Foi numa
terça-feira qualquer. O celular dele esquecido sobre a mesa vibrou. A tela
acendeu, uma frase curta com um nome que não era o dela: te espero nua para
jantar, tua Paula.
Ela leu, releu,
procurando um engano, um contexto que salvasse a situação, uma explicação que
fechasse a ferida antes mesmo dela sangrar. Mas não havia.
Nos dias seguintes, ela oscilou entre dois extremos: a raiva que a queimava por dentro e o amor que ainda insistia em segurá-la na relação. Vontade de ir embora, vontade de acreditar.
Ele chorou.
Pediu desculpas. Implorou. Jurou que foi um erro, que a outra não significava
nada, que não queria perdê-la, que nunca mais se repetiria.
Você
perdoaria uma traição? Muita gente responde imediatamente com um sonoro “não”,
carregado de moral e orgulho. Mas, na vida real, a resposta nem sempre é tão
clara. Alguns perdoam. Porque ainda amam. Porque acreditam no arrependimento.
Porque têm medo de ir embora.
Ela
queria acreditar, mas o problema já não era mais acreditar só nele. Ela
precisaria acreditar de novo em si mesma, na sua capacidade de se sentir segura
naquele mesmo abraço, que agora parecia estar cheio de espinhos invisíveis.
Traição
não é só sobre o beijo, a cama ou uma mensagem escondida. É sobre quebrar um
pacto silencioso. É perceber que, enquanto ela acreditava estar em um lugar
seguro, ele estava abrindo frestas para que outra entrasse.
Perdoar
é possível, mas ninguém fala do que vem depois. Perdoar exige mais do que amor. Exige uma
reconstrução tão intensa que, muitas vezes, deixa a pessoa mais exausta do que
livre.
O perdão não
apaga a cena que ela gostaria de desfazer e nem sempre traz de volta o que se
perdeu. E, mais cedo ou mais tarde, a
imagem da tela do celular, voltaria. Talvez numa discussão, talvez num
silêncio.
Sempre pode
haver um momento em que a memória vai entrar sem pedir licença. E quando esse
dia chegar, a imagem volta inteira, em alta definição, com todos os detalhes,
como se tivesse acabado de acontecer.
Ela
agora sabe que existem portas que podem ser abertas sem o seu consentimento. E
essa consciência pesa. Deita com ela. Acorda com ela. Vive entre o casal, mesmo
quando ninguém fala mais sobre isso.
O
amor até sobrevive à traição, a sensação de segurança, quase nunca. O amor
volta ferido, mancando, desconfiado, olhando para os lados como quem teme outro
golpe.
No fim, não é mais sobre perdoar a traição. É sobre viver sabendo que pode acontecer de novo. Porque o perdão pode até salvar a relação, mas nem sempre salva o coração.
Cada um se mata o suficiente para continuar vivo.
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