Você encontra uma lâmpada mágica. Esfrega, rindo de si mesmo, só pra ver no que vai dar. Aparece um gênio. Descolado, estiloso, olhar afiado, com cara de quem já viu de tudo. Ele diz que você tem direito a um único pedido.
Aí começa o dilema, o que pedir?
Dinheiro? Saúde? Amor? Voltar no tempo pra consertar alguma coisa? Trazer
alguém querido de volta? Acabar com todas as suas dúvidas? Zerar os boletos, as
dores, os traumas, as culpas?
Será que existe um pedido que, de fato, resolva tudo? Existe esse lugar chamado plenitude onde finalmente nada mais falta?
Provavelmente você ficaria
satisfeito por um tempo com qualquer desses pedidos, mas em seguida surgiria a
sensação de que ainda falta algo. Sempre vai haver um “mas”, uma dúvida, uma
saudade. Esta é a teoria da incompletude. Porque o tudo e o todo são
inalcançáveis.
Crescemos achando que um
dia vamos chegar lá. Toda a verdade. Toda a felicidade. Todo amor. Toda
certeza. Toda a plenitude. Mas a real é que a vida não funciona assim. O todo,
por mais bonito que pareça, é uma miragem. Temos uma noção do todo, mas não
temos a vivência. Quando pensamos que estamos chegando perto, descobrimos que não
corresponde a nossa expectativa inicial.
A gente nunca tem o todo. A gente vive em partes. Em recortes, no intervalo entre o que queria e o que conseguiu. Uma fatia de alegria aqui, um gole de dúvida ali. E isso não é fracasso. Isso é humano.
Porém, nos ensinam a
buscar sempre o 100%. E no fundo, a vida acontece mesmo é nos 60%. Às vezes
40%. Por que precisamos ter cem por cento de plenitude em tudo? Essa busca
incessante pelo inalcançável é uma corrida sem fim. A falta, na verdade, faz parte
do todo.
Um casamento, por exemplo.
Você não casa com a versão perfeita do outro, alguém que te preencha por
completo. Você casa com a bagunça, as diferenças, os silêncios, as imperfeições.
Casamento é topar dividir o caminho mesmo com vazios de paciência, desejo,
tempo, saúde - e até amor que às vezes parece que desaparece ou se esconde por
um tempo. Se você não entender isso, sempre vai faltar algo no casamento e a
felicidade vai escapar por entre os dedos.
Diante
do gênio, talvez você perceba que não precisa de fortuna, nem certezas. Porque
ele já sabe que o pedido mais difícil de fazer é aquele que nos liberta da
necessidade de obter o impossível. Então você simplesmente pede a chance de
continuar escolhendo a mesma pessoa e ficar, dia após dia, junto da pessoa
amada. Mesmo nas quedas ou quando tudo parece desabar. Porque amor não se pede. Amor se dá e se
ganha.
E
nesse instante, você entende que o pedido mais verdadeiro é não pedir nada e
aceitar que o amor, assim como a vida, não se faz com promessas mágicas, mas
com presenças imperfeitas, vazios que se olham e silêncios que se respeitam.
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