quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Quem está no comando?


Certa vez uma fotógrafa me ensinou a sorrir. Explicou que para o sorriso ficar bonito, o segredo não era sorrir com a boca e sim com os olhos. É o brilho do olhar e não o branco dos dentes que transmite a beleza. Quem conhece um sorriso de verdade, sabe que nem todo palhaço é feliz. Se você olhar para a câmera e tentar enxergar por trás das lentes um amor, um sonho ou aquilo que faria você dançar no meio da rua, seus olhos vão transmitir graça e encanto. Nem é preciso sorrir, o olhar se encarrega da formosura.

Com a corrida acontece o mesmo. Não são as pernas que fazem correr, elas apenas nos transportam. Correr é muito mais que colocar um pé na frente do outro. Para correr é necessário ânimo, energia, determinação. O corpo é o veículo, mas o combustível é a paixão. Quando as pernas cansarem, experimente correr com o coração; provavelmente vai conseguir uma performance melhor, poderá contemplar a paisagem e até mesmo esquecer que está correndo. Quem treina por gosto não cansa, ama correr.


Um velho amigo brincava dizendo que era a cabeça do casal, mas sua esposa era o pescoço, que o fazia girar para um lado e para o outro. Esta diferença entre intenção e execução também acontece com a sexualidade. O órgão sexual mais importante de nosso corpo está localizado entre as orelhas e não no meio das pernas. O desejo sexual surge em primeiro lugar na mente, e sem a comunicação nervosa, fica impossível experimentar qualquer sensação, inclusive o orgasmo, que necessariamente não precisa de estimulo mecânico para ocorrer. O intérprete da sexualidade são os genitais, o roteiro fica por conta da imaginação, mas o protagonista final é o afeto.

Também com a religião o desalinho permanece. Quando se faz uma oração com palavras decoradas repetidas automaticamente, onde nem se sabe direito o que está sendo dito, a conexão não acontece e o culto se esvazia. A função de uma prece é a elevação da alma para se conectar a Deus. Conectar-se é estar ligado, relacionar-se. Envolver-se. Não é preciso palavra alguma para se vincular a Deus, somente se “deusligar” das coisas mundanas, deixar a alma livre e a Deus se ligar.

Se o olho não brilhar, o sorriso entristece. Se não existir paixão, o corpo se arrasta. Se não há afeto, o sexo vira instinto. Se a alma não conectar, a prece não se eleva. E com o amor, quem está no comando? Cérebro, coração, corpo, palavras, sentimento, alma, Deus?


3 comentários:

  1. Muito bom Dr.Ildo! Saudades de vc amigo querido!! Grande abraço

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  2. Carmen Polvora Li teu último! Bárbaro: Razão & Sensibilidade! Beijos!!!

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  3. ..."E com o amor, quem está no comando? Cérebro, coração, corpo, palavras, sentimento, alma, Deus?" Nenhum deles ou todos juntos, ou aquele atrevido que se pronuncia em primeira instância, não existe ordem nesta desordem de sentimentos. Venha como vier, mas que venha! Como sempre, algo interessante a se imaginar.

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