domingo, 9 de novembro de 2014

Meu problema não era a comida

Hoje não acordei bem. Senti um aperto na altura do estômago, uma sensação de saciedade e uma preguiça daquelas que nos aprisionam na cama. Olhei o relógio e vi que passavam das nove, mas não tinha a menor vontade de levantar. Queria mesmo era voltar a dormir pra ver se acordava melhor.

Não consegui. O pessoal que trabalha na pousada já estava circulando pelo corredor, especialmente dona Maria, que enquanto limpa os quartos, cantarola muito alto e faz alguns barulhos que me atrapalham o sono.

Além disso, fiquei pensando o que poderia ter causado aquele mal estar. Rolava na cama de um lado para outro enquanto tentava lembrar o que comera no dia anterior.

A noite havia sido ótima, não exagerei na comida nem na bebida. A única coisa diferente foi aquele vinho verde português servido durante o jantar. Tão logo vi aquele liquido verde na taça, estranhei a cor. O garçom percebeu minha estranheza mas foi esperto e atencioso. Rapidamente saiu explicando como era a fabricação e envasamento da bebida.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Um sim já bastaria!

Não quero te ver. Não tenho vontade de te beijar. Não controlo mais meus sentimentos. Não sei se é o correto. Não pergunte o que aconteceu. Não sei lidar direito com o amor. Não sei me entregar. Não me leve a sério.  Será que estas expressões refletem o fim de um relacionamento ou de um amor? Depende...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Para que serve a inteligência?

Você sabe o que é inteligência artificial?  Em geral nosso conhecimento sobre o assunto não vai muito além de pensar em algo parecido com um computador super inteligente. Na verdade, inteligência artificial ainda é uma mistura de sonho e realidade. 

A tecnologia já foi alcançada. Máquinas com capacidade de memória, raciocínio e argumentação superiores aos humanos estão disponíveis  em qualquer esquina, no entanto,  carecem de recursos emocionais. Até onde isto pode ser considerado inteligência? Como o próprio nome diz, são apenas máquinas que buscam dados armazenados e os combinam em alta velocidade.  

Cientistas buscam ir além e compreender o fenômeno da inteligência, procurando decifrar o modo como os seres humanos pensam e representam suas vivências.  Elaboram teorias e modelos matemáticos de inteligência e depois os transferem para dentro de computadores, com o objetivo de multiplicar a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, em última análise, ser inteligente.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Antes de adormecer o corpo, é preciso convencer a alma




Durante anos trabalhando como anestesiologista, acompanhei milhares de pacientes e aprendi que é possível planejar a qualidade do sono que lhes  é oferecido. No inicio da profissão, realizava o procedimento de maneira estritamente técnico-científica. Instalava um cateter no braço do paciente, injetava o anestésico, fazia-o dormir,  mantinha seus sinais vitais estáveis, e, finalmente,  acordava-o devolvendo-lhe o controle de sua vida. Fazia o papel de uma sentinela que zelava pela segurança física durante o sono involuntário.

De tanto observar o sono alheio, percebi que nem todos adormeciam da mesma maneira, e nem todos despertavam igual. Mas isto não tinha nada a ver com o tipo ou dose de anestésico que estava utilizando. O estado emocional dos pacientes é que fazia a diferença no  dormir e acordar.

Enquanto uns se entregavam ao sono, outros resistiam. Enquanto alguns dormiam serenamente, outros se agitavam. Enquanto outros aparentavam felicidade, outros mais estavam contraídos e lacrimejando. Aprendi também que se o sono for bom, o acordar é melhor ainda. O contrário também é verdadeiro, aqueles que vão dormir intranqüilos, não terão paz e o sono será um verdadeiro castigo. Acordarão massacrados e enfrentarão um péssimo dia seguinte. Quem dorme com dúvidas, passa o dia sem certezas. Por conta de tudo isto, passei a encarar o sono como algo sagrado e me preocupar com o ritual da entrega ao sono. 

sábado, 24 de maio de 2014

Menos face, mais look


Mensagem recebida pelo Facebook: “Fiquei feliz em te ver no restaurante. Estás muito bem!”

Resposta ao amigo: “Querido Carlos, por que não vieste conversar comigo? Somos amigos e eu também ficaria muito feliz em te rever, trocar um abraço e algumas palavras. Dá próxima vez, deixa de lado o computador, a  rede social e senta comigo. Vai ser mais divertido.”

Estamos sendo dominados e virando prisioneiros da tecnologia que nós mesmos criamos. Só que a prisão não é uma cela pequena e escura onde ficamos isolados. Pelo contrário, é uma tela que nos oferece um  universo sem fronteiras, repleto de distrações e amigos virtuais. Podemos com um pequeno computador realizar mil atividades diferentes e concomitantes. Mandar e receber e-mails, mensagens, torpedos, assistir televisão, ver filmes, realizar buscas, namorar, fazer sexo, conectar com pessoas do mundo inteiro.

Entretanto, apesar da suposta liberdade, a pena é a mesma: Isolamento em uma vida pequena, trancada na solidão de uma telinha e amarrada a uma rede social virtual que prefere mostrar fotos e não emoções,  conversa horas sem contato visual, curte sem ao menos ler o que está escrito, cruza por você na rua e nem lhe cumprimenta.  Criamos telefones inteligentes e nos tornamos burros.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Como identificar alguém especial

Nem todas as pessoas que cruzam por nossas vidas são iguais. Algumas vão se tornar muito importantes; outras vão passar e não deixarão nada, nem lembrança. Mas, de vez em quando, surge alguém com uma britadeira na mão, fura um buraco bem fundo em nossa frente, finca uma bandeira e mostra que veio pra ficar.

Traz uma mala grande e pesada cheia de espontaneidade, paz, poesia, humor, amizade, companheirismo, amor e  se instala definitivamente em nossas vidas. Essas pessoas são especiais e difíceis de encontrar. Como identificá-las?

Chegam de mansinho, por casualidade, sem aviso, sem cartão de visita, sem intenção ou obrigatoriedade de agradar. Não usam máscaras ou carapuças. Não são perfeitos e não fazem o menor esforço para se tornarem especiais, simplesmente são. Atrasam-se, dormem assistindo filmes, detestam ar condicionado, deixam queimar o risoto de limão siciliano, tem um dedo meio torto, mas são pessoas por quem vale a pena relevar os defeitos.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Desculpa, foi engano.

Depois de tudo o que vivemos, precisamos ter a sobriedade de ser honestos com nossos próprios sentimentos e admitir que apostamos em nos amar, mas ficamos longe disto.  Foi bom, mas não foi amor.  

Preocupado em não mais repetir o erro, revisei a literatura e descobri que não existe um gene especifico do amor, que dotaria alguns felizardos com esta capacidade e impediria outros. Não se nasce carimbado ou proibido de amar. Ainda bem, estamos salvos. Amor se aprende, constrói, cria, sente. Amor não é complicado para surgir, mas pode ser difícil de manter.

A vida me ensinou que se pode amar várias pessoas ao mesmo tempo. Amo meus pais, meus irmãos, meus amigos. Mas amo do meu jeito e com cada um fui criando um código diferente de amor.

Acontece que amor fraternal é uma coisa e amor entre um casal é outra. A diferença é mais ou menos como andar de carrossel ou de montanha russa. Num você sobe quando criança e fica dando voltinhas sem maiores riscos ou emoções, no outro você só pode entrar um pouco mais crescido, e no inicio, precisa se amarrar prá não cair. Se der certo e aprender a andar, é mais seguro que carrossel e mil vezes mais emocionante. Mas não é para todos. Amor não é o que faz o mundo girar, isto é bebedeira ou labirintite. Amor é o que faz o giro valer a pena.

segunda-feira, 31 de março de 2014

FRAGMENTOS DE AMOR, SEXO E POESIA


Como você se conecta nos ambientes e nas pessoas para escrever seus contos?

É mais ou menos como sintonizar uma estação de rádio. Você tem uma possibilidade enorme de emissoras e programas, mas você sabe bem o que quer escutar. Vai girando o dial. Escuta uma música que lhe incomoda os ouvidos, passa por um comentarista que não fala nada que lhe interesse, pula a estação que só apresenta desgraças, até que finalmente encontra aquele programa que estava procurando ou algum outro que lhe prendeu a atenção.

A partir dali, você pode escolher entre voltar a fazer as outras coisas que estava fazendo (dirigir o carro, cozinhar, escrever, fazer amor) ou ficar prestando atenção à entrevista que está no ar, deixar-se envolver pela música que está tocando, imaginar-se dentro da narrativa que está sendo apresentada...Em outras palavras, você pode escolher sintonizar “o” programa de rádio ou se sintonizar “com” o que está acontecendo no programa de rádio..

Quando entro em um café como este, me sintonizo neste ambiente. Por exemplo, presto atenção naquela senhora sentada ao fundo do salão. Pelo modo como ela segura a taça de chá, vira as páginas da revista, suspira de vez em quando, fecha os olhos, fica pensativa, posso quase que com certeza dizer que ela está lendo algo relacionado a alguém que gosta muito. Veja como acaricia a revista, como transmite uma sensação de paz...

Conecto-me naquela situação e na senhora, sintonizo-me ali e consigo percepcionar aquilo que meus sentidos estão me mostrando. Não me transformo nela, mas a sinto.

E como você transforma isto em palavras?

Não transformo. Escrevo aquilo que estou sentindo. Às vezes nem é o que estou vendo. Não procuro palavras bonitas nem frases de efeito. Aquilo que escrevo reflete a minha pessoa naquele momento.  Neruda escreveu uma vez que se lhe perguntassem o que é sua poesia, não saberia dizer; mas se perguntassem à sua poesia, ela lhes diria quem era ele.

Quando você ler algo escrito por mim e se me conhecer um pouquinho, não terá a menor dúvida que fui eu quem a escreveu. Assim como um pai têm certeza que o filho é seu, assim a poesia é identificada com seu criador.

Como você sente o amor?

segunda-feira, 17 de março de 2014

ADÃO E EVA CONTEMPORÂNEOS

A história é bíblica, acredite se quiser. Eva não veio ao mundo por acaso. Existia um propósito: partilhar a vida. Já pensou? Adão estava lá sozinho. De repente surge alguém para conversar, brincar, trocar, ajudar... Na verdade, acho que pra ajudar não era o caso, eles tinham tudo que precisavam.

O certo é que a vida no paraíso ficou bem melhor depois que Eva apareceu. Como foi a passagem do status de amigos para casal não sei dizer. Só existiam os dois e convivendo juntos, todos os dias, naturalmente algo haveria de acontecer. Nada, nem ninguém para atrapalhar. Nem mesmo vergonha eles sentiam. Posso imaginar vários modos de aproximação, e todos, sem exceção, nada angelicais. Fizeram sexo, gostaram, repetiram, desfrutaram.

Não estavam mais sozinhos. Perceberam que um tinha ao outro para abraçar quando o mundo parecia grande demais.  Vamos dar um nome para este tipo de relação? Amor.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Preso por vontade própria

Depois do lançamento do livro, voltei para meu quarto, mas estava sem sono. Peguei um bom tinto que estava na geladeira, sentei na cadeira de balanço, abri a garrafa, enchi meia taça e enquanto o vinho respirava, fiquei olhando a lua através da lente formada pelo vidro contendo o liquido de cor escura.

Era noite de lua cheia, passava da meia noite, o silêncio indicava que a cidade estava dormindo e o único som que escutava, era uma coletânea de fados que havia ganho de um amigo e tocava suavemente no computador.

A lua se escondia por trás do vinho, mas conforme o balanço da taça, a fazia aparecer e desaparecer. Brinquei assim por uns bons minutos enquanto pensava nas coisas que pareciam estar anestesiadas em mim e começaram a despertar e também se fazer ver durante a viagem.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Motivos para se desapaixonar

Sempre fui apaixonado por futebol. Acho até que era um tanto fanático pelo meu clube, o Internacional de Porto Alegre.  Ia ao estádio assistir todos os jogos, com chuva, frio ou vento forte. Ganhando ou perdendo, estava lá para ver meu time jogar e torcer por uma vitória.

Aos poucos fui perdendo o interesse, a ponto de hoje não assistir nem aos jogos transmitidos pela televisão. Mas a apatia não foi sem motivo. O futebol se profissionalizou demais, virou muito mais técnica que talento. O amor pela camiseta e a garra que marcaram minha infância já não são os mesmos. E quando as coisas deixam de ser feitas por amor e paixão e o dinheiro passa a ser o combustível, a graça e a beleza murcham como flores sem água no deserto.

Meu fascínio pelo futebol acabou, mas lá no fundo ainda ficou a lembrança dos bons tempos e o desejo de resgatar a paixão de ir à campo vestindo a camiseta do clube, pintar o rosto com a cor vermelho-paixão e voltar orgulhoso ao final da partida com o show de bola que “meu” time apresentava. Tenho muita vontade de conversar com jogadores e técnicos sobre futebol arte, competição e filosofia no esporte. Resolvi postar algumas idéias na internet. Quem sabe o poder viral as dissemine e de uma maneira indireta possa atingir meu objetivo.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Por que o lançamento do livro aconteceu em uma vila

No dia do lançamento do livro, estava preocupado. Parecia até que o autor era eu. Nunca havia comparecido a uma sessão de autógrafos restrita a pouquíssimos convidados. Imaginava uma sala quase vazia onde o autor, depois dos trinta minutos iniciais de movimentação de pessoas, restaria isolado, apoiado em uma mesa, torcendo para que mais alguém entrasse na livraria. Depois de mais uns trinta minutos de espera e solidão disfarçada, encerraria a sessão com a sensação de vazio.

Não gostaria que isto acontecesse contigo e gastei várias horas pensando estratégias de preencher física e emocionalmente a livraria. A idéia de fazer o lançamento em um local pequeno, íntimo, numa cidadezinha no interior de Minas Gerais havia sido tua. Eu era apenas um convidado. Achei que não deveria questionar, afinal de contas, você é uma escritora experiente e eu, apenas um aprendiz. Também fiquei com receio de te contaminar com meus fantasmas. Apesar disto, algo me dizia para ficar atento a uma possível falta de público.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A tartaruga que nos habita



Quando comecei a correr, fazia por esporte. Mais tarde, descobri que além do benefício saúde física, a corrida me deixava tranqüilo, bem humorado e inspirado para a vida. Não sei explicar como funciona, mas a sensação que tenho é que à medida que me desloco para frente, as preocupações vão ficando para trás.

Funciona como uma terapia alternativa. Se alguma ansiedade começa a incomodar, coloco o tênis, calção, boné e saio trotando. Troco percursos, inverto o sentido das ruas, acelero o passo, desço ladeiras. Preciso estar em movimento. Quase sempre, depois de uns 30 minutos de corrida, já me sinto bem melhor, sem apreensão alguma.

Aproveitando esta experiência do bem estar promovido pela corrida, decidi fazer um movimento diferente. Uma viagem sem destino fixo, sem horários e sem data para voltar, com todas as estradas que o mundo oferece abertas. Meus únicos compromissos seriam deixar a vida me levar e dar espaço para as emoções escolherem o melhor caminho.