatar muito discurso e pouca ação. Preocupação em autopromoção, justificativas e aplausos. O que não consegui ver nem sentir foi a união de esforços em torno de um objetivo comum, ou seja, o término dos alagamentos. Não sei como se sentiram os representantes da vila. Talvez tenham ficado satisfeitos, pois como na Roma antiga, assistiram a um grande espetáculo.


Ao final da sessão, tanto eu quanto meus convidados saímos com uma certeza: se os eleitores acompanhassem de perto as posições e iniciativas dos parlamentares que elegeram, teríamos um país mais sério, ético e acima de tudo, mais justo. A Câmara Municipal ainda está de certa forma mais próxima dos seus eleitores, mas imagine a Assembléia Legislativa, onde muitos dos que lá estão foram eleitos por pessoas do interior do estado, que jamais assistirão a uma sessão plenária em Porto Alegre. E o que dizer então dos deputados federais e senadores em Brasília? Talvez por este distanciamento, seja considerada uma Ilha da Fantasia.


E a vila? Provavelmente continuará com alagamentos quando vier a próxima chuva.
. Leia mais no site: http://www.ildomeyer.com.br/

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