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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Você perdoaria uma traição?

 

Foi numa terça-feira qualquer. O celular dele esquecido sobre a mesa vibrou. A tela acendeu, uma frase curta com um nome que não era o dela: te espero nua para jantar, tua Paula.

Ela leu, releu, procurando um engano, um contexto que salvasse a situação, uma explicação que fechasse a ferida antes mesmo dela sangrar. Mas não havia.

Nos dias seguintes, ela oscilou entre dois extremos: a raiva que a queimava por dentro e o amor que ainda insistia em segurá-la na relação. Vontade de ir embora, vontade de acreditar.

Ele chorou. Pediu desculpas. Implorou. Jurou que foi um erro, que a outra não significava nada, que não queria perdê-la, que nunca mais se repetiria.

Você perdoaria uma traição? Muita gente responde imediatamente com um sonoro “não”, carregado de moral e orgulho. Mas, na vida real, a resposta nem sempre é tão clara. Alguns perdoam. Porque ainda amam. Porque acreditam no arrependimento. Porque têm medo de ir embora.

Ela queria acreditar, mas o problema já não era mais acreditar só nele. Ela precisaria acreditar de novo em si mesma, na sua capacidade de se sentir segura naquele mesmo abraço, que agora parecia estar cheio de espinhos invisíveis.

Traição não é só sobre o beijo, a cama ou uma mensagem escondida. É sobre quebrar um pacto silencioso. É perceber que, enquanto ela acreditava estar em um lugar seguro, ele estava abrindo frestas para que outra entrasse.

Perdoar é possível, mas ninguém fala do que vem depois.  Perdoar exige mais do que amor. Exige uma reconstrução tão intensa que, muitas vezes, deixa a pessoa mais exausta do que livre.

O perdão não apaga a cena que ela gostaria de desfazer e nem sempre traz de volta o que se perdeu.  E, mais cedo ou mais tarde, a imagem da tela do celular, voltaria. Talvez numa discussão, talvez num silêncio.

Sempre pode haver um momento em que a memória vai entrar sem pedir licença. E quando esse dia chegar, a imagem volta inteira, em alta definição, com todos os detalhes, como se tivesse acabado de acontecer.

Ela agora sabe que existem portas que podem ser abertas sem o seu consentimento. E essa consciência pesa. Deita com ela. Acorda com ela. Vive entre o casal, mesmo quando ninguém fala mais sobre isso.

O amor até sobrevive à traição, a sensação de segurança, quase nunca. O amor volta ferido, mancando, desconfiado, olhando para os lados como quem teme outro golpe.

No fim, não é mais sobre perdoar a traição. É sobre viver sabendo que pode acontecer de novo. Porque o perdão pode até salvar a relação, mas nem sempre salva o coração.

Cada um se mata o suficiente para continuar vivo.

 

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